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domingo, 9 de setembro de 2018
09 de Setembro de 2014: tudo sobre o polêmico dia do anúncio de 'Songs Of Innocence'
Como uma grande surpresa em seu evento de outono em 2014, a Apple apresentou uma cópia gratuita do álbum do U2 'Songs Of Innocence' para todos com uma conta no iTunes - quer eles quisessem ou não. O site AppleInsider analisa como um dos maiores erros da era Tim Cook tomou forma.
O dia foi 9 de Setembro de 2014 e um dos eventos de outono mais significativos da Apple. Esta foi a apresentação em que Tim Cook e outros executivos da Apple revelaram o iPhone 6 e também fizeram o primeiro anúncio do Apple Watch. Depois de revelar que o relógio não seria lançado até o ano seguinte, Tim Cook disse que a Apple tinha mais uma coisa para anunciar.
Havia rumores nos dias que antecederam o evento que o U2 estaria participando da apresentação, possivelmente com uma performance ao vivo. Um rumor à parte fez com que o novo álbum fosse "pré-carregado" no novo iPhone, assim como os iPods da edição especial do U2 da década anterior haviam incluído um cupom para compra do box set digital das músicas da banda.
O New York Times informou na véspera do evento que "o U2 disse ter um papel no evento da Apple", mas, em seguida, um porta-voz da banda emitiu uma nota negando, dizendo que tinha sido um equívoco.
"Eles não estarão lançando um álbum no iPhone e não estarão se apresentando no lançamento do iPhone", disse o porta-voz a meios de comunicação.
Relatos de que uma recente gravação de um vídeo na Irlanda foi de fato a gravação de um comercial da Apple também foram negados nos mesmos termos.
A ideia de que a Apple e o U2 pudessem trabalhar juntos não era particularmente surpreendente. Bono e Steve Jobs eram amigos próximos, e Bono se referia a Jobs como "Elvis do software e hardware".
Bono foi um dos primeiros grandes músicos a endossar a ideia de uma loja de música iTunes, dando legitimidade a uma época em que a loja ainda era considerada um grande risco. O U2 também apareceu nos comerciais da Apple, principalmente para o iPod em 2004, com a música "Vertigo".
Pouco antes da morte de Jobs em 2011, Bono defendeu o histórico filantrópico de Jobs, observando as contribuições do co-fundador da Apple para a pesquisa sobre a AIDS.
A Apple e o U2 se uniram em 2004 para lançar o iPod em edição especial U2, o icônico dispositivo preto e vermelho. Em 2006, eles se juntaram novamente com a (PRODUCT) RED para uma edição especial do iPod nano, que levantou dinheiro para pesquisas sobre a AIDS.
Então, três anos depois, a banda iria novamente estrelar comerciais - mas, inesperadamente, para um rival da Apple.
Em 2009, o U2 fez uma parceria rapidamente com a BlackBerry. A empresa-mãe Research in Motion concordou em patrocinar a turnê do U2 naquele ano, e uma reportagem na época citava Bono dizendo que a RIM havia concordado em conceder à banda "acesso a seus laboratórios e a seus funcionários" de uma forma que a Apple não havia feito.
Bono teria dito que esse acesso significaria "podemos fazer algo realmente espetacular". É difícil imaginar a banda sentindo que eles poderiam contribuir para, digamos, as molduras de um telefone. Então o que eles achavam que poderiam criar através do BlackBerry, nada vinha disso, ou pelo menos nada para a companhia telefônica.
O U2 retornou ao time da Apple, mas foram cinco anos antes deles tentarem qualquer coisa que você pudesse chamar de espetacular. E então eles se arrependeram.
Apesar de desmentirem todos os rumores, o U2 realmente apareceu no palco naquele evento em setembro, e eles de fato anunciaram um acordo especial com a Apple.
"Uma década atrás, começamos uma profunda colaboração com uma das melhores bandas de todos os tempos, e essa banda é o U2", disse Tim Cook no palco, perto do fim da apresentação do dia. "O U2 concordou em se apresentar para você hoje, e não poderíamos estar mais animados com isso. O U2 está entre os artistas mais respeitados do mundo, entre os mais vendidos, e ganhou mais prêmios Grammy do que qualquer banda na história".
O U2 então tocou uma noa música chamada "The Miracle (Of Joey Ramone)" - e seguiu com uma surpresa.
Após a música, Cook, com um pouco de dúvida, perguntou: "não foi o single mais incrível que você já ouviu?".
