Daqui dois dias, o U2 subirá ao palco no BOK Centre de Tulsa e iniciará sua eXPERIENCE + iNNOCENCE Tour 2018. É o ponto culminante dos meses de ensaio, embora eles originalmente tenham previsto iniciar isto logo após o final da iNNOCENCE + eXPERIENCE 2015. Mas isso foi antes de eles decidirem celebrar o aniversário de 30 anos de 'The Joshua Tree' com uma turnê mundial. Foi antes também de Bono ter seu "toque com a mortalidade" que ainda não se sabe o que ocorreu, que fez a banda retrabalhar drasticamente 'Songs Of Experience', seu mais novo LP.
Apesar de tudo o que aconteceu no mundo do U2 nos últimos três anos, a eXPERIENCE + iNNOCENCE Tour 2018 inicialmente parece muito familiar para qualquer um que tenha visto o grupo na iNNOCENCE + eXPERIENCE 2015. Eles estão usando basicamente o mesmo palco, embora tenha muitos novos atrativos que surgem ao longo da noite - começando com uma Realidade Aumentada no número de abertura visível para qualquer um que tenha o aplicativo U2 Experience em seu celular.
Durante os insanos últimos dias antes da noite de estréia, o diretor de longa data do U2, Willie Williams, telefonou para a Rolling Stone para falar sobre o show.
Na época em que você concebeu pela primeira vez as turnês iNNOCENCE + eXPERIENCE e eXPERIENCE + iNNOCENCE, você sabia que seriam duas turnês separadas com uma grande diferença entre elas?
Não. Esse não era o plano. Mas algumas coisas aconteceram. Essa coisa toda começou com uma grande reunião com toda a equipe criativa e a banda em seu local no sul da França. Nós tivemos um fim de semana para realmente entrar nisto. Foi na verdade cinco anos atrás. [O arquiteto de palco do grupo] Mark Fisher [que morreu em 2013] estava presente, então olha há quanto tempo isto aconteceu. Nós realmente entramos nisso. Eles estavam tocando a nova música para nós e dizendo para realmente trabalhar em cima dessa ideia de Inocência e Experiência e as duas jornadas. Eles foram muito claros sobre a primeira viagem, que eram adolescentes crescendo em Dublin em um mundo violento e estando em seu quarto e olhando para o mundo lá fora pela janela e tentando descobrir como se encaixar nisso. Isso parecia claro.
Sempre sentimos que, de alguma forma, a parte dois seria a jornada de volta para casa quando você saiu no mundo. Houve várias coisas que surgiram. Uma delas foi um par de frases, onde a primeira foi tirada de [canção de 1981] "Rejoice": "Eu não posso mudar o mundo, mas posso mudar o mundo em mim". Esse é o tipo de atitude que eles tinham quando eram adolescentes, o que não é incomum. A frase companheira é quando você é adulto, especialmente um adulto com alguma influência como eles são, e é "eu posso mudar o mundo". De alguma forma você pode mudar o mundo. Você percebe que, dada a condição humana, você não pode mudar o mundo em você.
Essas duas linhas faziam parte da narrativa inicial. A primeira parte da jornada estava lidando com a violência do lado de fora. Então, quando você é um adulto, é mais sobre lidar com a violência e as coisas que estão dentro de você, quem você é. Todas essas coisas surgiram. Passamos o fim de semana mais maravilhoso com eles contando histórias sobre crescer na mesma rua e todo esse tipo de coisa. Sharon Blankson, que cresceu com eles, estava lá. Ela é a estilista deles e está na nossa equipe criativa. E Gavin Friday estava lá e ele cresceu com eles. Eu vim de uma situação não diferente. Eu cresci em Yorkshire [Inglaterra] na década de 1970. Nós somos exatamente da mesma idade, tipo semelhante de posição social. Houve uma enorme ressonância.
O que tem sido notável é que algumas das suas histórias e ideias e as coisas que surgiram, as imagens que produzimos, no final colocamos todas num grande álbum de recortes. Sou eu, Devlin e Rick Lipson, da equipe de criação. Na verdade, fizemos um scrapbook físico, já que estamos cansados de fazer desenhos CAD [desenho assistido por computador]. Esse scrapbook tem sido, ao longo de cinco anos, uma fonte contínua de inspiração. Mesmo para este show, voltamos e olhamos para as coisas de que falamos. Tem sido, sem dúvida, a narrativa mais coerente de qualquer turnê em que trabalhei com o U2 ou qualquer outra pessoa. Isso tem sido ótimo.
Quais foram as ideias originais?
Inicialmente propus que fizéssemos uma trilogia de shows, três shows em três noites diferentes. Isso foi rapidamente reduzido a dois shows, o que fazia mais sentido. Era a jornada para fora e a jornada de volta para casa. Inicialmente, pensamos que faríamos uma turnê onde teríamos pares de shows em cada cidade com a noite um e a noite dois, onde a noite um seria a Inocência e a noite dois a Experiência. Claro, ficou óbvio que para isso teriam que tocar uma enorme quantidade de material inédito. Muitas das músicas de Experience estavam muito ainda em formação.
No final, pensamos que a coisa certa era fazer no primeiro ano o Innocence, e o Experience no ano seguinte. Então, com uma coisa e outra e com a vida atrapalhando, um ano se tornou dois anos e então surgiu a ideia de celebrar o The Joshua Tree. Isso ia ser um par de shows de comemoração e se transformou em uma turnê de estádio de um ano. A vida ficou um pouco corrida. Eu sorri quando percebi que se você contar a turnê de celebração de The Joshua Tree, que de alguma forma se tornou parte dessa narrativa, acabamos fazendo a trilogia dos shows. Mesmo as coisas que pensávamos ter ido embora ainda estavam lá.
