Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 06
A cervejaria Skol foi a primeira à fechar contrato de R$ 2,5 milhões para patrocinar a vinda da turnê PopMart ao Brasil. Para que o evento se concretizasse, tinham que ser vendidos R$ 7,5 milhões em patrocínios.
Segundo o diretor de publicidade da MTV na época, a emissora que tomou a dianteira das negociações de patrocínio, havia contatos avançados com uma empresa de eletroeletrônicos, duas instituições financeiras e uma de cartão de crédito.
"A postura do U2 tem tudo a ver com nossos projetos de incentivar o rock, como o festival Skol Rock", afirmou o executivo da agência de propaganda F-Nazca, responsável pela conta da Skol. "O pacote da MTV é atraente, possibilita uma série de ações promocionais".
O diretor explicou as ações promocionais: "Não temos formato definido ainda, mas teremos promoções do tipo compre X latas de cerveja e concorra a tirar uma foto com a banda no backstage."
Ele disse que o empresário italiano Francesco Tomasi (que levou o U2 a Itália e se associou ao carioca Franco Bruni para trazer a banda ao Brasil) garantiu a concordância do U2: "Segundo ele, a banda está aberta a isso. Poderemos fazer algo como sortear alguém para subir no palco e cantar uma música em português com o U2".
Mas nada disto aconteceu, e a Skol ainda por cima causou uma tremenda dor de cabeça.
Para promover a apresentação, a Skol teve a idéia de gravar um comercial que seria veiculado na MTV como propaganda dos shows no Brasil.
Colocaram uma banda cover do U2 com trajes e visuais parecidos, tocando uma música que lembrava "With Or Without You", sem esclarecer que não se tratava do verdadeiro U2. "Espero que a propaganda esteja sendo encarada como uma sátira", ironizou na época Paul McGuinness, empresário da banda.
"Foi uma atitude muito cínica deles e nós não soubemos de nada".
Por princípio até então, os integrantes do U2 nunca tinham aceitado patrocinadores em suas turnês.
Mas, para tornar possível a vinda da PopMart para a América Latina, tiveram que ceder. "É um princípio difícil de ser mantido em um mundo comercial como o nosso", afirmou o empresário. "Acho que todos se sentem desconfortáveis, mas, sem o patrocínio seria impossível ter vindo."
McGuinnes na época disse que a banda não tinha definido se iria tomar alguma medida judicial contra a Skol ou se continuaria a aceitar patrocinadores. "É uma pergunta difícil de responder", disse. "Certamente preciso de todo o meu humor para assistir ao comercial da Skol."
Franco Bruni contratou o escritório de advocacia Carnide & Associados para prestar assessoria jurídica e tributária. "Eles vão cuidar de todas as taxas e impostos, queremos essa consultoria para garantir que tudo seja feito estritamente dentro da lei. Não é nada mais nem menos que o meu dever", avisou Bruni.
Ele quis afastar assim o receio do mercado devido a denúncias de subfaturamento que envolvem turnês internacionais no Brasil e por Francesco Tomasi ter admitido que enfrentava problemas com o fisco italiano.
Marco Aurélio dos Reis, da Skol, disse que a empresa estava tranquila. "Nosso contato não é com o U2 ou com os promotores, é com a MTV. Nem sei quanto a banda está pedindo. Confiamos na MTV".
Ele disse que acreditava que não havia o risco no caso U2. "Em eventos grandes isso não ocorre. Todos os grandes grupos exigem comprovação de recolhimento de Imposto de Renda. Eles têm que prestar contas ao fisco de seus países".
O empresário italiano Francesco Tomasi, que se associou ao carioca Franco Bruni para trazer a turnê PopMart ao Brasil, estava no país para vistoriar dois estádios (Maracanã e Morumbi) e supervisionar, com a MTV, a negociação de outros patrocínios para sua viabilização.