PARA VOCÊ ENCONTRAR O QUE ESTÁ PROCURANDO

terça-feira, 23 de junho de 2015

Experiência: A Entrevista de Bono no Chicago Tribune - Parte 2


Bono, em um restaurante francês em Quebec, concedeu uma entrevista ao Chicago Tribune, após o último de quatro shows do U2 no Bell Centre.

Ele fala sobre os fãs, sobre 'Songs Of Innocence', sobre as novas canções funcionarem, sobre as influências para a realização de shows de arena, sobre o vídeo de sua mãe utilizado no telão da turnê, sobre o motivo da canção "Volcano" vir na sequência de "Iris (Hold Me Close)" no disco.

Por personalização, você está tentando incentivar as pessoas que possam se sentir impotentes para desempenhar um papel mais ativista?

Alguém provavelmente poderia estudar sobre nosso público. Muitos deles estão envolvidos de alguma forma em sua comunidade local. Não é um rigor sendo um fã do U2, você pode vir e ficar ao redor, você não precisa entrar nas águas profundas de ser um fã do U2. Mas muitos deles querem um mundo melhor, eles querem ser parte de uma solução e estão se envolvendo. Como disse John Lennon, você não precisa levá-los. O mundo não precisa ser da forma que é. Você pode persuadir, você pode ajudar a dar-lhe uma forma melhor. Quando se é jovem, há uma grande clareza. Sinto falta disso. Mas quando você envelhece, você percebe que um dos maiores obstáculos que você vai encontrar em sua vida é você mesmo. Isso começou na nossa música com 'Achtung Baby', que é quando nós entramos na hipocrisia do coração humano.

O show faz as músicas acontecerem, mas a produção em 'Songs Of Innocence' é branda, que despersonaliza elas. Você sente que o álbum conseguiu o que queria?

Sendo honesto, há algo sobre o som do disco que é um pouco organizado demais. Isso é o que acontece quando você fica muito tempo no estúdio.
Mas se chama 'Songs Of Innocence' por uma razão. Esse é o desafio com esta banda, após todos estes anos — composição — não fogos de artifício sônicos ou experimentação sonora. Podemos escrever canções que verdadeiramente resistem? Conversando com nossos amigos Damien Rice e Glen Hansard, os trovadores, eles só têm um violão, então suas canções e palavras resistem melhor. Com uma banda, você pode ocultar o fato de que as músicas não estão lá. Mas neste álbum, sinto que podemos tocar 10 delas no show. Como artistas, temos este segundo sentido de quando uma música está se expressando. Nós sabemos o que está acontecendo em um local. Se funciona ou não. Temos uma ajuda extra com este aparelho (multimídia), no departamento de contar histórias. Mas eu sei que posso cantar essas músicas em um restaurante com uma guitarra e elas funcionarão.

Os visuais do concerto melhoram o aspecto de contar histórias das músicas novas, e o aspecto multimídia do show de arena sempre foi um dos pontos fortes do U2. Quais são as raízes daquilo?

'Spider-Man Turn Off The Dark' nos deixou interessados no teatro, não apenas em fazer algo diferente, mas também conversamos com Paul McCartney, que nos disse que os Beatles foram influenciados por Rodgers e Hammerstein. Aqueles acordes que os Beatles escreveram, há Gershwin lá dentro. Em Dublin durante os anos 70, estávamos ligados no The Clash, e o The Clash falava sobre seu público como 'nós'. Não há nenhuma divisão, somos nós. E nós acreditávamos neles. Aprendemos que há artistas que gostam bastante da distância que o palco lhe dá, e existem bandas que não gostam. Fomos para ver a peça 'Jerusalém' na Broadway, com Mark Rylance, e teve muita influência. Há um sentido imediato do que Rylance vai ser na sua vida, em sua expressão, certamente em sua vida emocional. Iggy Pop, Patti Smith são assim. Iggy foi uma influência muito importante, não apenas como um extraordinário compositor e artista e músico, mas um performer. Ele está sempre tentando quebrar a quarta parede. Isso começa com uma banda punk, e minha revelação sobre o rock de estádio foi que não tem nada a ver com a proximidade física, mas a proximidade emocional. Você poderia estar em um clube bem perto, e a banda aparece lá em cima como: 'Me enfrente, aqui está outro pensamento que tive que você provavelmente não pode entender.'
Todas essas pessoas dizendo para bandas de rock: 'não vão para as arenas' — que é tudo um monte de estúpidos. Começa com a proximidade emocional, e você pode usar a tecnologia para criar proximidade física. Isto volta para o U2 tocando em clubes, passando pelo público com uma bandeira branca e entrando em uma briga por causa disso.

Os elementos visuais também trabalham porque em sua essência, estas são performances que lembram de seus primeiros dias na era punk. Para mim uma potencial canção sentimental como "Iris (Hold Me Close)" se encaixa com isso. Apesar de seus receios anteriores sobre isso, você sente que funciona como parte do que?

Eu acho que funciona neste contexto porque é emocionalmente muito crua. A história por trás daquele trecho de filme (que acompanha a música no concerto), é que um amigo de um amigo de um amigo encontrou meu irmão em um aeroporto e disse que conhecia alguém que tinha o filme de nossa família. Não temos nenhuma imagem visual deles e sim, apenas algumas fotografias, que tendemos a não ficar olhando, dessa forma clássica do macho irlandês. E colocamos lá e vemos minha mãe em movimento... Ela é jovem, 23 anos de idade, jogando rounders (um jogo de taco e bola). Todo mundo tem essas memórias de família, mas éramos bons em suprimi-las. Quando nós estávamos escrevendo as músicas, eu estava tentando escrever estas memórias para me lembrar delas. Tenho essa linha: "Iris disse que eu seria a morte dela/mas eu não fui" e isto me fez parar. Não sabia o que significava. Eu percebi que cada criança que perde sua mãe acha que sua mãe o abandonou. Mesmo se sua mãe é atropelada por carro, há o 'ela me deixou'. E a dor se transforma em raiva. Essa é a história do rock' n'roll — o abandono das mães. Isso volta para a tristeza: 'Às vezes me sinto como uma criança sem mãe.' Foi assim com Paul McCartney, Johnny Lydon, muitos de nós. No hip-hop é o abandono do pai que é o catalisador central. No rock'n'roll, são as mães. Então vai lá, você tenta transformar a ferida em uma abertura, em algo fantástico, como música. É por isso que a canção "Volcano" vem na sequência de "Iris (Hold Me Close)" no disco, você pode sentir esta estrela se erguendo. "Você se machuca tentando se agarrar ao que você costumava ser."... Você começa esses acordes blueseados: 'você estava sozinho, mas agora você não está sozinho, você estava sozinho, agora você é o rock' n'roll'. E ouve multidão cantando, e você está no meio do multidão em um show punk. Você não está sozinho. Isso não é só a minha história, mas essa é a história de um monte de gente. Nós nos apegamos firmemente ao rock ' n' roll por uma razão.

Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...