É fevereiro de 2002. O primeiro Super Bowl após o 11 de Setembro foi uma exibição ininterrupta de bandeiras americanas, hinos e ex-presidentes. Mas são quatro irlandeses do U2 que sobem ao palco no intervalo.
É difícil imaginar outra banda ou artista tão capaz de falar sobre as ansiedades que fervilhavam na psique americana após o 11 de Setembro. Naquelas duas décadas desde o lançamento de seu primeiro disco, suas orações punk rock os tornaram testemunhas confiáveis da presença de Deus e da esperança por justiça em um mundo sombrio.
Quando a música começou, Edge estava tocando a Gibson Explorer que ele havia comprado em Nova York quando garoto. Bono apareceu no meio da multidão, cantando: "O coração é uma flor, brotando do chão pedregoso".
Makoto Fujimura, o pintor e autor de 'Art and Faith: A Theology of Making', descreveu a "guerra cultural" como uma mentalidade polarizada, que vê a cultura como um território a ser dominado em vez de um espaço comum que os cristãos compartilham com seus vizinhos. Em vez de um jogo de soma zero, ele nos convida a uma postura de "cuidado cultural" e "criatividade generativa" — criando e colaborando para trazer beleza e cura a um mundo quebrado.
"É preciso um certo tipo de coragem para ficar no meio da devastação e não se tornar cínico", ele disse. "Dada a história de Bono, faz sentido que ele queira falar 'Shalom' sobre o sofrimento no mundo".
Durante o show do intervalo, "Shalom" soou muito como "É um dia lindo".
Em diversas passagens bíblicas é encontrada a palavra 'Shalom' com o significado de paz e desejo de bem-estar entre as pessoas ou nações.
É fácil esquecer o choque do 11 de Setembro e a ansiedade que ele deixou em todo o mundo ocidental. Quando vivenciamos esse tipo de violência, precisamos de testemunhas proféticas que não só possam reacender nossa coragem e esperança, mas também nos ensinar a lamentar.
Quando o U2 começou sua segunda música, uma tela preta se ergueu bem alto atrás deles, com os nomes projetados das vítimas do 11 de Setembro rolando para o céu. The Edge começou os acordes familiares de "Where The Streets Have No Name", e Bono orou através do Salmo 51:15: "Oh Senhor, abra meus lábios para que minha boca manifeste teu louvor". A banda entrou na música junto, Bono gritando "América!" e oferecendo um grito de boca aberta em algum lugar entre um grito primitivo e um aleluia.
"Os artistas precisam aprender a ficar de pé sobre as cinzas do marco zero e acreditar que terão uma nova missão e uma nova música", Fujimura disse. "Isso significa prestar atenção a tudo isso — o bom e o ruim. Para alguém como Bono e o U2, suas experiências de trauma permitiram que ouvissem um chamado. Para prestar atenção aos arbustos em chamas — esses lugares onde Deus está falando — e compartilhar o que veem e ouvem com o mundo".
"Where The Streets Have No Name" é um lamento, uma prece por uma unidade que transcende as divisões de raça, classe e nação. Quando a música terminou, Bono abriu sua jaqueta e revelou as estrelas e listras costuradas em seu forro — mais um símbolo de solidariedade.
Bono mais tarde descreveu como uma noite de "alegria desafiadora". É uma descrição que se encaixa não apenas naquela noite, mas em todo o seu testemunho único.
Muitas vezes, artistas cristãos são confrontados com códigos não escritos — assuntos a evitar, autoimagens a projetar, mensagens a enfiar em seus projetos, pessoas a não ofender e políticas a endossar ou evitar. Poucas coisas são mais venenosas para a criatividade do que esse tipo de dogmatismo.
A resposta do U2 a esses confrontos foi aceitar o paradoxo e a contradição de viver em um espaço intermediário. Isso levou alguns a sugerir que eles são cristãos demais para o mainstream e mainstream demais para os cristãos. Parece que essa estrutura está completamente errada. Viver naquele espaço liminar os tornou mais capazes de falar com ambas as comunidades. Isso lhes deu a oportunidade naquela noite de 2002 de dar o presente da dor e da esperança a um mundo observador.
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