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sábado, 10 de março de 2012

Especial 25 anos de 'The Joshua Tree' - Parte1

THE EDGE

A HISTÓRIA DA GRAVAÇÃO DO JOSHUA TREE É A HISTÓRIA DE DUAS CASAS.
A PRIMEIRA, DANESMOTE, UM MODESTO CONDOMÍNIO RURAL, FOI ONDE NÓS COMEÇAMOS. COM UM RIACHO CORRENDO POR ELE.
Nós nos preparamos para explorar a idéia de encontrar lugares que poderiam ser ótimos estúdios de gravação, uma coisa que inicialmente tentamos no Slane Castle para a gravação do ‘The Unforgettable Fire’.
Foi em Danesmote que a banda se reuniu novamente depois de alguns meses afastados, e nos refamiliarizamos com os nossos produtores Brian Eno e Danny Lanois após alguns anos separados, e conhecemos pela primeira vez o homem que eles chamavam de Flood. Flood era o nosso engenheiro chefe e trouxe uma experiência de sala de gravações para o projeto. No interím, o Dan se tornou um produtor reconhecido internacionalmente por seu trabalho, e o Brian estava trabalhando principalmente com artes visuais criando instalações em galerias por toda Europa.
Danesmote era o cenário perfeito para começarmos os trabalhos. Bem arejada e iluminada. Ela tinha uma grande sala principal com uma ótima sonoridade para a bateria. Era um lugar muito otimista e inspirador, e todos estavam de bom humor e muito positivos quando começamos a trabalhar.
O segundo estúdio que nós montamos, era uma casa vitoriana mais sombria, de frente para a baía no sul de Dublin. Grande, mas não grandiosa, tinha uma sólida qualidade despretenciosa que parecia possuir uma grande energia. Essa casa foi o ambiente das fases mais intensas da gravação. Não existia nenhuma frivolidade nisso. Nós trabalhamos sério lá, e foi naquela casa que finalizamos as gravações das faixas.
Agora, quando escutamos os vários b-sides, out-takes e peças inacabadas que foram descartadas durante o processo, a presença das duas casas foi um elemento muito claro durante as gravações. No som e na forma.
A faixa utilizada para o poema “America” de Allen Ginsberg, foi uma das primeiras gravações que fizemos em Danesmote. Inicialmente, foi lhe dado o título de trabalho “Drunk Ckicken”. Na verdade, é puro Eno. Brian começou a improvisação e apesar de estarmos todos concordando, ele nunca passou das origens Enoesque. Com essa música, estava claro que nós ainda estávamos procurando pistas, procurando o final da corda.
“Rise-Up” era uma peça super otimística que só poderia ter surgido em uma sessão no começo do processo de gravação de um álbum, quando todo mundo ainda acredita que isso vai ser fácil, quando o cansaço de vários dias e noites de trabalho ainda não chegou. Danesmote está musicalmente em todas essas gravações. Isso era um desafio por alguns momentos, mas nunca teve conteúdo.
“Desert of Our Love”, também conhecida por “Weather Girl”, que finalmente se tornou “I Still Haven´t Found What I´m Looking For” foi a primeira descoberta do álbum. Uma mistura de reggae e gospel, ela nunca seria uma música ordinária. Isto é sua reencarnação precoce ainda mostrando suas raízes tradicionais. Eu toquei piano para o fundo da gravação. Nós mantivemos a bateria, e talvez o baixo, mas todo o resto foi modificado.
“Beautiful Ghost” foi uma música que começou como um demo experimental que nós terminamos mais tarde, gravada no STS Studios com Paul Barrett, onde o que agora é conhecido como o distrito de Temple Bar na cidade de Dublin. É sempre muito interessante escutar de onde viemos, e depois onde nós terminamos. Essa e outras demos nos mostram o quanto da identidade musical final do álbum é conquistada durante o processo. Se eu me lembro corretamente, nós gravamos a nossa versão de “Silver and Gold” no mesmo estúdio.
A medida que nos aproximávamos das semanas finais de construção do ‘The Joshua Tree’, nós todos fomos para um lugar mais relaxado. Ainda tinha muita coisa pra fazer, letras para serem terminadas, vocais e overdubs por serem feitos, mas o álbum estava lá, e nas palavras de Jimmy Iovine, o jogo tinha virado e nós estámos perseguindo “isso” ao invés “disso” estar nos perseguindo.
