Como parte do 70° aniversário da Revista Paris Match da França, Olivier Royant entrevistou Bono, e parte disto foi disponibilizado em francês no site da publicação.
A entrevista aconteceu na Irlanda, enquanto Bono assistia à uma partida de rúgbi com sua esposa Ali. Ele deixou sua suíte para falar com Olivier, que é tomado por sua benevolência e contato imediato, tão distantes da imagem de um astro do rock mundial.
Bono entra e toma o lugar. O palácio de estilo elisabetano, com paredes adornadas com retratos aristocráticos, com vista para a baía de Belfast, parece um pouco pomposo para falar sobre rock e política. Através das grandes janelas, do riso à um céu cinzento.
Filho de mãe protestante e pai católico, Bono mostrou em seu celular uma foto de um vaso de oliveira que o Papa Francisco deu para ele. "Ela é o símbolo das três religiões", ele diz. "Plante-a em qualquer lugar, ela crescerá".
Como você reage a essa onda de ódio que invadiu a política mundial?
Nossa geração cresceu pensando, como Martin Luther King, que o mundo estava se movendo em direção a mais justiça, direitos civis, igualdade de gênero. Aqui na Irlanda, um muro caiu. Em outros lugares, a democracia prevaleceu, o apartheid foi derrotado. Esse parêntese luminoso da humanidade não é nada comparado a dez mil anos de história. Nossos avós não estão mais aqui para nos lembrar das tragédias que a Europa conheceu. Esta onda de eleições alarmantes marca a morte da nossa inocência. Diante desse declínio, uma dica: parem de se lamentar, e organizem-se!
Você reconhece nesses movimentos espontâneos jovens que se mobilizam pelo clima?
Isso me lembra de nossas origens, quando eu ouvi as músicas do Public Image Limited e senti raiva contra a injustiça. A raiva é uma fonte de energia.
Nos seus shows, você ergue a bandeira europeia. Você tem fé no que Churchill chamou de "patriotismo expandido": ser irlandês e europeu ao mesmo tempo ...
Sim, é uma ideia romântica e é a mais bela de todas. Todas essas linguagens diferentes para formar uma única voz. Ser europeu é um pensamento que deve se tornar um sentimento. A Europa foi transformada em burocracia. Deve mudar, ser modificada a partir de dentro, mas ela não deve ser abandonada.
Você esteve em Paris em 13 de novembro de 2015, o dia dos ataques terroristas. Como você vivenciou esses momentos?
Bem abrigados em nossa gaiola de ouro, nossos quartos de hotel, onde assistíamos à televisão enquanto os tiros aconteciam ao redor do Bataclan. Se fosse 24 horas depois, nosso show em Bercy poderia ter sido alvo de terroristas. Eu pensei: "Mais do que tudo, esses homens odeiam o que eu mais amo no mundo: música e mulheres".