Bono era o oposto dela. “Eu a evitei por anos”, ele fala, “porque eu pensava ‘Ahh, de onde ela vem?’. E então anos depois, eu realmente descobri essa coisa de que as pessoas que sofreram muito em suas vidas não estão em pubs falando sobre isso. Pessoas que não sofreram – mas estão na fila por mais! (risos) – que você encontra em pubs falando sobre isso”.
Yates era selvagem na forma mais estranha. Esperta e briguenta, ela gastou sua vida inteira tentando se passar por uma loira volúvel. Mas havia substância ali, e como a vida de Paula se movia através de sua própria marca de celebridade, apresentando ‘The Tube’ e ‘The Big Breakfast’ na televisão britânica, durante o qual ela se apaixonou por Michael Hutchence do INXS, seu caminho se cruzava com o de Bono com frequência.

Tanto o término de seu casamento quanto a briga pela custódia de sua filha foram colocados para fora do brilho total dos holofotes dos tablóides. Então seu romance com o glamouroso e imperfeito frontman do INXS era, uma história que por si só assumia uma feição ainda mais trágica.
Excesso era o que definia qualidade em suas vidas. Bebida e drogas era o lugar a que eles se davam o luxo, muitas vezes custando sua estabilidade e confiabilidade. Que traumas e inseguranças podiam ter atormentado Hutchence e seu par, nós podemos apenas especular.
Ainda continua sendo um choque, mesmo aqueles que eram próximos a ele, quando Hutchence foi encontrado morto em seu quarto no Hotel Ritz Carlton em Double Bay, Sydney, em sua terra natal, Austrália. Paula agarrou-se desesperadamente na fé – a qual ela encontrou conforto – que ele tinha morrido acidentalmente, estrangulado e asfixiado no decorrer de algum tipo de experiência auto-erótica. Mas Bono faz uma leitura diferente disso.
Ele tinha conversado com Hutchence anteriormente sobre suicídio, e eles tinham concordado como isso era patético. Agora Bono sentia raiva diante da probabilidade de Hutchence ter escolhido o que poderia ser visto como a saída mais fácil. No auge da sua raiva, não muito depois de ele ter ouvido a notícia, ele escreveu ‘Stuck In a Moment You Can’t Get Out Of’, uma música que ele descreve como sendo um bate-boca entre amigos. “O maior respeito que eu poderia dedicar a ele”, Bono reflete, “não era escrevendo alguma música estúpida, sentimental e piegas”. Ao invés disso ele escreveu o que ele descreve como um duro, sórdido, pequeno número que, na conta de Bono, golpeia na cabeça seu velho amigo perdido por ter tido a ousadia – ou a fraqueza – para fazer isso a si mesmo. “Como alguém dopado e você está tentando acordá-lo”, ele diz, “porque os policiais estão vindo e eles estão dormindo ao volante e você está para tirar eles do carro porque vão bater”. Mas a música não chega a ter que explicar todos os caminhos, soando em alguns momentos mais como um apelo por escrito do ponto de vista de Paula Yates, como ela tenta lutar com a perda de seu amante dos amantes.
O verso de abertura é claramente a voz de Bono e oferece uma oportunidade para uma declaração de intenções sobre o álbum 'All That You Can’t Leave Behind, que define a crucial diferença entre o mesmo e seu predecessor, 'Pop'.
Na ponte, o espectro da reação de Yates diante da morte de Hutchence – e, finalmente, de seu próprio falecimento - paira. “I was unconscious, half asleep/the water is warm till you discover how deep...”, e corre, “I wasn’t jumping...for me it was a fall/ It’s a long way down to nothing at all”.
Seja de quem for a voz implícita, se Bono ou Edge – que recebe o crédito de co-autor – invocou linhas particulares entre eles. Eles fizeram justiça a Hutchence e Paula ao criar uma das melhores canções pop do U2. Essa é uma faixa de grandeza épica que encontra um pouco de sua persuasiva força no uso da linguagem familiar do pop – o descartável beatle - com ‘my on my’ na conclusão do segundo verso, e o fácil ‘baby’ no primeiro. Mas todos sabiam sobre o que era a música e havia um sentimento de que era preciso um final gospel para dar a sensação de resolução – de aceitação e alívio. Edge veio com a letra e bingo! “É algo que nós sempre quisemos fazer”, Daniel Lanois relembra, “ter uma espécie de canto de coral. Nós tentamos algumas variações nela e terminamos com o que tínhamos. É o tipo de coisa que você pode facilmente levar para um coro - você pode imaginar cantores que ficariam felizes em cantar em um disco do U2 – mas nós não queríamos fazer aquilo. Bono diz – ‘não, será apenas Edge, Eno e Daniel Lanois. Nós somos bons cantores mas, você sabe, há cantores melhores no mundo! Mas se você quer que soe como um álbum do U2, então você usa o time”.
Dessa forma, ela continua a ser uma música que todos podem cantar, em sua própria companhia. E assim é.
Agradecimento: Rosa - Achtung Zoo