Do livro "U2 At the End of the World" - Bill Flanagan
É tarde de 3 de julho de 1993, no Estádio Bentegodi. Está muito quente em Verona. As pessoas no estádio estão usando o mínimo de roupa possível. No palco, Pearl Jam, que com o seu primeiro álbum se tornaram muito famosos nos Estados Unidos, estão tentando se conectar à um grande público que não os conhece. Eddie Vedder, o apaixonado cantor e líder da banda, não irá descer para uma briga. Ele diz à multidão, "Esse é um lugar muito grande para uma coisa tão pequena como a música. Mal consigo esperar para voltar e tocar em um lugar onde nós consigamos vê-los."
A banda então toca uma nova música chamada "Daughter", um ritmo lento com uma letra poderosa - "she holds the hand that holds her down" ("ela segura a mão que lhe empurra pra baixo") – assim como várias letras de Vedder que parecem ser sobre uma criança sofrendo nas mãos de pais incompetentes ou destraídos. Isso não significa nada para a maioria do público que está conversando, rindo e bebendo, mas claramente significa muito para o Eddie.
Quando isso acaba, ele vai para a ponta do palco, olhando para a platéia desinteressada e canta, quietamente, as primeiras linhas de "I Will Follow" do U2. É difícil dizer se ele está tentando ridicularizar a fome do público pela atração principal ou tentando fazer uma conexão.
Em várias maneiras, Vedder parecer ser um fã que encontrou o seu caminho para um palco do U2 por um engano e percebeu que enquanto ele estiver lá em cima, ele irá sentir como é cantar as suas músicas.
Atrás dele, a banda começa a tocar uma versão bem lenta de "Sympathy For The Devil" e Edge cria uma nova letra para se encaixar nessa circunstância: "I got here through twenty-nine stadiums." ("Eu cheguei aqui através de vinte e nove estádios"). Ele segura uma máscara de diabo e a platéia fica um pouco assustada. Vedder põe a máscara, e depois tenta uma máscara de mosca. Pergunto-me se ele está zombando com o personagem de palco do Bono – o diabólico Macphisto e o The Fly.
"Eu tenho uma pergunta," Vedder diz calmamente, tirando a máscara. "Como vocês dizem 1-2-3-41" e o Pearl Jam começa uma versão gritante de "Rockin' In The Free World" do Neil Young. Vedder corre pela rampa até o b-stage do U2 e se lança na multidão. Eu não acho que Verona já tinha presenciado uma divisão de palco antes. A multidão nas arquibancadas ainda parece muito desinteressada, mas o povo na pista em frente ao palco está enloquecendo.
Eu vejo Vedder sendo levantado nos braços do povo, depois desaparecendo sob eles, depois subindo, como um nadador lutando contra uma tempestade. Finalmente ele consegue escapar de volta para o palco, com a maioria das suas roupas transformadas em farrapos. Ele fez contato com o público da mesma forma imprudente que quase fez o Bono ser expulso do U2 uma década atrás.
Sobre o Vedder, Bono diz, "Ele não é um animal rock & roll, ele surgiu de um lugar diferente, eu lugar que eu prefiro. Mas ele está em uma banda de rock & roll e tem que se proteger. Ele provavelmente não acha que está de máscara, e assim, ele pode não ter entendido as várias máscaras da Zoo TV. Mas ele tem uma máscara, e isso está tudo bem, porque o lugar mais importante para não se usar uma máscara, é nas músicas. É aí onde eu vivo, e acho que também é onde ele vive. Talvez eles estajam passando pelo que nós passamos nos anos oitenta, que é correr pra longe das besteiras. Tenho certeza que irão encontrar o seu próprio caminho de fazer isso. O que eu exatamente não gosto sobre a nossa posição nos anos oitenta, é que nós estávamos correndo pra longe ao invés de apenas está rindo na sua cara, que é o que onde nós estamos agora." Bono pensa sobre isso e decide, "Ele [Eddie] é um cara estranho. Eu gosto muito dele."
Agradecimento pela tradução: Forum UV Brasil