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segunda-feira, 25 de setembro de 2017
A história não contada do que originou o lendário show do U2 em Sarajevo há 20 anos atrás - Parte II
No 20º aniversário do concerto do U2 em Sarajevo, Bob Guccione Jr, fundador da revista SPIN, explica o caótico caminho que levou até a realização do show:
Mo e eu não sabíamos como fazer um show. Talvez não houvesse mais duas pessoas no planeta menos adequadas para fazer essa acrobacia. Mas tínhamos o Bono em comum, por isso decidimos pedir ao U2 para o fazer e resolver a partir daí. Perguntei para Paul McGuinness, seu empresário. Ele disse que não. Não era certo para eles, eles teriam que respeitosamente, e lamentavelmente, passar.
Então, Mo e eu meio que nos esquecemos disso. Sarajevo já tinha sofrido o suficiente, e não precisava que nós dois criássemos um novo desastre na sua frágil infraestrutura em recuperação, e então, alguns meses depois, McGuinness me seguiu até um hotel de São Francisco e disse "Isso ainda é algo que podemos fazer? Bono e os meninos querem isso."
Mo e eu fomos a Sarajevo juntos em julho de 1997 e, devido ao grande respeito e consideração que ele teve na Bósnia, conheceu todos os que eram importantes. Depois de alguns dias, percebemos que éramos realmente sem noção e que certamente as pessoas morreriam por nossa causa. Isto era, afinal, uma zona de guerra em recuperação e a nossa grande visão de reunir bósnios, sérvios e croatas, que mais recentemente tinham se matado entre eles, para ouvir música ao vivo num ambiente ao ar livre, não aconteceria sem armadilhas imagináveis. Nós passamos um surreal 04 de julho na residência do Embaixador dos EUA em Sarajevo e no dia seguinte nos sentamos em um pequeno e esfumaçado café e discutimos nossa situação bastante terrível.
Inspirado pelo desespero, e com o show cerca de dois meses de distância, eu propus dizer a Bono que não tinha absolutamente nenhuma ideia de como fazer isso, e que ia ser um desastre épico, e inconcebivelmente perigoso para inundar a cidade com etnias em conflito. Isto, eu raciocinava, faria com que o Bono entrasse em pânico e imediatamente assumisse, e enviasse o seu pessoal para preparar tudo, e os profissionais nos salvariam. Foi isso que aconteceu.
A segunda coisa que eu sugeri foi nós lidarmos com a segurança, a única área que a equipe do U2 não teria uma vantagem. Como Mo conhecia todos os gângsters que andavam pelo mercado negro através do labirinto de túneis da cidade durante todo o cerco, nós poderíamos escolher as pessoas que manteriam uma blindagem em um momento potencialmente explosivo. Nós fizemos diversas reuniões, em quartos tão nublados com fumaça de cigarro que depois de 30 minutos ou mais você não poderia ver as pessoas que estavam falando, cegamente dirigindo seus comentários para a última voz que você ouviu. Era algo particularmente cômico, mas ficamos devidamente impressionados com a dureza de um certo mafioso, e nos felicitamos por encontrar nosso homem.
Foi assim que o U2 partiu para fazer um dos shows mais memoráveis dos últimos 50 anos. Bono e a banda explicaram o momento em que eles se identificaram com o povo de Sarajevo: "Nós viemos da Irlanda, é um país pequeno e temos sido divididos também. Estamos tentando lutar contra o mundo dos idiotas do passado e entregá-lo aos homens sábios do futuro ... A música não conhece as divisões políticas e a música tem uma alegria que ignora as fronteiras e até desafia as fronteiras, é isso que nós sempre defendemos como um grupo", disse Bono.
Em vez de se entregarem a um lista de canções sérias e sombrias centradas na guerra e na cura, a banda decidiu oferecer aos cidadãos de Sarajevo uma celebração trazendo a sua turnê mundial Popmart para a cidade. A voz de Bono estava prejudicada e ele falou muitas vezes as letras para 45.000 croatas, bósnios e sérvios que preencheram o estádio de futebol do Kosovo e cantaram em solidariedade. A banda seguiu o mesmo setlist dos outros shows da turnê Popmart, com exceção do enigmático segmento de Karaoke de The Edge, sendo substituído apropriadamente por "Sunday Bloody Sunday". Eles tocaram todos os sucessos, e Bono disse ao público com prazer: "Viva Sarajevo! Foda-se o passado, beije o futuro", um slogan para uma camiseta que talvez ainda esteja esperando para ser feita.
Em seu primeiro encore, eles cantaram "Miss Sarajevo", escrita pela banda e Brian Eno e tocada apenas uma vez antes, com Pavarotti em um concerto beneficente na Itália em 1995. A canção é sobre um concurso de beleza mantido no subsolo durante o cerco, para criar uma espécie de normalidade surreal no inferno de suas vidas diárias. O U2 quase não tocou a música, inseguro até momentos antes de entrar no palco, com medo de que não fossem fazer isso direito.
Na ocasião, Bono chamou o concerto de "um dos mais difíceis e uma das mais doces noites da minha vida" e disse que perder totalmente sua voz por volta da oitava canção da noite, pode ter sido uma bênção disfarçada, porque "permitiu espaço para Sarajevo assumir o concerto e levar para longe de nós". Larry Mullen e The Edge consideram o show como uma dos destaques de suas vidas, com Mullen dizendo que "se eu tivesse que passar 20 anos na banda só para tocar esse show, eu acho que teria valido a pena."
E a segurança funcionou perfeitamente.
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