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sábado, 24 de março de 2012

Após assistir filme em 3D do U2, Wim Wenders filma corpo, alma e dimensões da dança de Pina

Era um sonho antigo de Wim Wenders realizar um filme sobre a visceral técnica de dança criada por Pina Bausch. Como transformar em linguagem cinematográfica as emoções oferecidas pelas performances da companhia Tanztheater Wuppertal, no entanto, era a grande dúvida do cineasta alemão. Quando Wenders assistiu ao documentário musical “U23D” (2007), e viu a profundidade oferecida pelo recurso tridimensional, ele finalmente encontrou a resposta e convidou a coreógrafa a tirar o projeto do papel.

Mas então Pina faleceu, aos 68 anos – a dois dias do início das filmagens, cinco dias após ser diagnosticada com câncer. Tudo foi tão rápido que o primeiro pensamento do alemão foi cancelar a produção. Por insistência dos bailarinos e como forma de homenagear sua grande amiga, porém, ele decidiu que se não poderia fazer um filme com ela, faria um para ela. E o resultado é o delicioso “Pina”, que vem sendo considerado o primeiro filme de arte em 3D.
O longa-metragem, que concorreu ao Oscar 2012 de Melhor Documentário, é de fato um espetáculo visual e utiliza a ferramenta como um recurso, não um truque. Em vez de jogar elementos “para fora” da tela, o 3D de “Pina” faz com que pessoas e objetos mostrados ganhem volume, ganhem “corpo”. E o corpo sempre foi a prioridade de Pina Bausch, que acreditava na força da expressão corporal, mais do que em palavras.

Por isso mesmo, os depoimentos dos integrantes da Tanztheater Wuppertal são narrados, como se estivéssemos ouvindo os pensamentos da pessoa, e não sua voz. Foi a forma como Wenders encontrou para adicionar um pouco de conteúdo informativo ao longa, ao mesmo tempo em que tenta ignorar as palavras – que para a coreógrafa, sempre foram insuficientes para expressar um sentimento. Um bailarino diz (ou pensa, como preferir) que conhecer Pina foi conhecer um novo vocabulário. “Antes dela, eu não sabia falar”, exemplifica. Outro afirma: “Ela era a pintora, nós a tinta”.
As escassas falas são poéticas, sem informações diretas ou esclarecedoras. Não se trata de descobrir quem foi Philippine – e, de certa forma, nem quem foi a própria Pina. O foco é o seu método, sua técnica e sua dança. Wenders abandona qualquer explicação e deixa que as performances falem por si. O resultado são imagens mesmerizantes em cenários que beiram o surrealismo mesmo quando filmados em locação, como no meio de um trânsito, num ambiente fabril ou numa escada rolante. Os elementos naturais também ganham destaque na interação com os corpos humanos: terra, água, o vento, pedras – os objetos ganham vida, potencializados pelo 3D.

Wenders mostra-se contido com a movimentação de câmera, visivelmente limitado pela tecnologia ainda em evolução – vale lembrar que ele iniciou o projeto antes da explosão de “Avatar” (2009). Na verdade, não faz muita diferença, já que o efeito 3D, ao menos nesse caso, é melhor explorado justamente nos planos gerais, olhando de longe o volume do corpo dos bailarinos e objetos de cena, como as inúmeras cadeiras da peça “Café Müller”.
Quando o diretor parece perder o controle de seu próprio filme, quase tentado a apenas exibir os números de dança, ele ainda surpreende e utiliza-se de algum recurso, como congelar a imagem ou fazer uso de metalinguagem – como na cena dos dois dançarinos que relembram os ensinamentos de Pina ao observar uma espécie de caixa mágica –, para lembrar ao espectador que ainda se trata de cinema.
É interessante observar a constante presença do Brasil no longa: além de um grafite da dupla “Os Gêmeos” num dos cenários, a língua portuguesa aparece por meio do depoimento de uma dançarina brasileira, integrante da companhia Tanztheater Wuppertal, e da música “O Leãozinho”, de Caetano Veloso, que serve de trilha para um número de dança.

Do site: www.pipocamoderna.com.br
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