Esta idéia veio do chefe de segurança do U2, que era um americano veterano da Guerra do Vietnã.
Jerry Mele, o chefe de segurança, cresceu em Nova York e serviu em uma unidade de elite no Vietnã executando o mais perigoso trabalho: atravessar as linhas inimigas para trazer terror ao Vietcong, dormindo de pé amarrado a uma árvore, vivendo a guerra mais do que qualquer outro. Depois de sua primeira visita às selvas vietnamitas, ele ofereceu-se para uma segunda missão, mas no meio dessa sua segunda ida, teve uma espécie de despertar espiritual e decidiu que o que estava fazendo não era correto. Ele chegou em casa com drogas e com o hábito de beber demais, que ele superou, amarrando-se a uma cama e pedindo para que sua mãe não se importasse e independente de quanto gritasse ou pedisse, ela não podia desamarrá-lo. Este sim, é um cara durão.
"Eu já vi tanto Jerry como David (outro membro da equipe de segurança) ter que tirar alguém à força quando eles foram obrigados a fazer isso”, disse Larry. "Não é uma vista bonita. Seu poder e autoridade vem de saber que podem matar alguém, sem desejar nunca ter que provar isso."
No entanto, Jerry estava mudando a típica política dos seguranças de concertos de rock, que sempre foi usar bullying, agressão, intimidação. Ele queria transformar a relação com os fãs em algo suave e instrutivo. Ele contratava os homens que partilhavam essa filosofia para trabalhar com ele e lhes deu três meses de treinamento, além do trabalho em sala de aula antes de deixá-los começar.
Antes de o U2 tocar em algum lugar, Jerry tinha uma série de reuniões com a polícia local e equipes de segurança que se extendia por horas, explicando sua filosofia. "Estive em reuniões de equipes de segurança onde eles me disseram, 'Não se preocupe, nós temos essas pessoas treinadas", Jerry disse com ironia. "Besteira! Uma pessoa pode iniciar um caos! Você não treina pessoas! Você pede a ajuda delas. Ao excêntrico, pedimos que vá para casa. Todas essas pequenas marcas no meu rosto são pontos. Levo um soco e digo, 'Você ainda não me nocauteou. Agora, ou você vai embora ou eu te coloco no chão, e eu prometo a você que vai para a cadeia sob a acusação de assalto e agressão. Você pode pagar 50 mil em honorários advocatícios?" Sempre dê a eles a opção de irem embora. Sempre dê uma saída a um bêbado. Eu o deixo ir embora, dizendo: ‘Eu não perdi minha masculinidade, eu só disse a ele para me deixar e ponto final!’"
Jerry saia antes do show e conversava com os rapazes do circuito externo do local, trazendo-lhes café e água, explicando como seriam as coisas para que todos se divirtissem, lhes dizia muitas coisas sem incomodá-los. "Eu os faço 'perceber’ que não estou lhes ordenando, eu estou lhes pedindo”. Fizemos coisas nesta turnê que ninguém nunca viu. Imagine nove mil pessoas caminhando em um campo, e nenhuma única pessoa correndo”.
Bono fez uma imitação muito engraçada de Jerry puxando um cara violento atrás do palco e dando um sermão como se fosse Ward Cleaver (um sábio pai) até que o cara não aguentasse mais essa lição de moral e pedisse que lhe desse uma surra no lugar. Mas Jerry também deu Bono a idéia para uma das partes mais fortes do show do U2: Bono fazia "Bullet The Blue Sky" na voz, atitude, e roupa de um soldado dos EUA liderando uma missão de combate no Terceiro Mundo.
E depois, em "Running To Stand Still" permanecia nessa mesma roupagem para interpretar um dublinense que usava heroína para escapar de sua pobreza.
Bono estava interpretando Jerry Mele, quando cantava essas músicas, foi conhecendo Jerry que o fez compreender que esses dois personagens poderiam ser a mesma pessoa. Cada noite, no final da parte onde essas duas músicas se transformavam em uma, explodiam bastões de fumaça vermelha e amarela que envolviam Bono. Ele tomou essas idéias das histórias de Jerry sobre o caos no campo de batalha durante os tiroteios na selva; uma cor significava que era seguro para os helicópteros de resgate entrar e pegar os feridos, a outra cor significava que tinham de se manter longe. Os Vietcongs descobriram o código e começaram a detonar seus próprios bastões, atraindo pilotos para a morte ou mantendo helicópteros de resgate sem pousar.
Quando foi mencionado à Jerry que Bono estava imitando ele no palco durante estas músicas, seus olhos se encheram de lágrimas. "Eu não sabia disso", ele disse baixinho. "Deus o abençoe por isso. Eu não tinha a menor idéia." Ele olhou para o nada. "Caramba. Isso é pesado. Nunca ninguém o havia feito...". Ele engoliu a saliva e disse: "Eu estou aqui somente para fazer o que acho que é certo, nada mais. Meu coração me diz que não fomos colocados aqui para machucar ninguém. Mas, minha mente me diz que nós fomos corrompidos".
Jerry tinha entrado na equipe de segurança doze anos antes, quando ele estava executando um serviço de limusine. Uma noite, alguém atacou uma celebridade que estava alugando um de seus carros e o guarda-costas da estrela ficou paralisado. Jerry entrou em cena e lidou com a situação. A estrela demitiu o seu próprio segurança ali mesmo e insistiu para Jerry vir trabalhar para ele. Desde então, ele tem fornecido segurança para uma série de grandes nomes, nenhum dos quais ele menciona, exceto a banda de heavy metal Slayer, que pediu para Jerry usá-los como referência. O público da banda incluia skinheads, neonazistas, o pior dos piores. Em sua primeira noite com eles, Jerry disse à multidão que ele não estava ali para desafiar suas crenças ou mudá-los, ele estava lá apenas para se certificar de que todos eles iriam se divertir e esquecer de seus problemas por um par de horas. Assim, por esse motivo ele iria lhes entregar algumas etiquetas. Ele queria que eles marcassem as suas armas com essas etiquetas e lhes passassem para que as pudesse verificar. Após o show eles poderiam pegá-las novamente. Ele recolheu 300 facas e 56 revólveres.
"Nós vamos vencer no final", disse Jerry. "Eu prometo a vocês, nós vamos vencer."
Jerry trabalhou com o U2 até 1997.
Agradecimento: Forum UV Brasil
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