De 'U2 At the End of the World'
Bill Flanagan: "Eu me curvei sobre o balcão, tentando entender as notícias com todo o barulho da loja e sim, era Adam Clayton falando sobre a necessidade de assumir o risco de se passar com estes suprimentos pelos armas sérvias: "É inaceitável que no mundo em que vivemos, essas coisas ainda possam acontecer sem que sejam desafiadas!" Eu não podia acreditar naquilo. Caminhei de volta ao Factory meio tonto. Nós estamos mesmo indo para a Bósnia? Nós realmente iremos para a guerra? O U2 acha que o seus passes de palco irão conduzí-los em segurança através da artilharia Sérvia?
Com as atrocidades montadas pelos Sérvios nesta primavera, houve um momento quando o presidente Clinton estava pressionando a NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte] para enviar suas tropas, mas naquele momento os croatas, de repente, se voltaram e começaram a atacar a população mulçumana, também, como se dissessem aos sérvios conquistados, "Não se preocupem com nós, vamos recutrar as novas crianças!" Quando isso aconteceu, a confusão lá fora atingiu o seu auge sobre de qual lado eram as vítimas, e Clinton era incapaz de reunir apoio para uma intervenção do ocidente.
Existiram algumas especulações (não apenas dos grupos mulçumanos, mas também, por exemplo, de Richard Nixon) que o oeste não defende os mulçumanos do genocídio como defenderia os cristãos e judeus.
Adam já estava no estúdio quando eu cheguei. "Eu acabei de lhe escutar no rádio," eu lhe disse na sala de estar. "Diga-me que você não irá pra Bósnia."
"Não, não," disse Adam. "Nós não podemos, temos essa turnê! Nós estamos envolvidos em dar suporte à essa caravana de mantimentos que irá entrar, mas nós mesmos não iremos. Eles me pediram pra ir lá e falar hoje de manhã, pra ajudá-los a conseguir publicidade para tudo isso. É só isso."
"Isso é um alívio," eu disse. "Eu chequei o meu seguro de viagem. Ele não possui validade em uma zona de guerra."
Adam disse bem seriamente, "Eu acho, que apesar de tudo, que se não estivessemos em turnê, eu teria ido mais longe. Todos nós sentamos e assistimos essas coisas na televisão e falamos, 'Por que alguém não faz alguma coisa?' Eu acho que se você tiver a change de ir conferir, você deve."
Quando você lê isso em um livro, pode soar um pouco como em vão, mas quando Adam me disse isso em uma sala em Dublin, não é, é completamente sincero. Se ele estivesse livre das suas obrigações com os outros, eu acredito que Adam seria capaz de arriscar sua vida não pelo fanatismo religioso de Bono, mas por uma velha lógica britânica de que essa é a coisa certa a se fazer. Existe alguma coisa contraditória no Adam, que, como Bono diz, acha que está na meia-idade desde que tinha vinte anos, mas que também parece um jovem rapaz determinado a mostrar que ele não tem medo, que ele não irá isentar-se, que ele irá fazer o que for preciso e que não irá fazer confusão com isso. Quando você encontra o U2 pela primeira vez, você pensa que Adam possui a personalidade mais compreensível de todos, mas eventualmente você percebe que ele é o mais complicado. Ele registra tudo; eu acho que ele sente tudo. Mas demonstra praticamente nada.
Ao contrário de Bono, que mostra tudo que ele está sentindo no seu rosto, o que está pensando em suas palavras, e o que comeu no café-da-manhã na sua camisa. Bono não mascara os seus complexos. Eu vou para a sala de controle e Bono está martelando no seu computador pessoal, que se tornou a sua salvação após uma vida perdendo as suas letras.
"É tão difícil assistir as notícias vindas da Bósnia," Bono diz. "Foi difícil não se sentir acusado. Um trabalhador libertado olhou para mim, para cada um de nós, dizendo, 'Vocês são uns idiotas por não fazerem nada.' Isso tornou muito difícil minha decisão sobre continuar trabalhando nisso" – ele fez um gesto apontando para o estúdio em sua volta - "importante."
Bono então lê o que ele está escrevendo, uma peça chamada "In Cold Blood", e diz: "Eu estou pensando em recitar isso no álbum, apenas com a bateria. Trazendo uma nota da brutal realidade. Você acha que isso é muito?"
Eu sugiro que essa descrição dos soldados violentando a criança vai superar tudo que vier depois disso – isso vai dividir o álbum de uma maneira que possivelmente ele não se recupe depois.
Bono diz que talvez ele deva fazer isso no palco – uma explosão da crua verdade por todo o campo, pós-modernismo e ironia. Ele vai para a outra sala para uma entrevista com Joe Jackson, da revista irlandesa sobre música, Hot Press, e ele continua falando sobre a Bósnia e o quão pequeno os problemas do U2 são quando comparados com isso.
Ele lê “In Cold Blood” para Jackson e então diz, “Algumas vezes, no meio de toda a cafonisse, você tem que recomeçar tudo. Mas essa letra, também, é sobre sobrecarregar e eu quero usá-la ao vivo, mesmo achando que ela possa ser apenas amostras ou linhas, eu gosto. Mas isso não é muito sobre o sangue frio envolvido nos vários atos que eu descrevi. É sobre a forma como nós respondemos à essas coisas.”
Agradecimento: Forum UV Brasil