Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 03
Ao contrário da maioria dos astros do rock, que costumam fazer exigências mirabolantes aos hotéis, os integrantes do U2 foram considerados "pessoas simples" pelos funcionários dos hotéis Copacabana Palace, no Rio, e no hotel de São Paulo, onde ficaram hospedados para os shows pela Popmart Tour em 1998.
Os únicos pedidos da banda ao hotel paulista foram água mineral, cestas de frutas, sanduíches, sucos naturais e vinho tinto.
Oficialmente o hotel se recusa a divulgar qualquer informação a respeito da estada do U2. Segundo a gerência, no contrato entre a banda e o hotel há uma cláusula que exige o anonimato do grupo.
A Folha de São Paulo apurou na época que a banda estava registrada com nomes falsos em São Paulo e deveria ocupar a suíte presidencial que fica no 25º andar e mais quatro suítes de luxo "Stanford" no 23º e 24º.
No Rio, onde ocupou os quartos de luxo na cobertura do Copacabana Palace, a banda teria se comportado como hóspedes comuns. "Nós ficamos surpresos com a simplicidade deles, nem parecia que eram famosos", disse um dos gerentes do hotel que não quis se identificar.
Segundo ele, apesar de terem seus próprios cozinheiros, Bono e os outros músicos comeram a comida do restaurante do hotel, sem qualquer restrição.
Os dois primeiros integrantes do U2 à chegar ao Rio, três dias antes da apresentação, foram Bono, que veio de Dublin, e Adam Clayton, procedente de Nova Iorque. Simpático e não aparentando cansaço, o vocalista estava de bom humor, ao contrário de Adam, que ainda por causa das férias, estava bem barbudo e preferiu fugir do contato com os fãs.
Ao chegar ao Copacabana Palace, depois de se hospedar na suíte presidencial, Bono voltou para conversar com os repórteres. "Enquanto o Papa faz rock em Cuba, nós viemos fazer rock no Rio", brincou o cantor. O guitarrista The Edge e o baterista Larry Mullen Jr. só chegaram dois dias antes do show. Churrasco, boate em Ipanema, passagem pelo ensaio da escola de samba Salgueiro e uma viagem para espairecer em Angra dos Reis, onde ficaram até a madrugada anterior ao dia do show, pontuaram os primeiros passeios da banda no Brasil.
A viagem realizou um sonho de infância de Bono. Segundo ele declarou, aos 8 anos de idade, ele e um amigo - Guggi - sonhavam em conhecer o Brasil. Com a Popmart aterrisando no Brasil, Bono aproveitou e trouxe o amigo artista plástico de Dublin, junto com ele.
O bom senso (em partes) prevaleceu na organização dos shows do U2 no Brasil. Gabriel O Pensador foi escolhido para abrir as apresentações da turnê PopMart no Brasil. As primeiras escolhas dos produtores brasileiros eram no mínimo estranhas: Daniela Mercury, Carlinhos Brown ou Novos Baianos. O empresário do grupo, Paul McGuinness, inicialmente, teria topado os nomes, mas foi a própria banda quem optou pelo rapper Gabriel.
O produtor do evento no Brasil, Franco Bruni, responsável pela lista de indicações, resolveu escolher Gabriel O Pensador, depois de assistir a uma apresentação do músico e compositor. "Fiquei impressionado com o que vi, desde as crianças até os mais velhos estavam empolgados. Depois do show não fiz o convite, mas disse duas palavras: te adoro", falou Bruni.
No ano de 1997, o rapper conheceu a produção da PopMart, em Portugal. "Meu produtor me levou para assistir à montagem do palco na véspera de um show deles. Quando entrei, todos os portugueses que estavam trabalhando pararam, sei que isso chegou ao conhecimento da banda".
Gabriel não escondeu a emoção com a escolha. "Como não pude ver a PopMart em Lisboa, fiquei torcendo para que quando viessem ao Brasil estivesse livre para assistir. Jamais poderia imaginar que estaria no palco com eles", disse. Para participar do evento, o músico brasileiro teve que fazer algumas alterações na agenda.
O palco, com 1.192 metros quadrados, é encimado por um arco dourado. Um telão de alta definição, com 816 metros quadrados e 30 toneladas de peso, além de uma passarela de 30 metros para os músicos, completam o cenário de Popmart. Ao todo, são 1.200 toneladas de equipamento, que chegaram ao Rio em 69 containers. Os cabos somam 35 quilômetros e o som tem mais de um milhão de watts de potência.
Bono explicou que era muito difícil viajar com a estrutura montada nas últimas turnês da banda. "Financeiramente é uma loucura. O show do U2 é algo muito grande e arriscado. Nós não queríamos tocar no Brasil com um show de segunda. Estamos trazendo todo o aparato. Estamos trazendo toda a merda", frisou. "Este é o maior show de todos os tempos".
Um forte esquema de segurança - que incluiu cerca de 300 policiais militares, bombeiros e até integrantes das Forças Armadas à paisana - foi montado pelos organizadores da turnê para dar cobertura ao grupo, aos produtores e ao público. Os músicos, no entanto, não dispensaram os seguranças estrangeiros. "Pelo contrato, tenho que garantir segurança de primeiro mundo", disse Bruni, ao comentar sobre a rigidez da segurança na visita de Bono à quadra do Salgueiro.
Para a noite do show, foram contratados 2.500 homens, a maior parte é de civis, que receberam R$ 30,00. Os militares, policiais e bombeiros receberam R$ 100,00.