28 de novembro de 2010. Os palcos do Teatro Foxwoods, em Nova York, estavam prestes a receber um musical memorável, inspirado nas histórias de um dos heróis de maior sucesso da Marvel, o Homem-Aranha.
A obra da Broadway 'Spider-Man: Turn Off The Dark' tinha tudo para dar certo. No cinema, o herói havia estrelado recentemente uma trilogia de sucesso, o que poderia atrair um grande público para o teatro. O musical seria roteirizado pelo dramaturgo Glen Berger e dirigida por Julie Taymor, a responsável pela adaptação de O Rei Leão, que segue em cartaz até hoje. Além disso, as músicas seriam escritas por ninguém menos que Bono e The Edge, do U2.
Na teoria, tudo parecia perfeito – mas os bastidores foram caóticos. A ideia do musical nasceu em 2002, logo que o primeiro filme do Homem-Aranha foi lançado. Julie Taymor aceitou participar da adaptação sob uma condição: adicionar a personagem Aracne, da mitologia grega, como uma das protagonistas. Aracne era uma mulher com habilidades de bordar que, após vencer a deusa Atena em um concurso de tecelagem, foi transformada em aranha pela rival. Sim, a única coisa que conectava a personagem ao herói era o animal.
No final das contas, a peça segue o enredo clássico do herói, mostrando como Peter Parker ganhou superpoderes após ser mordido por uma aranha. O vilão da história é o cientista Norman Osborn, o Duende Verde. A deusa Aracne, por sua vez, surge como inspiração para Peter.
Bono e The Edge, apesar do sucesso musical, não tinham nenhuma familiaridade com peças da Broadway. "Se você está encenando um musical do Homem-Aranha, provavelmente não é o ideal ter uma diretora que não está interessada em Homem-Aranha e dois compositores que não estão interessados em musicais", disse Berger à BBC. O dramaturgo não esconde o fiasco e, inclusive, relatou toda a sua experiência no livro 'Song of Spider-Man: The Inside Story of the Most Controversial Musical in Broadway History', lançado em 2013.
Uma passagem do livro diz que Bono e The Edge eram tão pouco familiarizados com musicais da Broadway, aparentemente, que um produtor teve que tocar para eles uma compilação educacional de quatro CDs de "60 canções dos últimos sessenta anos de teatro musical".
A dupla "acabaria descartando quase todas as músicas como piegas, estúpidas" - o que poderia ser o motivo pelo qual as músicas que escreveram para 'Turn Off The Dark' soaram menos como melodias cativantes de um espetáculo e mais como lados b do U2.