A edição 2002 da Hot Press Annual apresentou os livros favoritos de Bono, e um deles era 'The Heart Is Deceitful Above All Things' de J T Leroy.
No início da década de 2000, Laura Albert, então com 40 anos, antiga punk rocker e operadora de telefone de linhas de sexo, publicou o romance 'Sarah' e a coletânea de contos 'The Heart Is Deceiftul Above All Things', sob o pseudônimo de JT Leroy, o que deixava desde cedo em aberto qual seria gênero do "autor". Para o efeito, foi mesmo criada uma biografia oficial de J.T. Leroy, que seria um jovem gay, HIV positivo, sobrevivente de abusos desde a infância, filho de uma trabalhadora do sexo do West Virginia, especializada em caminhoneiros, antes dele próprio se tornar garoto de programa.
O que Laura Albert nunca imaginou foi que os seus livros, fruto de um "incentivo" de uma assistente social para JT Leroy os escrever, e recheados, numa escrita de contornos góticos, de pobreza social, dependência de drogas e abusos sexuais, se tornassem best-sellers e objetos de culto.
A pressão era enorme e tornou-se necessário "produzir" um JT Leroy, para apresentar os livros, dar entrevistas, participar em todas as ações de promoção junto da imprensa e dos muitos milhares de fãs que a "sua" obra começara a atingir, sobretudo nos Estados Unidos.
A solução estava praticamente dentro de casa. Savannah Knoop, atriz e modelo, meia-irmã de Geoffrey Knopp, na época marido de Laura Albert, criada com eles em São Francisco, tinha a técnica e a figura andrógina perfeitas para o "papel". E foi assim que, durante seis anos, J.T. Leroy existiu "de verdade", por debaixo de uma figura encenada, quase sempre de chapéu, sobre uma cabeleira loura e de grandes óculos escuros cobrindo boa parte do rosto.
Mas não eram apenas leitores anônimos que se interessavam pelas personagens de J.T. Leroy e pelo seu "percurso". O fenômeno foi capaz de seduzir gente como Courtney Love, Winona Ryder, Tom Waits e Bono, muitos deles vistos muito alegres em fotografias com J.T. Leroy. Madonna sonhava mesmo converter JT.
O caso foi revelado pelo New York Times em 2006. Laura foi processada e acusada de falsária, perdeu amigos, marido e direitos sobre os escritos.
Laura Albert conta sobre Bono: "Shirley Manson passou o que escrevi para Bono, e em uma entrevista para a Rolling Stone, Bono falou sobre como 'The Heart Is Deceitful' estava explodindo sua mente. Nós o conhecemos e ele foi maravilhoso com todos nós".