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domingo, 3 de agosto de 2014

Bono fala sobre Anton Corbijn no livro 'U2 & I: The Photographs 1982-2004'

No livro 'U2 &I: The Photographs 1982-2004', do fotógrafo Anton Corbijn, que foi lançado em 2008, há um depoimento de Bono, que foi registrado em 2000 na abertura de uma exposição de fotos de Anton na Holanda:

"A primeira vez que me encontrei com o Anton, eu tinha um pedido: faça-me parecer alto, magro, inteligente e com senso de humor. "Então você quer se parecer comigo", foi sua resposta. É um pouco preocupante ver meu mullet de novo, já que penteados passam, mas está lá. Um mullet é um “moicano Irlandês”.
Este museu em Groningen é um local extraordinário. O lugar perfeito para ver a obra deste grande fotógrafo. É quase irresistível e ao mesmo tempo assustador para mim ver minha própria jornada nestes 20 anos, da inocência a experiência. Eu gostaria que o meu rosto pudesse ficar tão aberto de novo como ele está naquela foto do helicóptero tirada em 1982 antes do U2 decolar.
Os Injuns, nativos americanos, não gostam de fotografias. Eles sentem que a alma é roubada deles quando uma foto é tirada. Eu acho que concordo com isso, você só precisa conhecer atores, modelos e rock stars para saber que essa é a verdade.
Ter a sua foto tirada é uma intimidade, é como fazer sexo. Você não deveria se sentir diferente, mas você se sente, de uma maneira que não pode ser medida. Eu tenho feito sexo com o Anton Corbijn por aproximadamente 20 anos, desde que eu era um menino. Ele é muito bom nisso, e ainda melhor: ele escreve, telefona, ele mantém contato.
Nossa relação é aberta, muito liberal. Eu não me importo dele ser visto com o Depeche Mode ou o Michael Stipe. Eu não ligo pros chapéus de cowboy, os cactus e carros pequenos aparecendo nas capas dos discos e nos vídeos. O Anton sempre volta. Ele me ama e eu amo o Anton.
Eu penso que tenho um sentimento pela essência dele, talvez seja uma coisa religiosa, ele é filho de um pastor.
Seu pai, Anton, está aqui hoje à noite com sua mãe Mary, e sua irmã Aaf.
Os seus retratos tem um tipo de qualidade estóica, ele lança o olhar de um protestante holandês sobre a beleza e a celebridade. Há uma “culpa cavalheiresca” em sua apreciação pelas mulheres, e um tipo de de força antiquada em seus retratos de homens, que a maioria não consegue alcançar, e se ficar úmido, erótico, este é o lado cômico porque com o Anton, a escuridão está muito próxima da luz do dia com a qual ele gosta de fotografar. Sim, religioso também, no sentido de que Anton é um criador de ícones.
E não é verdade que a celebridade é para este milênio o que a religião foi para o último. Há mil anos atrás, Nick Cave teria sido São João, Dennis Hoper , Moises, Herman Brood , Jeremias, e eu é claro, teria aparecido como um arbusto queimado.
A verdade é, estas não são fotos de celebridades. Anton não faz fotos de celebridades. Na verdade, a celebridade está sendo ridicularizada nestas fotos.
Grande parte do trabalho que fizemos juntos nos anos 90 tinha esta temática.
Com o U2 eu sempre senti que o Anton estava fotografando a música, não nós. Elas eram mais interessantes, então ele nos vestia com as suas qualidades. O trabalho era o que importava, tipicamente protestante...
Então lá vai Anton Corbijn. Grande, um novo mestre holandês, um homem engraçado, um fotografo sério. Um silencioso criador de filmes que sabe dançar, com uma retrospectiva em um dos grandes museus do mundo.
Então qual o seu problema?
Anton, ao que parece, quer ser um baterista."

Bono

8 de abril 2000

Museu Groninger

Agradecimento pela tradução: Fórum UV Brasil (Ultraviolet Fã Clube)
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