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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

São Paulo se rendia ao U2 pela primeira vez, há exatos 15 anos atrás

Especial 15 anos de Popmart no Brasil - Parte 09

Churrasco e boate em Ipanema, ensaio de escola de samba na quadra do Salgueiro e viagem a uma praia de Angra dos Reis marcaram os dias de folga dos integrantes do U2 no Rio de Janeiro antes do primeiro show no Brasil. Entusiasmados com Angra dos Reis (no litoral Sul do Estado) e temerosos com o mau tempo, Bono e The Edge avisaram que passariam a madrugada do dia 25 para o dia 26 na ilha onde estavam. De helicóptero, eles voltaram na segunda para o Rio, onde às 18h30 testaram o som no Autódromo.
Irritado com o assédio de fãs e jornalistas, Adam Clayton ficou no hotel Copacabana Palace (zona sul). A chegada do baterista Larry Mullen ao Rio aconteceu no dia 25, às 23h. O guitarrista The Edge desembarcou às 11h15.
Há dois dias do show no Rio, quase 45% dos ingressos para o espetáculo, cerca de 50 mil do total de 113 mil, ainda não tinham sido vendidos. A situação contrastava com a de São Paulo, onde os bilhetes para os dois shows já haviam acabado, e a produção começava a vender 16 mil novos bilhetes, para as cadeiras especiais do Morumbi, por R$ 60.
A banda se apresentou no dia 27 de janeiro de 1998 no Autódromo Nelson Piquet (Jacarepaguá, zona oeste do Rio).
30 de janeiro de 1998, Estádio do Morumbi, São Paulo. O segundo show da turnê no Brasil, o primeiro na cidade de São Paulo. Os portões do Morumbi só foram abertos às 14h45, 45 minutos depois do anunciado pela Polícia Militar. Os técnicos do U2 permaneceram no palco fazendo o ajuste do som. A banda só chegou do Rio de Janeiro por volta das 18h00, direto para o Morumbi.
Até alguns minutos antes das 14h45, a PM e a produção canadense da turnê não haviam chegado a um acordo sobre o horário de abertura dos portões. A polícia queria liberar a entrada às 14h para evitar tumulto do lado de fora do estádio. Greg Evans, diretor da PopMart internacional, preferia às 16h30 para evitar tumulto dentro do estádio.
O atraso na montagem do palco fez com que ambos estivessem errados, e o público só pisou no gramado às 14h45 e as arquibancadas foram liberadas 15 minutos depois.
A passagem de som foi feita pela equipe da banda. Os quatro integrantes da banda permaneceram dentro dos camarins até o início do show. Só depois da apresentação que se hospedaram no Hotel Renaissance.
Nos 340 m2 da suíte presidencial do Renaissance havia três salas, três banheiros, dois quartos e um terraço com vista para a Avenida Paulista e uma banheira de hidromassagem para seis pessoas. O preço da diária era de R$ 6.000.
As outras suítes de luxo que a banda ocupou possuiam sala, quarto e banheiro com hidromassagem e custaram R$ 485 por dia.
A assessoria de imprensa informou que ainda havia ingressos para os shows de sexta e sábado, nas bilheterias do estádio. Cambistas também vendiam ingressos de pista à R$80,00.
Inesquecíveis mesmo foram as duas noites que ficarão para sempre na memória de quem compareceu ao Estádio do Morumbi na sexta e no sábado, dias 30 e 31 de janeiro de 1998. Os problemas ocorridos no Rio de Janeiro ficaram para trás, o público foi um espetáculo à parte e o U2 fez uma de suas mais antológicas apresentações. Quem teve peito para se mandar para São Paulo não se arrependeu. Quem ficou em casa perdeu um dos maiores - senão o maior - espetáculo que já aportou no Brasil.
Por volta do meio-dia, a massa humana começou a chegar no Morumbi. As filas já estavam enormes por causa dos fanáticos que chegaram a dormir na porta do estádio. O calor era grande, mas nada que impedisse os U2-maníacos de esperar mais de doze horas pelos ídolos.
O gramado ficou tomado logo no início da tarde. Quem quisesse ver o U2 de perto teria que ficar cerca de quatro horas em pé, no aperto e num sol escaldante. Isso, para ver o grupo nas suas sessões de meio de palco, porque a frente era tomada pelos VIPs que pagaram R$ 200,00 para ficar no gargarejo. Às 19h30, com o estádio completamente lotado - cerca de 80 mil pessoas, de acordo com os produtores -, a banda brasiliense Bootnafat subiu ao palco. E começaram apelando: mandaram ver Eu Quero Ver o Oco, dos Raimundos. A música não bastou para conquistar o público. Os vencedores do Skol Rock - patrocinadora da etapa brasileira da PopMart - tocaram mais duas músicas, entre elas, um cover do Rage Against The Machine - banda que estava cotada para abrir os shows. O Bootnafat estava totalmente deslocado sem o público metaleiro para ajudá-los.
A agonia persistiu com a entrada de Gabriel, O Pensador. O rapper de boutique começou a apresentação às 20h00 e por cinqüenta minutos o público teve que suportar hits do quilate de Lôraburra e Cachimbo da Paz. Gabriel estava passando a impressão de insegurança no palco, sempre agradecendo ao U2, como se estivesse com medo das vaias, que foram poucas, apesar da fraqueza do show.