Quando Cook sugeriu "um álbum completo com canções assim", Bono respondeu que a banda tinha, após anos no estúdio, finalmente criado um álbum "tão bom quanto nosso melhor trabalho, tão bom quanto o melhor que já fizemos".
Depois que Cook disse que se sentia da mesma forma sobre a abordagem da Apple em relação aos seus produtos, Bono concedeu o apelido "zen master do hardware e software" para ele.
Então veio o anúncio. O álbum, o primeiro do U2 em cinco anos, foi chamado de 'Songs Of Innocence', e Bono queria ele chegando "ao máximo de pessoas possível". Então, eles estariam fazendo algo único e nunca antes visto - ele daria o álbum para todos os meio bilhão de assinantes do iTunes naquele dia, naquele mesmo dia, de graça.
O álbum seria gratuito com exclusividade para a Apple por mais de um mês, antes de ser colocado à venda do jeito tradicional em outubro.
A manobra, que fez com que um dos artistas musicais mais populares do mundo renunciasse a um mês de abertura de vendas tradicionais de álbuns, em seu primeiro álbum em anos, custou à Apple cerca de US $ 100 milhões, informou o New York Times na época.
Dizer que este anúncio não foi tão bem recebido como a Apple esperava é um grande eufemismo.
O álbum foi "experimentado" por 33 milhões de pessoas na primeira semana, disse Eddy Cue na época, mas a reação foi quase instantânea.
Em vez de um presente, muitos clientes da Apple viram o álbum como algo invasivo à privacidade sagrada de sua conta no iTunes. Colocar um álbum na conta de um usuário - ou melhor, de todos eles - foi um passo que a Apple nunca havia tomado antes, e foi visto por muitos usuários como uma afronta.
A Wired descreveu a decisão como "desonesta" e "pior que spam". A Salon argumentou que a atitude fez do U2 "a banda mais odiada dos Estados Unidos".
Acontece que nem todo mundo é fã do U2. E, em 2014, a banda dificilmente estava no auge de seus poderes, com 'Songs Of Innocence', em termos de música, não recebendo críticas tão estelares quanto alguns dos trabalhos anteriores da banda.
A Apple provavelmente viu o U2 como uma banda segura, com uma ampla gama de popularidade, mas naquele momento na história do U2 não era mais o caso. Se alguma vez houve uma monocultura musical, ou artistas que são universalmente amados, essa era acabou na época de 'Songs Of Innocence'. A Apple, normalmente experiente quando se trata de assuntos de cultura e especialmente música, calculou mal nesse ponto.
Menos de uma semana após o acontecimento, a Apple lançou instruções sobre como remover o álbum das contas.
No mês seguinte, Bono se desculpou pela estratégia.
De acordo com a ABC News, o vocalista continuou: "Os artistas são propensos a esse tipo de coisa. Uma gota de megalomania, um toque de generosidade, uma pitada de auto-promoção e o profundo medo dessas músicas que colocamos nossa vida nos últimos anos não serem ouvidas. Há muito barulho lá fora por causa disso, e acho que ficamos um pouco barulhentos para tentar nos fazer ouvir".
A Apple, é claro, nunca tentou nada como o álbum do U2 novamente. E alguns anos depois, a empresa transformou completamente o modelo de seu negócio de música, com o lançamento do Apple Music.
Exclusividade com artistas são uma grande parte da competição da Apple Music com seus rivais Spotify e Tidal, e estes às vezes levam a controvérsias, mais recentemente com Nicki Minaj. Mas um serviço de streaming é muito diferente de uma conta pessoal do iTunes, onde um álbum tem potencial para aparecer sem permissão.
Quanto ao U2, ele se uniu à Apple Music em 2015 em um videoclipe de Realidade Virtual para "Song For Someone", com a Apple também participando do 'Experience Bus' do U2 em sua turnê naquele ano. O álbum seguinte da banda, 'Songs Of Experience', chegou no final de dezembro de 2017 e está disponível na Apple Music. E a parceria de caridade da Apple com a (PRODUCT) RED continua.
O incidente de 'Songs Of Innocence' não incluiu uma falha tecnológica, uma violação de segurança, um crime ou qualquer tipo de escândalo que envolvesse alguém sendo defraudado ou lesado. Mas foi, nos primeiros anos de Tim Cook no comando, um raro momento em que a Apple teve que lidar com o descontentamento de seu público.
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