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terça-feira, 10 de outubro de 2017
Aung San Suu Kyi, a dama da decepção?
Bono escreveu a canção "Walk On" (do álbum 'All That You Can't Leave Behind' de 2000) para a dirigente da oposição democrática da Birmânia, Aung San Suu Kyi. Nas duas versões do videoclipe da canção, Aung San aparece.
Além disso, a banda pediu que os fãs usassem máscaras com o rosto de Aung San Suu Kyi, nos shows da turnê 360°. Enquanto a banda tocava "Walk On", Aung San era mostrada no telão, enquanto crianças entravam com a máscara trazendo o rosto dela.
Depois de quase duas décadas vivendo em prisão domiciliar, a líder da oposição em Mianmar, símbolo da dissidência à junta militar, foi libertada em 2010.
No site da banda, foi escrito: "U2 acredita que o mundo não deve esquecer Aung San Suu Kyi".
Os laureados com o Prêmio Nobel da Paz raramente são alvo de críticas depois de lhes serem atribuída a homenagem. Aung San Suu Kyi, Nobel da Paz em 1991 e ministra dos Negócios Estrangeiros de Myanmar desde 2015 – mas líder de fato do Governo –, parece ser a exceção. Nas últimas semanas Suu Kyi tem sido alvo de uma maré de críticas da comunidade internacional pelas ações – ou inação – do seu Governo, ao que altos funcionários da ONU caracterizaram como ‘limpeza étnica’ contra os Rohingya, uma minoria étnica muçulmana num país de maioria budista. Dezenas de aldeias foram queimadas, 370 Rohingya foram mortos pelas Forças Armadas e 400 mil Rohingya já fugiram para Bangladesh, superlotando os campos de refugiados.
A atual crise dos refugiados Rohingya começou quando na última semana de agosto um grupo de militantes Rohingya atacou esquadras da polícia e uma base militar em Rahkine. Em resposta, as autoridades birmanesas queimaram aldeias e abateram civis que fugiam de Rakhine, onde a minoria Rohingya se concentra no país, segundo relatos de refugiados. Suu Kyi, a líder de fato do governo birmanês – os militares não deixaram que uma mulher assumisse a liderança do executivo –, foi alvo de críticas da comunidade internacional. Outros laureados com o Prêmio Nobel da Paz reagiram contra a líder birmanesa. Malala Yousafzai, jovem paquistanesa que se opôs à ditadura dos talibãs pelo direito à educação, exigiu a Suu Kyi que condenasse a violência. O bispo Desmond Tutu, uma das figuras que, ao lado de Nelson Mandela, combateu o apartheid sul-africano, escreveu uma carta à líder onde afirmava que as suas ações eram algo de "incongruente para um símbolo da paz" que esteja na liderança de um povo que não esteja "em paz consigo mesmo". Opinião diferente teve o Comitê Nobel, que, pela voz de Gunnar Stalsett, considerou que "nunca nenhum prêmio foi anulado e o comitê não emite condenações ou censuras aos laureados". "Quando a decisão é tomada e o prêmio dado, a responsabilidade do comitê termina», justificou. Porém, esta posição não é partilhada por outras instituições que também homenagearam Suu Kyi. É precisamente o caso de um dos maiores sindicatos britânicos, a Unison, e da Universidade de Bristol, que decidiram suspender o prêmio atribuído à líder por estarem a rever a sua atribuição à luz dos novos acontecimentos no país.
Num discurso à nação esta semana, Suu Kyi assegurou que o governo "tomará medidas contra os responsáveis pela violação de direitos humanos" em Myanmar, mas, por outro lado, afirmou também a existência de "alegações e contra-alegações" que não oferecem ao Executivo uma base sólida para "perceber quais os verdadeiros problemas" que levaram à fuga de 420 mil Rohingyas, onde se incluem 250 mil crianças. A líder birmanesa garantiu ainda, e contradizendo as informações fornecidas por altos funcionários da ONU, que "não teme o escrutínio internacional" – apesar de ter impedido a ONU e ONG de acederem a Rakhine – e que as operações de segurança "foram concluídas em 5 de setembro", além de terem cumprido "rigorosamente o código de conduta". No seu discurso, Suu Kyi utilizou o termo "50% da população muçulmana bengali" para se referir aos Rohingya, denominação que deixou a comunidade internacional em alerta. A Amnistia Internacional não hesitou em publicar um comunicado a denunciar a líder por estar "enterrando a cabeça na areia" e desprezando os "horrores" testemunhados em Rakhine. A AM classificou ainda o discurso como uma "mistura de mentiras e vitimização".
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