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sábado, 7 de abril de 2018
Os bastidores da passagem do U2 pelo Centro de São Paulo
O sociólogo Tom Dwyer, professor da Unicamp, é marido da proprietária do Drosophyla Bar, Lilian Malta Varella, e foi um dos anfitriões do U2 na passagem do grupo pela cidade na sexta feira, 20 de Outubro de 2017 (os dois aparecem na foto acima). Neozelandês de origem irlandesa, ele conta neste texto, que escreveu para o projeto A Vida no Centro, como foi a passagem do grupo pelo centro de São Paulo. E sobre o que ficaram conversando enquanto os irlandeses tomavam uma cerveja no bar da Rua Nestor Pestana.
Em São Paulo os integrantes do U2 demostraram mais uma vez sua afinidade com as regiões centrais das cidades e metrópoles. Na cidade para a turnê The Joshua Tree, no primeiro dia de folga que tiveram na capital paulista, na sexta-feira, dia 20 de outubro, passaram uma boa parte do dia na região central da cidade, na República.
Poucos sabem, mas Bono e The Edge são donos de um patrimônio histórico no centro de Dublin. Quando compraram o Clarence Hotel, em 1992, toda a região de Temple Bar estava em processo de recuperação de uma forte degradação urbana. Restauraram o hotel, montaram um belíssimo bar no subsolo e assim contribuíram com a recuperação da região, que hoje virou a principal opção de lazer na capital irlandesa para dublinenses e turistas.
Adam Clayton, o baixista do grupo, escolheu para almoçar a premiada Casa do Porco. Almoçou com um dos mais importantes artistas plásticos do mundo Ai Wei Wei – que tinha vindo a Sampa para a Mostra Internacional de Cinema.
O Edifício Copan – projetado por Oscar Niemeyer na década de 1950 e tombado pelo patrimônio histórico em 2012 – foi escolhido para uma canja e uma sessão de fotos. Os integrantes do U2 subiram até o terraço, de onde se avista toda a parte central da maior cidade no hemisfério sul, assim como o espigão da Avenida Paulista, o vizinho Terraço Itália, o Edifício Matarazzo e a Serra da Cantareira. Bono me contou que, lá do alto, ouviram as batidas de uma festa em algum lugar! Tocaram música e tiraram fotos até anoitecer.
Quando desceram uma van estava esperando para levá-los a outro patrimônio do centro, o Bar Drosophyla, na rua Nestor Pestana, para tomar umas cervejas e mais uma sessão de fotos. Porém, a festa que tinham ouvido lá do alto estava ainda a pleno vapor (era a Peruada, festa da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco), causando engarrafamentos e a viagem de 10 minutos de van arriscava se transformar em uma viagem de uma meia hora. Explicamos ao chefe irlandês da equipe de segurança, que aguardava no bar, que se tratasse de qualquer ministro, embaixador ou chefe de estado que não fosse brasileiro, iríamos sugerir que fossem a pé do Copan até o bar. Dissemos que, ao contrário da má fama, a área era bastante segura, que tinha policiamento e excelentes estatísticas de segurança pública. Assim, o U2 abandonou a van e caminhou – Bono resolveu brincar que estava perdido e filmar tanto na Avenida São Luis quanto na Rua Nestor Pestana, o que rendeu mais que meio milhão de 'likes' no Instagram da banda. Ao chegar no Drosophyla, saiu uma enxurrada de questões sobre a época de construção, os materiais e as madeiras usadas, e observações que só quem já restaurou um edifício histórico faria. Finalmente o U2, que tinha feito parte de nossas vidas, estava na 'nossa casa', muito anos depois da gente ter visitado o Hotel Clarence e o bar deles em Dublin! Agradecemos jocosamente a reciprocidade da visita, tomamos cervejas e eles começaram a intercalar sessões de fotografias com questionamentos sobre a política brasileira, sobre ser dono de bar, nossas relações com Irlanda, e outras tantos assuntos. Foi tudo tão gostoso que a visita acabou se esticando além do tempo previsto…. Felizmente não perguntaram sobre os subsídios que o governo municipal ou federal deu para nosso esforço de restauro (ao contrário da política na Irlanda, nós não tivemos nenhuma ajuda!). Muito simpáticos, inteligentes e sem nenhuma frescura, a impressão que ficou é de que compartilhamos vários dos mesmos valores – a valorização dos centros das cidades (apesar de todos seus problemas), o patrimônio histórico, o belo, uma boa conversa, uma geladinha (a brasileira Cerpa no caso) e a vida! E também o rock n roll!
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