PARA VOCÊ ENCONTRAR O QUE ESTÁ PROCURANDO

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Depois dos megashows do U2 no Brasil em 1998, uma megaconfusão nos bastidores

Um mês após o U2 deixar o Brasil depois de 3 shows espetaculares pela turnê Popmart, outro espetáculo continuou nos bastidores, como um show fechado sem platéia. A confusão incluiu acusações de calotes, sonegação, desvio de dinheiro e até ameaças de morte.
O Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) entrou na Justiça para receber o pagamento de direitos autorais. Pediu R$ 650 mil, menos do que os 10% de bilheteria a que teria direito. Parte estava depositada em juízo.
O empresário Franco Bruni, promotor do evento, entrou na Justiça contra a C&A, uma das patrocinadoras do show e responsável pela venda de ingressos, porque não concordou com a prestação de contas feita pela empresa. Ele diz que ainda tinha entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões a receber.
A C&A entrou na Justiça contra Bruni. A empresa acusou o empresário de, sem autorização, ter retirado os ingressos de suas lojas para alterar preços e localizações por causa da mudança do local do concerto no Rio (era no Maracanã e passou para o Autódromo).
Segundo a empresa, 20 mil ingressos não foram devolvidos. "Talvez isso justifique a notícia que os próprios seguranças estavam vendendo ingressos como cambistas, com talões de ingressos nas mãos que eram oferecidos na porta do autódromo no dia do show no Rio", disse o advogado da C&A.
Vários seguranças que vestiam a camiseta com inscrição "controle" portavam talões de ingressos em Jacarepaguá. Eles os ofereciam a fãs que chegavam atrasados e sem entrada.
Quase todos os ingressos eram de arquibancada e tinham preço oficial de R$ 20. Na revenda, o preço original era mantido, mas o segurança informava que o ingresso estava valendo para o gramado e que a entrada seria facilitada.
A venda paralela de ingressos tinha a participação de, pelo menos, 30 seguranças. Fora do autódromo, eles conversavam com fãs interessados em comprar ingressos e os encaminhavam ao portão, onde outro grupo cuidava da venda.
Um homem com um rádio parecia comandar a revenda.
O produtor italiano da turnê, Fran Tomasi, classificou os fatos como "graves": "Talvez os seguranças que estavam vendendo ingressos tenham recebido convites que não utilizaram", afirmou. Quando à facilitação para a mudança de setor, onde o pessoal que estava nas arquibancadas pagava um pequeno valor para poder passar para a pista em uma fresta num tapume de espuma que fazia a separação dos locais, Fran disse que "isso é muito errado".

Bruni diz que devolveu tudo que havia pego. A C&A contou, recontou e verificou os canhotos um a um. Pela última contagem fechada pela C&A, foram arrecadados R$ 7.090.025. E 6.000 ingressos não foram vendidos em São Paulo, o que causa estranheza, já que o segundo show em São Paulo estava abarrotada de gente, com quase 120 mil pessoas ocupando todos os locais. No Rio, ninguém sabe qual foi o encalhe.
A FB Promoções, Produções e Marketing, uma das duas empresas usadas por Bruni no evento (a outra é o Instituto Franco Bruni)- diz que entregou ingressos no valor de R$ 9,265 milhões. Bruni e a C&A discutiram sobre a diferença entre os dois valores. Nas duas contas não entrou o R$ 1,1 milhão referente a venda de cadeiras cativas do Morumbi.
Alheios a isso, os fornecedores ainda esperavam o pagamento por seus serviços. O produtor do show, César Castanho, estima que a dívida tenha chegado a R$ 200 mil. A C&A lavou as mãos. "Nós somos como a Petrobrás na camisa do Flamengo", afirmou o diretor da empresa.
E ainda faltava pagar o ISS (Imposto Sobre Serviço) aos municípios.
Mas as confusões começaram antes e continuaram depois do show do Rio, no dia 28 de janeiro. A primeira irregularidade que mereceu atenção foi a existência de pelo menos dois contratos diferentes. O que foi firmado com a banda, com quatro sub-contratos, não foi o que chegou ao Brasil, que tinha apenas dois sub-contratos (relativos aos cachês para banda e técnicos).
Não se sabe o destino das cláusulas que tratavam dos custos do aluguel da estrutura do show e do lucro da TNA e CPI (que negociaram os shows da banda).
Os dois contratos também diferiam pelo número de páginas. De quase 50 para 17.
"Se existe algum outro contrato, isso não está dentro das normas da legislação", afirmou o coordenador do departamento de Migração.
É bem verdade que não havia indícios de subfaturamento no contrato. O cachê de quase R$ 1 milhão por show para os quatro membros do U2 foi o maior já pago no Brasil até aquele momento. Oficialmente, pelo menos.
A Folha de São Paulo teve acesso aos documentos de remessa de dinheiro para o exterior, com registro no Banco Central e pagamento de Imposto de Renda na fonte. Fato, aliás, que dificultou a vinda do grupo. A TNA, que tinha escritório em Bahamas, ilha do Caribe conhecida como refúgio de turistas e como paraíso fiscal, não queria que houvesse desconto na fonte.
Em poucas coisas Bruni, C&A e MTV (co-promotora do evento) concordaram. Uma delas é que os empresários da banda não queriam pagar imposto no Brasil. "Você nunca vai encontrar alguém que pagou tanto sindicato ou IR em um show só. Você sabe que qualquer outro faria um contrato diferente", afirmou Bruni.


