1993: silenciando a máquina de gravação DAT e acessando seu PowerBook, Bono abre seu arquivo de letras, e diz: "Eu escrevi essa peça chamada "In Cold Blood". Eu provavelmente vou recitá-la como um poema durante os shows de 'Zooropa'. Mas isso é como eu escrevi, eu não reescrevi nada."
Ele recita o seguinte:
"Eu li um livro uma vez, chamado de "In Cold Blood" (À Sangue Frio)
Sobre um assassinato no bairro
Páginas do fato, não me fizeram bem
Li-o como um homem cego, à sangue frio
Assim, a história de uma criança de três anos de idade
Estuprada por soldados, embora ela já estivesse morta
Fazendo a mãe assisti-la sendo f***** na lama
Estou lendo a história agora, à sangue frio
Mais agora, saindo do arame
Cidade cercada, pira funerária
A vida é mais barata do que falam sobre isso
Pessoas engasgam com o vômito de seus políticos
Na televisão à cabo vi uma mulher chorar
Ao vivo via satélite, de uma rua inundada
Garoto confundido com um cesto de lixo
Corpo que uma criança usava para viver dentro
Eu vi explosivos plásticos e um despertador
E os homens errados sentados no banco dos réus
Karma é uma palavra que eu nunca entendi
Como Deus poderia tomar uma criança de quatro anos de idade, à sangue frio
Eu vivo em uma praia, mas eu sinto como se fosse Nova Iorque
Eu ouço sobre cerca de dez assassinatos antes de eu começar a trabalhar
O que é que vai ser, Senhor, incêndio ou inundação?
Um ato de misericórdia ou à sangue frio?"
O poema reflete a sensação de desamparo de Bono em relação à situação conturbada na Bósnia na época. O grau de instabilidade na região devastada pela guerra impediu, infelizmente assim, sua visita ao país, a fim de estender a mão e dar uma ajuda humanitária.
O original, em inglês:
"I read a book once, called "In Cold Blood"
About a murder in the neighborhood
Pages of facts did me no good
I read it like a blind man, in cold blood
So the story of a three-year-old child
Raped by soldiers though she'd already died
Made the mother watch as they fucked her in the mud
I'm reading the story now in cold blood
More now coming off the wire
City surrounded, funeral pyre
Life is cheaper than talking about it
People choke on their politician's vomit
On cable television I saw a woman weep
Live by satellite from a flood-ridden street
Boy mistaken for a wastepaper bin
Body that a child used to live in
I saw plastic explosives and an alarm clock
And the wrong men sitting in the dock
Karma is a word I never understood
How God could take a four-year-old in cold blood
I live by a beach but it feels like New York
I hear about ten murders before I get to work
What's it going be, Lord, fire or flood
An act of mercy or in cold blood?"