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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A História Não Contada: produzindo discos do U2 no Brasil na década de 80


Produção Cultural no Brasil IV

Os depoimentos reunidos nestes livros são esclarecedores e tocantes. São testemunhos de como se realiza a arte e a cultura no Brasil, não apenas nos anos mais recentes, mas ao longo das últimas décadas. A escolha dos entrevistados reflete esse interesse comparativo e reflete a disposição de ouvir diferentes gerações, profissionais de múltiplas procedências, com variada formação, variadas trajetórias e experiências complementares.

Luiz Calanca - Proprietário da loja de discos Baratos Afins (Galeria Do Rock - São Paulo)

"O Arnaldo Baptista (dos Mutantes) é que acabou me infiltrando nessa coisa de produzir discos. Na época, tinha a censura federal, tinha que expor o disco ao departamento de censura, tinha que ter aquele cadastro de gravação. Era preciso ter uma empresa, não era qualquer um que ia lá e fazia o disco. Tinha que ter toda uma documentação para aquilo. A gente superou tudo isso para poder fazer o disco, aí não tinha mais sentido parar. Eu queria ser diferente das outras lojas, porque quando eu comecei na Galeria, logo veio a concorrência. E aí eu ficava incomodado com aquilo. Eu não queria ser mais um. Então pensei em fazer edições de coisas raras.
O Joy Division tinha uma música chamada "Love Will Tear Us Apart", que era a mais famosa, o hit. Todo mundo só queria aquela música, mas a gente queria lançar um álbum e não um single ou coisa assim. Então eu peguei o 'Closer', que na minha opinião é o disco mais legal deles, adicionei a "Love Will Tear Us Apart" e tirei trezentas cópias. Cheguei a vender bem, até. Então o pessoal do selo Stiletto pediu para que eu fizesse do Bauhaus também. Era assim: se desse certo, eles lançavam, se não desse, eles ignoravam, mas os caras eram meio picaretas, então me afastei. Eu me envolvi num outro caso assim com o U2. Fiz um disco pirata deles chamado 'Two Sides Live', mas nós tínhamos autorização do manager da banda. Na época, a polícia queria me extorquir e eu fiquei birrento, não queria dar dinheiro para a polícia. Eles diziam que nós éramos piratas, e eu dizia que não, que estávamos legais. Eu também era barômetro do Aluísio Motta, que era diretor da Warner. Barômetro não, quase um assessor. Eu ficava indicando que discos venderiam mais, se era legal lançar ou não. Indiquei 13 títulos e ele acabou estourando com um do U2 chamado 'The Unforgettable Fire'. Até aí eu já tinha ido umas dez vezes para o fórum, para aquelas audiências, aquelas diligências acompanhando os advogados. Todo dia eu ia com uma camisa do U2 nova e o juiz me discriminava. Eu queria mostrar que a banda estava lançando disco e ganhando dinheiro por causa da gente, do disco que a gente tinha lançado, mas ninguém queria saber disso. Até que o Aluísio me mandou uma carta agradecendo, dizendo que graças a mim tinha achado um novo nicho de mercado, tinha vendido oitenta mil cópias do 'The Unforgettable Fire'. Eu mostrei a carta ao meu advogado, que anexou nos autos do processo e fez o juiz encerrar o caso. Eu acabei virando amigo do Aluísio, até auxiliando em alguns títulos da Warner depois. Só que eu nunca ganhei nada com isso."

Então em março deste ano, foi postado no Facebook da loja de discos:

"O superintendente da Warner Music de Londres, Philip Burrows, em visita à Baratos Afins, estava acompanhado de ( da esquerda para a direita) Gian Ucello, da Warner Brasil, Oksi Odedina e Nau Gadhvi. Philip veio conhecer nossa loja e depois de saber toda história, comprou o álbum do U2, 'Two Sides Live', um bootleg da banda lançado no final dos anos 80 pelo nosso selo. A conversa foi sobre projetos da companhia, mas ainda é segredo."
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