No showbizz, nem tudo é como parece ser. Parte da imprensa noticiou que a banda queria vir ao Brasil e estava disposta a ganhar menos para isso. Não foi bem assim. O show estava sendo negociado por US$ 5,9 milhões. Por causa da disputa de empresários interessados em trazer o U2, o preço saltou para US$ 8 milhões, mais de 33% de ágio. O total de gastos para trazer o grupo chegou a R$ 10 milhões, segundo o diretor da MTV na época.
Com tanta confusão antes e depois da vinda da banda, não é de se estranhar que o U2 tenha entrado para a história do Rio de Janeiro, menos pelo show realizado e mais por ter protagonizado o maior engarrafamento ocorrido no Rio. Fruto de desorganização condizente com o superlativo megashow. Bono cansou de pedir desculpas e lamentar o ocorrido em entrevistas futuras.
Em São Paulo, enquanto as pessoas viam o U2,o produtor do evento teria sido ameaçado de morte. Ele registrou um boletim de ocorrência, mas se recusou a falar sobre o assunto.
No ano de 2011, Larry Mullen Jr., baterista e representante legal do U2, foi condenado pela Justiça brasileira a pagar R$ 800 mil ao empresário Franco Bruni.
Em novembro de 2000, quando visitou o Rio para divulgar o CD "All That You Can't Leave Behind", Mullen disse ao jornal "O Globo" que o grupo não tinha recebido todo o pagamento pelos shows. "Fomos embora sem receber uma boa parte do cachê", declarou o baterista.
Na mesma ocasião, Bono lamentou que os shows nos Brasil foram "desorganizados".
Três dias depois, o empresário entrou com pedido de processo por danos morais na Justiça de Santa Catarina, onde ele reside, apresentando as notas fiscais correspondentes aos pagamentos efetuados à banda.
O processo foi aberto em 2003 e as audiências se deram entre 2005 e 2010, sem que nenhum representante da banda tivesse tomado parte de nenhuma delas.
Em 2006, quando o U2 retornou ao Brasil durante a turnê "Vertigo", Mullen e Bono receberam citações judiciais após a chegada do avião da banda, em Guarulhos.
Segundo consta nos relatos do processo, o avião teria pedido permissão para decolar quando os integrantes da banda souberam da presença de oficiais de Justiça e agentes da Polícia Federal, mas permaneceu no solo.
Mullen não assinou o documento e escreveu nele "palavras incompreensíveis". Já Bono assinou a citação com seu nome verdadeiro, Paul Hewson.
Em janeiro de 2011 decisão da 3º Vara Cível da Comarca de Balneário Camboriú (SC), determinou que Mullen pague R$ 800 mil de indenização a Franco Bruni. Na sentença, as declarações do músico foram consideradas "desabonadoras e desprovidas de veracidade".
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...