1993, Berlim: Quando Adam e Larry chegam para as filmagens de Numb no estúdio cinematográfico em Spandau – um grande galpão na verdade – Edge já estava trabalhando por cinco horas. Ele estava sentado em um banquinho com uma camiseta sem mangas com três garotas bastante sexys no chão, em volta dele, como na capa do álbum 'Electric Ladyland'.
“Trabalho difícil, Edge ?” pergunta Larry.
Um pequeno e claustrofóbico curral havia sido montado em volta de Edge no centro de uma enorme área da fábrica, com telas por todo lado e holofotes quentes no topo. Uma turma de modelos alemães – garotos e garotas – ficavam em volta olhando, bochechas para dentro e existencialmente entediados. A função deles era se mover aleatoriamente, fora de foco, construindo a cena com um vago ar de niilismo desinteressado. Parecia como se representassem eles mesmos. Estes garotos pareciam como se tivessem sido tirados de um seminário não-graduado de Satre.
O diretor Kevin Godley esta no meio de uma orientação à uma garotinha, de mais ou menos cinco anos, de como bater no peito de Edge. “Mais forte ! Bata forte !” ele diz à ela.
Larry dá um passo a frente: “Eu faço isso!”
“Entre na fila”, vem a voz de Maurice Linname, por detrás do câmera.
O operador de áudio toca “Numb” e Edge começa a dublar as palavras, lendo-as de um grande quadro debaixo da câmera. Ele recitou-as de um caderno quando ele fez o disco e ele nunca teve que memorizar toda aquela ladainha. Sua intensa atenção, sem piscar, tentando não estragar a letra da música, é ajudada pela ilusão de que ele esta assistindo uma tela de TV, desatento a todos os estímulos a sua volta.
Em sua deixa, Maurice se curva e sopra fumaça no rosto de Edge. Então, Andrea Groves, uma das cantoras do Stereo MC's, surge do chão e massageia seus ombros. Duas modelos alemãs vestidas como peruas se curvam e enfiam suas línguas na orelha dele. Uma colher de sorvete é enfiada em sua boca. A pequena garota bate no peito dele. Maurice aparece por trás dele, enrola uma comprida corda sobre sua cabeça e começa a amarrar sua cara. Edge desata a rir e tudo pára.
Há uma pausa instrumental no meio da canção e eles decidiram que é uma boa idéia que o Edge saia de cena durante este intervalo. A decisão é menos estética e mais prática; isto significa que Godley pode filmar duas sequências de dois minutos cada ao invés de uma sequência de quatro minutos. Dada a quantidade de tempo que eles tem para completar este clipe – um dia – e a quantidade de diferentes ações que tem que ser coordenadas (vinte e quatro) e a chance do Edge falhar na dublagem na cadenciada sequência da letra da música, isto é uma grande benção. Mas como tirar Edge da cena?
O diretor tem uma inspiração. Ele pede à um assistente para jogar um monte de almofadas no chão, atrás de Edge. Então ele pede a Larry para vir e colocar sua mão na cara do Edge e empurrá-lo direto para trás, banquinho e tudo mais. Larry diz, legal! Edge diz “Não deveríamos tentar isso com alguém dispensável?”
Eles fazem uma tentativa. Larry vem e firmemente agarra o rosto de Edge com a mão e joga ele para trás, ambos os pés para cima, no ar, como em um desenho animado. Todo mundo ri e aplaude. Mas olhando o resultado na tela de vídeo o diretor, relutantemente, conclui que isto é muito engraçado – a queda de bunda no chão mata o ar de 'entorpecimento'.
Godley sugere que talvez deveria ser Bono que venha e vende Edge com a corda.
“Bono”? diz Edge com ironia. “Bono vai amarrar cordas em volta de meu pescoço ? Espere um minuto aí...”
Maurice diz que este enrolar é só para o ensaio. Na filmagem de fato será usado arame farpado.
Denis Sheehan está em um canto gritando no walk-talkie que Morleigh, a dançarina da dança do ventre, tinha sido avisada para estar de prontidão para esta filmagem hoje e que agora ninguém a estava encontrando. Bill Flanagan manteve para ele que tinha visto Morleigh deixando o hotel cinco horas antes. Ela disse que ela tinha sido vagamente avisada que talvez precisassem dela para o vídeo, mas ela aguardou sentada em seu quarto a manhã toda e não ouviu nada então ela estava saindo para ver Berlim. Diferentemente de praticamente todos na turnê, Morleigh não espera pelos caprichos dos reis. Ela tem sua própria companhia de dança. Ela é uma profissional. Se há um chamado ela estará lá, pronta para o trabalho, mas se ninguém lembrar de chamá-la, ela irá cuidar de seu próprios negócios. Por sorte não haverá a necessidade de Maurice colocar uma armadura no peito e substituí-la. Com seu usual dom mágico para encontrar mulheres, Bono entra calmamente, um minuto depois com Morleigh no reboque. Ele estava olhando pela janela do carro no caminho por Berlim, a viu e chamou-a para entrar no carro e irem ver como iam as coisas nas filmagens de 'Numb'. Denis Sheehan parece igualmente aliviado por vê-la aqui e também exasperado pela puro acaso de como ela acabou chegando....
(continua)
Agradecimento: Livro U2 At The End Of The World - Forum UV Brasil