PARA VOCÊ ENCONTRAR O QUE ESTÁ PROCURANDO
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
Por dentro das gravações do filme-concerto 'Rattle And Hum' - Parte II
O cineasta Robert Brinkmann, nascido na Alemanha, foi o responsável por todas as filmagens em preto e branco do filme-concerto 'Rattle And Hum' do U2.
O site ATU2 realizou uma entrevista com ele por telefone em 2018, ano em que o longa completou 30 anos!
Confira a segunda parte, onde fala sobre o motivo da exclusão das cenas na passagem por Graceland, o acidente com Bono que fez as imagens dele com o braço na tipóia não aparecerem no filme, o planejamento para a gravação do filme, a espera pela banda para registro de imagens, as sessões de gravações no Point Depot e o concerto em São Francisco:
"A passagem por Graceland, estavam todos aqueles discos de ouro que Elvis tinha no porão e lá estávamos nós, seguindo a maior banda do mundo e eles estavam sendo ofuscados pelas centenas e centenas de discos de ouro, do chão ao teto, todo o caminho até o corredor, e esses caras são grandes! Eles são uma banda grande, mas comparados a Elvis, eles não são tão grandes. E é um momento maravilhoso, um dos meus favoritos de tudo que filmamos, mas novamente, algo que eles não queriam parecer, aquela mística novamente, então não acabou no filme.
O engraçado é que, obviamente, todo mundo está ciente de Elvis, mas eu realmente não sei muito sobre ele, então essa foi minha primeira experiência. Eu tenho que dizer, para alguém que não era fã, que foi uma experiência realmente mágica. Foi ótimo ver evidências do que esse cara fez e de todas as pessoas que ele tocou. A impressão que ele deixou na cultura americana. E vendo a casa e vendo os artefatos, era muito mais emocionante do que eu pensava que seria. Eu sempre recomendo às pessoas que elas passem lá. Vale a pena ver, é uma coisa e tanto.
Entre Phil Joanou me contratar e eu ir para a Costa Leste, Bono não viu e caiu em um dos alçapões que os técnicos de guitarra usam. Quando cheguei, o braço dele estava em uma tipóia. Eu não acho que tenha sido feita alguma filmagem dele caindo, mesmo que Phil tenha começado a filmar algumas imagens do documentário de 16mm, mas certamente filmamos bastante dele com o braço em uma tipóia. Eu acho que não foi usado, porque parece um pouco triste ver Bono com o braço em uma tipóia. Como havia muitas outras cenas e nada de importante aconteceu, foi uma decisão fácil não incluir as filmagens; poderiam não ter sido incluídas mesmo sem a tipóia. Eu não acho que foi uma decisão ruim. Eu acho que você poderia ter visto isso além de um problema e humanizado a banda - até mesmo um astro do rock pode se machucar - mas Bono não usou muito disso também. Ele usou a tipóia por um tempo e depois voltou, bem rápido.
O filme foi planejado mais como um filme-concerto do que um documentário. Desde o início, ficou claro que a maior parte do filme seria uma grande produção, que seria o concerto de Tempe, gravado em cores por Jordan Cronenweth, que foi um dos maiores cineastas de todos os tempos - ele filmou Blade Runner, ele é simplesmente um gênio - e o palco foi o maior palco de rock 'n' roll na época e foi um grande show. Foi impressionante. Então essa seria a maior peça do filme. E então mesclado seria o documentário que filmamos e talvez um pouquinho do show em preto e branco também. Esse foi o plano.
No momento de filmar o documentário, nós filmávamos o máximo que podíamos, filmando algumas vezes sem parar. No final do dia, quando terminávamos de filmar e tínhamos que mandar as latas com os rolos de volta para Nova York, a pilha era maior do que eu às vezes. Nós filmamos muito filme. Phil estava filmando em uma câmera, eu estava filmando em uma câmera e era apenas "manter os rolos e continuar gravando". Tentamos filmar o máximo que podíamos, especialmente com a banda não cooperando o tempo todo. Quando tínhamos algo, simplesmente deixávamos rodando sem parar. Isso foi no momento, mas nós também sabíamos… ia ser um concerto e… principalmente à cores. Isso, é claro, mudou, porque há algumas razões técnicas pelas quais o show em preto e branco acabou funcionando melhor do que à cores e então todos foram nessa direção. No final, ele acabou se tornando um filme diferente do que pensávamos.
