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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

20 Anos de 'POP': "Eu não acho que vai ficar pronto à tempo"


FLOOD foi o engenheiro de som em estúdio nos discos 'The Joshua Tree' e 'Achtung Baby', e produtor em 'Zooropa' e 'POP'. Ele fala sobre sobre seu papel nas gravações de 'POP', que em março completa 20 anos de seu lançamento.

"Eu vejo meu papel junto ao U2 como algo estranho, porque de certa forma eu tenho subido os degraus da organização, e com o 'POP' eu fui movido para o topo, mas como eu comecei como membro júnior existe uma hierarquia. Tem o Brian Eno, depois o Danny Lanois, e então eu. Ninguém fala sobre isso, mas é da natureza humana. Então houve um período onde eu acho que ninguém tinha certeza sobre o que aconteceria com o 'POP', se ele era para ser uma nova direção ou se era para ser uma extensão do que tinha acontecido antes da ZOO TV. E isso é que era estranho: parecia haver muito intelectualismo, mas o espírito não estava 100% lá. Era como se todo mundo estivesse em um período de mudança e reflexão ao mesmo tempo. Então havia um pouco de "bem, porque estamos aqui? A gente não pode dar um tempo? Nós temos excursionado demais." Eu me lembro de junho de 1996, sentado ao lado do Bono dizendo "olha, não se deixe levar pelo fato de que vocês têm uma turnê marcada". Foi muito difícil. Ninguém chegou a perder a cabeça, ninguém caiu fora, havia dias bons e maus no estúdio, mas tudo isso num ar de democracia quando, na verdade, um pouco de "fascismo mimoso" era necessário. Não foi como em 'Achtung Baby', quando eles quase se separaram com toda aquela tensão em Berlim. Aquela tensão era saudável. Era criativa. E eu acho que esse foi o problema com o 'POP'. E a ditadora suprema foi a turnê. Eu me lembro de uma reunião com a gravadora, o empresário e a banda, onde eu argumentei que precisávamos de mais prazo. E todo mundo disse "bem podemos ir até aqui, mas não podemos ir adiante disso". E eu só disse "eu não acho que vai ficar pronto a tempo". Foi uma experiência muito, mas muito estranha, porque todos sabiam que o disco não estava pronto. O processo criativo é como um jogo de apostas, e você espera que a química esteja lá. Havia frustração, havia decepção com o processo, uma sensação de fracasso dentro de mim, porque eu não havia conseguido entregar o que poderia. E então você passa por períodos de ressentimento, raiva, depressão, e começa a culpar todo mundo. Pra mim levou um ano, talvez um ano e meio, pra que eu pudesse finalmente ver a minha responsabilidade nisso, e me dar conta de que foi um processo coletivo. Foi uma certa época no tempo, e aconteceu. E se não tivesse acontecido, eles não teriam feito o próximo álbum. Você não consegue ser criativo e ficar no topo do sucesso o tempo todo. Tem que haver altos e baixos, e um depende do outro. Quero dizer, as pessoas esquecem que o 'Rattle And Hum' foi criticamente um declive. Isso fez com que 'Achtung Baby' chegasse onde chegou. Totalmente. 'The Unforgettable Fire', eu acho que foi um certo declive se comparado com o que eles haviam feito antes, e então veio o 'The Joshua Tree'. Existe um padrão. Eu acho que é criatividade e vida."

Do livro U2 Show - Tradução de Maria Teresa

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