Você ao mesmo tempo admira e fica alarmado com a ambição do U2. Algumas bandas têm um encontro com o destino do rock'n'roll e o U2 pode ser um deles. Robert Fripp fala do rock'n'roll como o encontro entre a inocência e a história. Sem adornos, sem distrações, os temas do U2 são exatamente isso.
O jogo atual do U2 é "encontrar o público". Eles já tocaram em Londres antes e construíram os primeiros vestígios de seguidores, mas em meio às tribos concorrentes, eles precisam marcar, anunciar e povoar sua própria paróquia.
Houve um ponto crítico quando o U2 quase caiu por terra, quando a bravata de seus planos idealistas encontrou a indústria da música em recessão e turbulência cínica. Os seis meses anteriores ao U2 finalmente fechar com a Island Records foram um período em que a organização estava sob forte pressão financeira.
Como empresário, os ativos de Paul McGuinness incluem não apenas sua habilidade e experiência anterior, mas também sua lucrativa carreira como diretor de filmes publicitários, um fator que lhe permitiu investir dinheiro no U2 além de seus contemporâneos e abordar seu gerente de banco com mais autoconfiança do que outros empresários quando as circunstâncias exigiam.
Mas quando, no outono passado, o U2 planejou sua primeira aventura na Inglaterra, eles ficaram abalados pelo primeiro gostinho do maquiavelismo míope de Londres. Suas datas deveriam ser financiadas com a antecipação de um acordo editorial, mas a empresa envolvida, no último e mais pressurizador momento, reduziu o adiantamento pela metade na esperança de fechar um acordo mais barato. McGuinness desligou o telefone e em 48 horas ele e a banda compensaram o déficit pegando emprestados 3 mil libras de amigos e familiares.
Ngociações já haviam fracassado com a CBS Records e com a A&M, mas a EMI - por meio da defesa de seu homem de A&R, Tom Nolan - estava se interessando muito mais seriamente. Dois outros executivos da EMI viajaram com Nolan para Dublin, quando o grupo se sentou nos fundos do Baggot Inn - e então foram embora para assistir o The Specials no Old Grey Whistle Test!
Isso abalou o moral. A EMI, que apesar da insistência de Nolan já havia rejeitado o The Specials, o demitiu - e o U2 se retirou para se recuperar.
"Estávamos desmoralizados e falidos. O que nós deveríamos fazer então? Mentir em nossa própria autopiedade?" Bono pergunta retoricamente.
"Não", ele responde a si mesmo. "Nós decidimos o que íamos fazer. Íamos fazer uma turnê como atração principal pela Irlanda, e iríamos ser a atração principal no Estádio Nacional e essa era a nossa maneira de lutar contra as pressões, ir exatamente no caminho oposto e mostrar às pessoas que estávamos cheios de confiança".
E foi no estádio que Bill Stuart, da Island, chegou e, de acordo com Bono, 'nos ofereceu um acordo na hora': "Do qual, e isso deve ser observado, reclamamos. Ainda sabíamos o que queríamos e discordávamos disso, disso e daquilo, gostamos disso, não gostamos disso, vamos lá. E se eles tivessem desistido, onde estaríamos? Mas acreditamos, porque não estávamos ali para ser a segunda opção, não desistiríamos de nosso objetivo. E, de fato, eles honraram isso".
Mas a alma de uma banda deve ser finalmente localizada em sua música. A mesma aplicação e dedicação informam seus métodos de trabalho. Nesse ponto, o U2 poderia justificadamente relaxar, mas a cada dia da semana disponível em Dublin, eles viajavam para a sala de ensaios em Malahide para continuar seu curso de autoaperfeiçoamento musical.
Isso faz com que o U2 possua uma quantidade intimidadora de canções - mais de quarenta pelas suas estimativas - quando chegar a hora de decidir sobre o material a ser gravado para seu álbum de estreia em agosto. E uma criação tão prolífica também significa um conjunto que está em um estado de fluxo constante - então, aqui em Londres, além da afetuosa dupla "An Cat Dubh / Heart Of A Child", o U2 também está estreando "Saturday Night" e "I Will Follow".
The Edge compara seus métodos de trabalho aos de um escultor em seu estúdio: "Nós pegamos um bloco, ou se você preferir três peças, você só precisa moldar e dar forma".
Larry Mullen, que está sentado quieto até agora, explica uma mudança fundamental em seu papel: "Adam, Dave e Bono costumavam escrever canções e dizer 'Larry, você vem às quatro e colocaremos a bateria nisso'. E, de fato, em uma crítica de Peter Owens na Hot Press, ele disse: 'Eu vi o U2 antes e pensei que a bateria era o elo fraco'. E isso era verdade porque Dave, Adam e Bono estavam escrevendo músicas e eu estava descendo para colocar a bateria e não estava vendo como as músicas estavam sendo feitas. Então, agora eu e Adam estamos escrevendo músicas juntos, então o baixo e a bateria estão funcionando de uma maneira que não estavam antes".
Mannix Flynn, um professor. Essa pessoa se lembra de andar pela Stephen's Green em um almoço de domingo para encontrar Bono e Gavin do Prunes com seu tutor de teatro. Bono se inflama de afeto quando Mannix é mencionado.
"Mannix Flynn é um cara que respeito. Eu simplesmente amo ele, sua coisa toda. Ele é Dublin para mim - ele é ótimo. Ele evoluiu de uma parte muito dura da cidade. Ele não tem cinismo - como se ele não se ressentisse de Adam porque Adam mora em Malahide. Ele é bastante aberto em todas as áreas e trata as pessoas como pessoas. Ele tem um conhecimento sobre o 'espaço' que é o que ele chama de palco. E como estar nesse palco e como seu corpo está nesse palco e como falar com as pessoas com seu corpo. E estudamos mímica com ele e com pessoas que ele conhece".
Adam concorda sobre a importância de Mannix, o ex-ator do Project, colaborador em 'The Liberty Suit', ex-presidiário e ocasional adminsitrador de loja da Grafton Street.
"Acho que em termos de alguém com quem conversar, ele foi crucial porque suas ideias e perspectiva de vida são muito importantes".
Bono acrescenta: "Essa foi uma área importante para nós. É por isso que estudamos mímica, para nos soltar, para tentar atuar no palco - e estamos apenas no começo disso".
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