Tem sido realmente ótimo ter uma estrutura conceitual tão poderosa e uma narrativa tão forte para trabalhar porque a grande questão eterna em tantos shows de rock, não tanto com o U2, é que você pode criar algo maravilhoso e a pergunta que nunca se tem resposta é: "Por que isso estava lá?" Obviamente, a iconografia e a narrativa da maioria dos shows de rock e pop é completamente arbitrária, enquanto essa tem sido muito mais sobre narrativa. Pode ser um pouco clichê, mas é mesmo. Agora estamos de volta para terminar a história.
Como sua concepção da parte Experience da turnê mudou nos últimos anos?
Se tivéssemos saído em 2016 com a parte da Experiência, tenho certeza de que teríamos usado exatamente o mesmo palco e contado a segunda parte da história. Mas, com o passar do tempo, a tecnologia se desenvolveu a uma velocidade tão extraordinária que podemos fazer mais agora. Além disso, já que estamos voltando [depois de três anos], não poderíamos ser exatamente iguais. À primeira vista, parece exatamente a mesma coisa, mas tudo é muito mais avançado do que era.
Há poucas coisas mais chatas para se falar do que telas de vídeo, mas a tela que estamos usando é quase 10 vezes a resolução do que a tela que usamos há apenas três anos. Também é 40% mais transparente. Eu não sei como isso é possível, mas esse é o tipo de taxa que as coisas estão desenvolvendo. E com a tela de The Joshua Tree sendo tão incrivelmente em alta resolução, é bom voltar para esta turnê com uma tela realmente nítida. Melhoramos por causa da tecnologia que se desenvolveu e porque podemos fazer essas coisas, e em parte porque precisávamos de outras ferramentas para continuar a narrativa.
Quando se entrar na arena, o palco ficará muito parecido com o que era em 2015?
Parece ser o mesmo, sim. Obviamente, estamos preservando o que chamamos de Innocence Suite, que é o núcleo da narrativa, a parte da Cedarwood Road. Nós preservamos isso como uma peça, porque obviamente isso é muito importante na narrativa. Mas cerca de 75% do show é novinho em folha.
Depois, há o aplicativo com o componente de Realidade Aumentada para o show.
De fato! Isso surgiu apenas através da curiosidade tecnológica, realmente. É engraçado. Nós olhamos o que veio a ser conhecido como Realidade Aumentada para a turnê 360°. Nós realmente tentamos fazer algo, que agora veio a se tornar a Realidade Aumentada. Nós construímos uma jaqueta para Bono que tinha marcadores nela e na câmera você teria uma animação para isto. Nosso modelo para isso foi o vídeo de Peter Gabriel "Sledgehammer". Naquela época, há oito anos, dada a escala de fazer isso nos estádios, não era viável. Mas esse tipo de coisa, poder brincar com imagens ao vivo, está em nossas mentes há muito tempo.
Eu comecei a olhar para isso provavelmente há alguns anos atrás. É claro que a Realidade Aumentada no telefone é bastante comum agora, mas fiquei intrigado em fazê-lo em larga escala. O ponto principal de um show de rock é que é uma experiência comum. Normalmente você teria seu rosto preso em seu telefone, então queríamos transformá-lo em uma experiência que você compartilha com milhares de outras pessoas ao mesmo tempo. Isso pareceu bastante intrigante. Não é de forma alguma a espinha dorsal do show, mas é outra ferramenta para contar histórias. Quando você vê isso no contexto, você entenderá a parte da história que está sendo contada.
Havia duas preocupações que eu tinha sobre isto. Uma foi, eu só não queria estar nessa situação onde de repente na tela há algo que diz: "Ok, pessoal, desliguem os telefones. Pressione o botão vermelho". Nada estraga a vibe de uma performance mais do que a emitir instruções. Além disso, é claro, eu suponho que há um pouco de ironia em que a ruína de entretenimento do século 21 é que ninguém está assistindo. Todo mundo está apenas olhando para seus telefones. E por isso é um pouco de ironia de que há uma parte do show que você só pode ver olhando para o seu telefone. De alguma forma, ele realmente me lembra um clima de quando nos aproximamos da primeira grande escala de telas de vídeo para a Zoo TV. Até aquele momento, o U2 tinha absoluta certeza sobre a autenticidade e a experiência ao vivo e não queria que as câmeras atrapalhassem. Mas naquela turnê, eles eram o centro de todo o processo e os primeiros 15 minutos da Zoo TV, era impossível olhar para a banda, porque havia muita coisa acontecendo. De certa forma, existe uma coisa parecida, porque está dizendo: "Se você for olhar para o seu telefone, vamos dar a você algo para ver que faz parte da narrativa, em vez de apenas fazer um filme que ninguém nunca vai assistir".
Outra parte disso é que este é o ponto do pré-show para você descobrir como usá-lo e você não estará perdendo a primeira música para descobrir como usar o aplicativo. Então quando termina, a história continua, não é a espinha dorsal do show. É muito mais um detalhe, mas acrescenta à narrativa de uma forma que eu não acho que qualquer outra coisa faria.
É muito aborrecimento ir a um show e lidar com todos ao redor em seus telefones o tempo todo. Nesses shows, espero que depois que as pessoas usarem os telefones para a primeira música, eles os coloquem de volta em seus bolsos.
Eu tive alguns pensamentos sobre isso. Uma delas era que o aplicativo iria seguir seu curso e então iria travar o seu telefone. Isso foi um. Ou isso sugaria a vida da bateria até o ponto em que você não poderia usá-la. Mas depois pensei nas ações judiciais, na reputação ... [risos]