Quando não há nada acontecendo e você não está conseguindo nada, então você se sente como: "Eu não estou fazendo o meu trabalho, eu não estou capturando a magia". Mas isso me incomodou, porque era sempre uma situação interessante de onde estávamos. Era um bom lugar para estar e algo poderia acontecer. Sim, estávamos entediados às vezes, mas como eu disse, Phil e eu dormimos em lobbies de Hotel com câmeras ao redor, porque algo poderia acontecer e também, isso foi na idade antes de telefones celulares. Então, nós precisávamos estar em contato com a banda e sua gerência, caso eles estivessem indo sair e fazer alguma coisa, mas nós não poderíamos ir embora porque e se eles decidissem que eles iriam sair e fazer uma jam com algum músico em Chicago? Então, nós tivemos que estar sempre ao alcance e isso foi antes que alguém pudesse apenas mandar um SMS ou ligar para o seu celular. Acabamos não sendo capazes de ir mais longe do que a frequência de um walkie-talkie de onde quer que o nosso produtor estava. A qualquer momento, ele poderia dizer: "Ei, volte, nós vamos gravar". Um quarteirão da cidade, no máximo (risos).
As sessões de gravações no Point Depot. Isso foi incrível. Isso foi depois da turnê. A banda voltou para a Irlanda e decidimos adicionar essa gravação e a banda sabia que eles queriam escrever aquela música ("Desire"), mas ela ainda não havia sido escrita. Então, nós voamos para Dublin e encontramos esse local maravilhoso, esse depósito de trem que eu acho que não existe mais e tudo foi montado lá. Mas agora você está tentando filmar o processo criativo e não é algo que você possa realmente programar. Eu me lembro claramente de estar lá. Nós tínhamos uma equipe, tínhamos câmeras, toda a gravação estava pronta e Bono estava trabalhando na música, mas o processo não está onde você quer que ele esteja, então estávamos literalmente sentados por dias, dias e dias (risos) e nada estava acontecendo. Mas quando isso aconteceu, nós realmente capturamos o processo de escrita e gravação, mas houve alguns dias em que estávamos pensando: "Uau, que desperdício de dinheiro, todos nós aqui, todos nós prontos para filmar e Bono deitado de bruços olhando para um pedaço de papel e você não tem nada para registrar".
Foram três ou quatro dias para as coisas começarem a se juntar. Nós estávamos filmando no momento em que eles gravaram.
(O spin-cam durante "money, money, money…") foi Phil operando aquela câmera. Phil era meio que um cara selvagem, cheio de energia, então ele realmente se interessou por isso, e funcionou com a música. Foi divertido.
Em São Francisco houve muita diversão também. Todo mundo estava muito animado com isso, especialmente a banda, porque eles amam esse tipo de coisa. O concerto foi planejado, claro, porque tínhamos que ter as permissões, os caminhões e tudo mais. Então, nós sabíamos, mas foi anunciado no rádio um pouco antes e você pode ver nas imagens a causa e o efeito. Mas, novamente, na época, eles eram a maior banda do mundo, então havia muitos fãs e todos estavam muito animados. Eu adorei porque você não vai conseguir uma energia melhor da multidão do que com algo assim e eles tocaram ótimas músicas e isso realmente se tornou uma coisa em São Francisco naquele dia. Nós só tínhamos três câmeras naquele dia. Foi Phil, eu e um amigo meu chamado Doug Nichol, que por acaso morava lá e é um ótimo cinegrafista. Então, éramos nós três e bem no meio disso, quando tínhamos as músicas que sabíamos que queríamos filmar, corri para o aeroporto e decolei em helicóptero e gravei a filmagem aérea. Então, foi muito divertido estar naquele helicóptero e ver aquela enorme multidão em São Francisco de cima".
0 Comentários
Assinar:
Postar comentários (Atom)