No final dos anos 1980 e início dos anos 1990 no Brasil, as bandas covers fizeram um enorme sucesso.
No livro 'Dias de Luta: O rock e o Brasil dos anos 80', uma passagem diz: "O circuito de rock tornara-se tão esquizofrênico que teve início, especialmente em São Paulo, uma inacreditável onda de bandas covers. A maior delas, U2 Cover, tinha um cachê mais alto que o Nenhum De Nós".
Mais conhecida como U2 Cover de São Paulo, a banda traz no vocal Everson Candido, ex-locutor da 89 FM.
Para o site Mais Goiás, Everson explicou em detalhes o surgimento da banda:
"Em 1989, teve uma casa noturna em São Paulo que fazia um evento quarta-feira sim, quarta-feira não, e o evento era uma homenagem a uma banda específica. Teve banda Genesis, Queen, e era sempre com bandas conhecidas, por exemplo, o RPM fez uma homenagem pro Genesis, o Ira fez pro The Who, e por aí vai. Coincidiu de uma quarta-feira que teria esse evento de ter uma homenagem ao U2, mas não tinha uma banda. O critério era que fosse uma banda com estilo parecido ao da banda homenageada, e na época eu era locutor de rádio em São Paulo e fã declarado do U2. Eu falava no ar que era fã da banda, e o cara me chamou para cantar, montar uma banda só para aquela noite e fazer uma homenagem ao U2. Eu falei "você tá louco, eu só canto no chuveiro" e ele dizia, "não, monta, vai ser legal, vou chamar uns amigos", e aí foi. Juntei uma galera, ninguém era músico profissional, e fizemos essa noite de homenagem ao U2. Foi um sucesso, com a casa lotada, muito legal. Um cara de Curitiba que tinha uma casa noturna adorou a ideia e chamou a gente para tocar lá também, e aí não paramos mais.
O público que nos chamava de U2 Cover, por causa da Noite Cover da Dama Xoc, uma casa que ficava em Pinheiros e nem existe mais. Foi aí que a gente foi arrumar roadie, técnico de som, empresário, e começamos a viajar o País todo. Todo mundo adorou a ideia de uma banda que só tocasse U2, as casas de show adoraram porque era uma atração diferente. Outras bandas surgiram por causa dessa ideia e começaram a fazer de tudo: Bon Jovi Cover, Cazuza Cover, Raul Seixas Cover, começou a aparecer um monte de coisas por causa dessa onda que surgiu sem querer com a gente. Isso foi em maio de 1989, e dessa formação original só estou eu – desde 10 de maio de 1989, que é o aniversário do Bono. O show foi feito no aniversário dele, e tem até uma lenda que corre por aí que a gente tocou no aniversário do Bono. Foi no dia do aniversário, mas não no aniversário dele. E é engraçado, porque no mesmo dia, na noite em que a gente estava tocando, nasceu a primeira filha do Bono, a Jordan, e a gente brinca que somos a segunda filha do Bono.
Muita gente falou, "nossa, você é parecido demais, você tem o estilo igual o do Bono, sua voz é muito parecida" e blá blá blá, mas isso é uma coisa meio sem querer. Foi uma ideia do dono da casa me chamar porque eu era fã, e eu acho que, por ser fã, de tanto você ouvir o cara cantando, acaba pegando o trejeito vocal do cara, e talvez seja isso. Não é bem um trabalho, é mais por diversão. Acho que antes de tudo eu sou fã do U2. Lógico que nós fomos nos profissionalizando, o tempo foi passando, você vai melhorando na técnica, no show, no repertório.
Moro em Goiânia, mas sou de São Paulo. Por isso a gente é conhecido como o U2 Cover de São Paulo, porque viajando tanto pelo País a gente acabou criando um circuito, que onde a gente ia alguém dizia "nossa, vou montar uma banda cover do U2 também". Onde passamos, acabamos deixando uma sementinha. Mas nós fomos a que começou.
Uma vez nós abrimos para o Ira! em uma praia em Fortaleza com 25 mil pessoas. Também já tocamos na porta do Pacaembu para 35 mil pessoas em um dia que teve greve dos ônibus. Já fomos no Faustão duas vezes, no Jô, no programa da Ana Maria Braga, no programa do Ronnie Von, já tivemos uma matéria sobre a gente na antiga MTV, no auge do canal. Já fomos capa da Ilustrada, o segundo caderno da Folha de S. Paulo, sobre o boom das bandas covers, e tinha foto da gente de meia página falando sobre a banda.
Tocamos em Lisboa, em Portugal, e também na Argentina, na Bolívia várias vezes, no Paraguai, na Colômbia. A gente já recebeu convite para tocar na Espanha e no Panamá, mas infelizmente não deu certo. Mas é engraçado porque, puxa, uma banda do Brasil, e cover de uma banda irlandesa? E quando a gente mostra o vídeo as pessoas falam "nossa, que legal, parece mesmo". Uma coisa que é importante salientar é que eu não sou uma caricatura do Bono. Não vou fingir que sou o Bono, e o cabelo é igual, a roupa é igual. Não é uma caricatura. Não é uma paródia, é o Everson cantando coisas que ele gosta, fazendo uma homenagem à banda que ele gosta. É claro que a roupa tem que ser parecida, o cabelo, os óculos, para quem estar assistindo fazer parte da viagem com a gente. Não posso subir no palco parecido com o Raul Seixas, não adianta. Mas a intenção não é fingir que sou o Bono, não estou fingindo que não sou ninguém. E as pessoas perceberam isso. Em Portugal, veio gente conversar comigo da Áustria, da Alemanha, de Israel, da Espanha, turistas que estavam nos assistindo no Hard Rock Café e eles piraram.
A gente já passou por umas coisas que, quando se faz uma retrospectiva, eu penso, nossa, isso é muito legal. Agora a banda está mais sossegada, lógico que esse movimento todo passou, não é mais tão novidade e a gente ficou mais seletivo também. Não tocamos mais toda semana, damos um tempo para as nossas profissões.
O que eu mais gosto na banda é que ela me dá a oportunidade de sentir o que o Bono sente quando está tocando determinada música, e para mim, como fã, isso não tem preço. Eu consigo ver o lado de lá. Naquele momento, as pessoas estão olhando para mim e é como se eu estivesse ao lado do meu ídolo, e sentindo o que as pessoas sentem quando a música é tocada.
Todos os shows que o U2 tocou no Brasil e na América Latina, a gente sempre vai junto, e é uma lição de casa. A gente fica observando cada detalhe, falando, olha, que legal o que eles fazem nessa parte. E agora com internet fica muito mais fácil de aprender como se portar, ou que música emendar com qual música, e qual o significado de cada música dentro do contexto de cada show. Não é uma coisa jogada, vamos tocar essa, essa e essa. Tem toda uma discussão, por causa do tema da música, tem toda uma história subjetiva que é contada no show. Nós observamos muito isso e acho que a galera que vai no show do U2 percebe isso, a gente tenta respeitar também as coisas subjetivas para quem é fã".