Flood - também conhecido como Mark Ellis - trabalhou no estúdio com o U2 por muitos anos, primeiro como engenheiro de som e, posteriormente, como produtor.
Ele relembra aqueles primeiros dias, em particular o papel que desempenhou nas sessões no Hansa e em Dublin em 'Achtung Baby', álbum lançado em 18 de novembro de 1991.
"Para 'The Joshua Tree', era quase 1° de abril e eu vinha recebendo mensagens que alguém na Irlanda queria entrar em contato comigo. O telefone estava no estúdio e me disseram: 'É o Bono, pra você'. Então, eu atendi e disse: 'Ok, quem está me enrolando?' Mas era ele mesmo. Disse que os caras estavam fazendo um novo álbum e se eu gostaria de ir e fazer um teste, para ver se nos dávamos bem. Ele gostava de um monte de coisas que eu tinha feito. E o que eu gostei, quando eu cheguei lá, é que ele xingava muito. Eu pensava que Bono não xingasse. Então, eu fiz um teste de duas semanas. Eles estavam trabalhando no começo do álbum, nas demos. Inacreditável. Ir para a Irlanda e trabalhar com a maior banda do mundo – ou bem perto disso – era como: 'Oh, meu Deus! Eu tenho apenas 26 anos…'
Eu tinha sido convencionalmente treinado como engenheiro de gravação, mas eu percebi como era não-convencional suas abordagens pra tudo. Tudo. Eu tive que rasgar o livro de regras, que eu usava há 6 anos e começar de novo. Foi como acordar em um outro lugar, um lugar bom, um lugar feliz.
Em 'Achtung Baby', o Depeche Mode estava tocando no Giants Stadium (depois que gravamos 'Violator' juntos) e eu estava sentado na área de imprensa, pensando: 'Como se consegue algo bom?', quando Anton Corbjin disse: 'Flood, têm umas pessoas que querem te ver'. Esses dois caras com capuz e barba, entraram pela porta e eram Bono e Adam disfarçados. Então, nós todos estávamos lá e eles disseram: 'Nós queremos detonar o velho U2 e ir à Berlim para fazer um novo álbum. Você está interessado?'
Bem, é um grande negócio, mas é estranho: há um nível de respeito entre os músicos e os produtores, que todo mundo fica na mesma sintonia. A banda não podia voltar para onde eles estavam – era uma filosofia dominante. Eles diziam pra mim: 'Fique livre o quanto você quiser. Tente tudo!' Eu estive trabalhando com Depeche Mode e Nine Inch Nails, então eles estavam procurando por algo "industrial".
Mas todo dia eles diziam: 'É muito parecido com as coisas antigas'. Eu lembro de ter escutado "Trying To Throw Your Arms Around The World" – parecia uma canção de acampamento, pra começar. Eu dizia: 'Está boa', e eles diziam: 'Não, Não pode ser assim!' Todo mundo sabia o que eles não queriam.
Bono colocou isso perfeitamente: 'Você tem o material, então fique em torno disso'. Um grande exemplo é "One". Essa era praticamente a única música feita em Berlim. Demorou cerca de uma tarde, uma vez que as coisas se encaixaram; eles tinham a melodia, os acordes, tudo em três takes. Todo mundo dizia: 'É maravilhosa, é uma música clássica, é brilhante, é o U2!' e veio uma grande sensação de alívio para a banda.
Mas Eno e eu dizíamos: 'É uma canção maravilhosa, mas é sem graça, um arranjo chato'. Então passamos seis meses tentando de tudo. Não parece muito diferente, mas muitas coisas pequenas se mudaram do som tradicional. A bateria, para começar. Por muito tempo, nós experimentamos com uma bateria pesada. Mas Dany teve uma ideia para o Larry tocar com um efeito de delay. Dá uma sensação de queda – não é óbvio na versão final, mas está lá – e deu à Larry uma forma diferente de tocar a canção, também.
Eu também comecei a perceber que a bateria no mono poderia ser mais poderosa, sem ser mais alta. Essa é uma das maiores sutilezas do 'Achtung Baby': a maioria da bateria em mono, o que é bem incomum".