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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Mortalidade, canções de experiência: a conversa de Bono com a Rolling Stone - Parte II


Pouco antes de The Edge entrar ao telefone com a Rolling Stone para falar sobre o próximo disco do U2, 'Songs Of Experience', sobre a "experiência com a mortalidade" de Bono que enviou o álbum em um sentido lírico diferente e seus pensamentos sobre a próxima turnê de Arena da banda; a Rolling Stone enviou diversas perguntas via e-mail para o vocalista do U2. Era um dia de folga entre os shows e ele não queria forçar sua voz conversando ao telefone. Abaixo estão suas respostas:

Quando conversamos há alguns meses atrás, você foi crítico em relação à produção em 'Songs Of Innocence', dizendo que faltava "coerência", "deveria ter sido mais cru" e que algumas das músicas funcionaram melhor ao vivo. O que vocês fizeram dessa vez para ter certeza que não aconteceria de novo?

Thomas Friedman em seu livro 'Thank You For Being Late' fala de como as máquinas quando são colocadas em espera, cessam a produtividade, mas os seres humanos quando eles são colocados em espera, começam um tipo diferente de produtividade. A pausa em nosso álbum nos deu uma chance de tocar nossas músicas ao vivo no estúdio, deixá-las mais despidas para uma crueza essencial, sem qualquer truque de estúdio para ver o que realmente nós tínhamos. Isso foi um grande presente para o álbum, embora em alguns casos, não queríamos ter aquela sensação de ao vivo, aprendemos muito sobre as músicas e isso ajudou na coerência.

No Tonight Show você adicionou letras para "Bullet the Blue Sky" que foram sem dúvida alguma para Trump. Isso é um sinal de que você se tornará (ainda mais) a voz sobre os perigos que ele representa para o mundo?

É um ponto de partida, como eu sempre acreditei em trabalhar em todo este corredor estreito como um ativista contra a pobreza, mas isso não é uma questão de direita ou esquerda. Há um provocador no cargo querendo intimidar, e o silêncio não é uma opção.

Você falou sobre como você quer que o U2 crie alegria nestes tempos insanos. Pode explicar isso?

Ao contrário da felicidade, a alegria é uma das emoções humanas mais difíceis de inventar para um artista, mas é a marca dos meus artistas favoritos, quer seja o Beatles, Prince, Beethoven, Oasis. É a própria força da vida. E eu acho que tem algo a ver com o derramamento de gratidão por apenas estar vivo. De fato, como eu penso nisso, Beethoven tem sua "Ode To Joy", o The Supremes cantando "Stop In the Name Of Love" para mim é uma das grandes canções anti-guerra. Embora pareça que é sobre a traição de um amante, a dignidade da melodia, a simplicidade da afirmação poderia ser Ramones, poderia ser Coldplay, mas eu não acho que há algo mais desafiador do que a alegria em tempos difíceis. E a essência do romance é o desafio. Este é o lugar de onde o rock & roll veio, isto é o que nos torna úteis. Temos de resistir nos rendermos à melancolia apenas para os momentos mais especiais. Ouça o nosso novo single, "You're the Best Thing About Me", é como o Supremes, mas punk.

Quais são os temas comuns que unem as músicas em 'Songs Of Experience'?

Eu tento não falar muito sobre William Blake porque soa pretensioso citar um gigante literário, mas foi sua grande ideia que eu peguei para comparar a pessoa que nos tornamos através da experiência à pessoa que partiu em uma jornada. Se você está falando sobre a inocência, você provavelmente já a perdeu, mas eu acredito que no extremo da experiência, é possível recuperá-la com sabedoria. Eu não estou dizendo que eu tenho muito disso, mas o pouco que eu tenho, eu queria colocar nestas músicas. Eu sei que o U2 entra em cada álbum como se ele fosse o último, mas mais ainda desta vez eu queria que as pessoas ao meu redor que eu amo, soubessem exatamente como eu me sentia. Então, muitas das canções são tipo cartas, cartas para Ali, cartas para meus filhos e filhas, na verdade nossos filhos e filhas.
Há uma canção chamada "The Showman" que é uma carta para o nosso público, é meio que sobre os artistas e como você não deve confiar muito neles. É sobre mim! Há uma linha engraçada, que eu particularmente acho engraçada:

"I lie for a living, I love to let on but you make it true when you sing along?"

"Eu minto para viver, eu amo fingir, mas você torna isso verdadeiro quando você canta junto?"

É como uma melodia dos anos 50 dos Beatles em Hamburgo. Há uma carta para a América chamada "American Soul", Kendrick Lamar usou um pedaço disso para "XXX" em seu novo álbum. E uma que eu não percebi até muito mais pra frente, que eu estava escrevendo para mim mesmo: "The Little Things That Give You Away".
Em todas essas músicas que são tipos de conselhos, você está, naturalmente, pregando o que você precisa ouvir. Nesse sentido, todas são escritas para o cantor. Uma outra peça sobre Blake, eu não sei se estou explicando muito aqui, mas as melhores músicas para mim são muitas vezes argumentos com você mesmo ou argumentos com alguma outra versão de você. Mesmo cantando nossa música "One", que foi meio ficção, tive essa luta em andamento. Em "Little Things", a inocência desafia a experiência: "Eu te vi na escada, você não percebeu que eu estava lá, isso é porque você estava falando comigo, não para mim. Você estava muito acima da tempestade, um furacão nascendo, mas o que era independência, poderia lhe custar a sua liberdade".
No final da canção, a experiência se rompe e admite seus medos mais profundos, tendo sido chamado para fora nela por seu eu mais jovem, mais corajoso, mais ousado. Essa mesma conversa também abre o álbum com uma canção chamada "Love Is All We Have Left".
Minha linha de abertura favorita para um álbum do U2:

"There's nothing to stop this being the best day ever"

"Não há nada que impeça este ser o melhor dia de sempre"

No segundo verso, a inocência adverte a experiência:

"Now you're at the other end of the telescope, seven billion stars in her eyes, so many stars so many ways of seeing, hey, this is no time not to be alive."

"Agora você está no outro lado do telescópio, 7 bilhões de estrelas em seus olhos, tantas estrelas. tantas maneiras de ver, ei, este não é o momento para não estar vivo."

É um momento arrepiante - no refrão que eu estava fingindo ser Frank Sinatra cantando "on the moon", uma canção de Sci-Fi inflamada:

"Love, love is all we have left, a baby cries on the doorstep, love is all we have left."

"Amor, amor é tudo o que nos resta, um bebê chora na porta, o amor é tudo o que nos resta."
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