No Hotel Faena na Argentina, The Edge e Adam Clayton esperam alguns minutos. Quando eles descem de seus quartos, o baixista ataca uma bandeja de masitas, enquanto o guitarrista se senta no piano que há neste espaço do hotel e toca os acordes de "New Year's Day".
Com seu gorro e cavanhaque característico, Edge toma a frente da conversa. Adam é mais sério e fala somente quando acha necessário.
A conversa com o Clarín começa falando sobre por que eles decidiram atrasar o concerto para que o público pudesse ver o Equador e Argentina no estádio.
"Na noite anterior, enviávamos mensagens para ver o que faríamos. Era uma questão que não podíamos ignorar. Nós não queríamos que as pessoas assistissem em seus celulares durante nosso show ou o de Noel Gallagher. O risco era se a Argentina não ganhasse, porque em vez de uma celebração seria uma tristeza, não haveria diversão. Mas agradecemos que Messi tenha condicionado o show tão bem", diz The Edge.
─ Você assistiu o jogo?
The Edge: Eu estava no backstage tentando assistir na TV do camarim. O sinal estava indo e vindo até que foi completamente perdido. Havia alguns caras tentando consertá-lo e eu disse: "qualquer coisa que vocês façam, não interrompa o sinal que está indo para o telão lá fora." Teria sido o pior cenário. Então nós ficamos sabendo do resultado pelo celular.
─ Que energia você sentiu no estádio antes de entrar?
Adam Clayton: Eu acho que as pessoas conseguiram mudar a sensibilidade de um jogo de futebol para um show. Foi por isso que começamos com "Sunday Bloody Sunday". Uma boa maneira de converter a energia.
─ Vamos falar sobre esta celebração de 'The Joshua Tree'. Como se sente ao reviver uma turnê três décadas depois que o disco foi gravado?
The Edge: Nós sentimos que as músicas adquiriram uma relevância e uma nova vida, porque as políticas nos Estados Unidos e na Europa deram uma volta em 360 graus. E uma grande parte da inspiração política por trás do 'The Joshua Tree' de repente retornou. Assim que começamos a turnê, sentimos que tomamos a decisão correta. E não só foi algo positivo para o nosso legado, mas em termos de o que a música pode dizer sobre o que acontece no mundo, foi uma ótima jogada.
Adam Clayton: Foi uma grande oportunidade para celebrar estas canções. Começou como uma pequena ideia para fazer talvez dez shows. Então tornou-se claro que as canções são quase mais relevantes agora do que na época. Além disso, nunca tínhamos tocado o lado dois do disco. Outra coisa é que quando nós originalmente tocamos o disco, não havia produção, era muito simples o nosso palco. E esta tela em HD especial nos deu a oportunidade de apresentar as músicas de uma maneira diferente.
─ A última vez vocês vieram com um palco de 360° e muita tecnologia. Agora, em vez disso, vocês oferecem uma configuração mais minimalista. É um caminho de volta naqueles dias em que o foco era mais sobre a música?
The Edge: Sim. Cada música no disco parece sugerir uma configuração visual. As canções de 'The Joshua Tree' são muito poéticas. E em vez de tentar explicá-las, sentimos que era melhor explorar a quietude de paisagens como a rota ou o deserto. Elas são mais eloquentes do que tentar fazer uma posição explicando as letras das músicas. Existem gestos simples de que Anton (Corbijn, o mesmo fotógrafo que fez a capa de 1987) retratou para esse show, que é muito poderoso e emocional ao ponto que elas são difíceis de explicar. Há momentos mais óbvios, como as belas imagens das mães com suas velas em "Mothers Of The Disappeared". Mas essas paisagens são muito emocionantes.
─ Olhando para frente e para trás, você acha que 'The Joshua Tree' foi o grande salto na carreira da U2?
The Edge: Bem, algo aconteceu naquele momento que é impossível replicar: as pessoas de todo o mundo descobriram nossa banda pela primeira vez. Mas acho que o álbum que estamos prestes a lançar é uma coleção muito poderosa de músicas, mais do que 'The Joshua Tree'. Eu penso em 'The Joshua Tree' e 'Achtung Baby' como pontos altos em nossa carreira, mas acho que 'Songs Of Experience' está nesse nível de registros. Claro que como uma banda, tendemos a pensar no próximo passo e quase nunca olhar para trás. Então, você nos pega em um momento raro de reflexão sobre o passado com essa turnê.
Para constar:
Bono, The Edge, Larry Mullen, Noel Gallagher e o DJ e produtor Paul Oakenfold foram para uma festa pós show na Argentina, com membros da equipe da banda, empresários, associados e alguns seletos convidados locais. Bono foi quem escolheu o local: o Bar Isabel de Palermo. Na rede social, o bar avisou: "hoje à noite, nossas portas serão fechadas por um evento privado". Tinha bebidas, um show de tango e a música rock do DJ residente, SRZ. Na mesa, várias rodadas de sushi passaram rapidamente, enquanto vinhos premium , uísque e vários coquetéis serviram para aquecer a noite.