Com uma pontualidade britânica, às 21h30, começaram as primeiras batidas da música tema de Missão Impossível, atualizada por Adam Clayton e Larry Mullen Jr. O público começou o show que continuaria por toda a noite. O mega-telão mostrou a letra "O" do Pop se transformando numa bola de futebol. Era tudo que precisava. Sob os acordes pré-gravados de PopMuzik, o U2 surge no meio da multidão. Bono, o último a aparecer, sobe ao palco vestido de lutador de boxe e mostra porque é considerado um dos maiores showman do rock'n'roll atual. Ele cumprimenta o público e começa a primeira de uma série de nocautes. Mofo, a música mais techno do U2 transforma o Morumbi num caldeirão. Nenhuma alma viva fica parada. Logo depois, o oposto: I Will Follow, uma das primeiras canções dos irlandeses. É impressionante a resposta do público, cantando toda a música junto com o grupo, que emenda Gone, mais uma do novo disco.
Em Even Better Than The Real Thing começa o diálogo de Bono com a platéia. Ele mostra que as aulas de português valeram para algo, apesar de parecer o Papa falando. "E aí, paulistas? Tudo Bem?", gritou, recebendo uma sonora resposta de 80 mil gargantas, enquanto começava a música. "Esta não é a última noite em São Paulo", mandou Bono, justificando Last Night On Earth. Depois de uma versão mais funkeada de Until The End Of The World, recomeçou a loucura. New Year's Day e Pride (In The Name Of Love) transformaram o Morumbi num imenso karaokê. Bono pareceu se emocionar e dançou quando público aumentou a velocidade das palmas. O público fez a lição de casa. Depois de 17 anos de espera, I Still Haven't Found What I'm Looking For foi cantada de ponta a ponta pelo estádio, chegando, às vezes a superar a voz de Bono, que sorriu e mandou um "God, I Love You".
A grande surpresa da noite veio depois, quando The Edge dedilhou os acordes da tão especial Bad, música que o U2 tocou pela primeira vez na turnê, desde os tempos da ZooTV. O povão foi à loucura. Ela foi ensaida na passagem de som no Rio. 
Na metade do show, Bono e Edge se mandaram para um palco menor, no meio do público. Lá, eles entoaram Staring At The Sun numa versão acústica que precedeu outro grande momento do espetáculo: Sunday Bloody Sunday. A ansiedade pelo hino era grande. Somente o guitarrista cantou acompanhado por todas as vozes possíveis. Foi de arrepiar qualquer ser humano.
Enquanto estavam aqui no Brasil, um fato fundamenta: o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, anunciou que o Domingo Sangrento, o massacre de 14 católicos desarmados por soldados ingleses em Londonderry, seria reinvestigado. Aquele dia era o 26º aniversário do massacre, e Bono agradeceu a Blair. Foi aqui que Bono soube de um grande avanço na pacificação irlandesa.
Luzes todas apagadas e a batida de Bullet The Blue Sky levantou a galera. Somente quatro holofotes apontando para o céu iluminaram o estádio, que vê o desenhos de Roy Lichtenstein e Bono fazendo suas costumeiras críticas aos Estados Unidos. Ele caminha com um boné na mão - como se estivesse pedindo esmolas- e falando: "Brasil, Don't run into the arms of America" ("Brasil, não corra para os braços da América"). É inegável o carisma que o vocalista tem junto ao público. Bono, em nenhuma hora, perdeu o controle sob a platéia. Hora de parar um pouco e viajar ao som de Please, que fez um medley com Where The Streets Have No Name. Neste momento tinha-se a impressão de que estádio iria abaixo, tamanha a empolgação.
Parada para o bis. O grupo se despediu sem muita credibilidade. Enquanto tocava uma versão remix de Lemon, o telão mostrava uma dançarina do ventre transex fazendo piruetas. Cinco minutos depois, um forte barulho anunciou que algo maior estava para acontecer. Um limão gigantesco percorreu o palco e quando se abriu, mostrou os quatro inttegrantes do U2. The Edge foi o primeiro a descer - fazendo o sinal da cruz como um jogador de futebol -, seguido de Adam Clayton e Larry Mullen. Bono ficou um pouco no limão, quando cantarolou Discothèque. A música assumiu ares mais rock e, ao contrário do que muitos dizem, funcionou muito bem ao vivo. Depois do agito, a calmaria: If You Wear That Velvet Dress. Como a música é meio desconhecida, foi a hora do público descansar um pouco mais.
With Or Without You começou e Bono foi tirando uma garota da platéia para dançar. 
Enquanto ele cantava no colo da menina, gritos histéricos de fãs com inveja tomavam o gramado. O público levantou a voz outra vez e Bono não parecia acreditar no que ouvia e falou: "It's the time of our life" ("este é o momento de nossas vidas") . Gritaria geral e outra despedida em vão. O grupo voltou para tocar a potente Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me, da trilha do filme Batman Eternamente. A música pareceu significar algo mais para o U2. Uma espécie de paródia, de rompimento, que Bono faz questão de demostrar imitando o personagem criado na última turnê, o demônio MacPhisto. A roupagem mais techno da canção pôs todo mundo para dançar e o grupo mandou outra: Mysterious Ways. Bono, então surpreendeu todo mundo e pegou outra menina do palco, que não se contentou e agarrou o vocalista, quase a ponto de não deixá-lo cantar. Adriana Fontenelle Brito, 14 anos, que veio de Goiânia e chegou ao estádio às 4h, também viu Bono cantar "One".
O show se encerrou com Unchained Melody, seguido de Bono dizendo um "tudo bem" e abaixando para beijar o palco.
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