Talvez por causa disso, nós entramos em um momento muito criativo e surgimos com algumas novas idéias musicais de grande potencial. Eu me lembro que depois de uma sessão particularmente inspirada, o Brian Eno se virou pra mim e com um tom de voz bem preocupada disse, “Edge, eu sei que qualquer uma dessas novas idéias é boa o suficiente para entrar no álbum, mas nós temos que desenhar a linha em algum lugar. Se nós levarmos qualquer uma delas em consideração, ainda estaremos aqui daqui há três meses.” O Brian estava certo sobre isso, o U2 sempre foi muito impaciente e difícil de lidar, e encerrar com qualquer coisa é uma tortura pra nós. Havia um ponto final em vista, e o Eno via isso como uma luta muito difícil e uma recompensa elusiva.
Nós seguimos o seu conselho, abaixamos a nossa cabeça e terminamos o álbum com a ajuda inestimável do Steve Lillywhite, e assim, as novas idéias em questão permaneceram inacabadas por alguns meses até que surgiu a idéia dos B-sides, e nós voltamos para os estúdios com os nossos engenheiros Dave Meegan e Pat McCarthy para ver o que tínhamos deixado pra trás.
Sem nenhum produtor por perto, e sem aquele sentimento de significância que tinha imbuido as sessões de gravação do álbum, nós saltávamos rapidamente entre as várias faixas, jogando fora com facilidade letras, overdubs e vocais. Talvez por isso, o trabalho não parecia ter a mesma qualidade que nós tínhamos lutado pra manter fora dos nossos álbuns anteriores. O resultado dessas duas semanas foi um conjunto de b-sides que sem dúvida é o melhor trabalho do U2 que nunca foi incluido em um álbum.
As faixas “Walk To The Water”, “Luminous Time”, “Deep In The Heart”, “Spanish Eyes”, e “Sweetest Thing” (uma música que o Bono escreveu pra o aniversário da Ali) foram finalizadas e lançadas a tempo, juntamente com os vários singles do ‘The Joshua Tree’, mas nós nunca chegamos a finalizar uma música chamada “Birdland”.
“Birdland” foi uma das últimas idéias que tivemos no nosso segundo estúdio antes de irmos embora e nos mudarmos para o Windmill Lane para a mixagem final. Ela começou com um simples piano, tocado num piano Yamaha CP70 em um dos quartos vazios, e cresceu transformando-se num pedaço de música de rara intensidade, a medida que a banda, mais o Brian e Danny se juntaram. Cada uma das 12 tomadas tinham alguma qualidade especial, uma melodia vocal única ou uma jornada dinâmica, e quando nós terminávamos um dia de trabalho, sabíamos que as faixas eram poderosas.
Mais tarde, quando voltamos para escutá-la, decidimos que era muito boa para um b-side e que deveríamos guardá-la para o nosso próximo álbum, mas isso nunca chegou a acontecer. Depois eu tentei acabar de escrevê-la, mas estava tão fora de lugar e tempo que eu nunca consegui entrar novamente na música.
Em qualquer caso, a gravação original tem uma qualidade que nunca será alcançada. Nenhum esforço de composição teria valido a pena termos regravado essa faixa – o gesto de despedida de uma banda e seus produtores, que tinham feito o seu trabalho e estavam agora fazendo música com esse objetivo, incômodamente, talvez um pouco ardente e intenso demais, mas um momento perfeito capturado no tempo.
Nós discutimos o que fazer com isso alguns anos atrás. Inacabada, mas com um incrível potencial, o Bono concordou em voltar para o estúdio e tentar uma versão final do vocal. Para isso, ele precisava de uma letra, e dias antes da sessão no estúdio, as palavras para a música hoje conhecida como “Wave of Sorrow (Birdland)” surgiram. Após 20 anos de gestação a música do U2 formalmente conhecida como “Birdland” foi finalizada e mixada. As duas casas, elas continuam conosco de várias formas, e enquanto eu escrevo essas palavras, talvez por algum estranho alinhamento cósmico, eu sinto como se estivesse no Joshua Tree National Park.

Agradecimento pela tradução : Forum UV Brasil
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