Com vista para o Rio Boyne, o Slane Castle é uma estrutura imponente, gótica, construída em 1785 e desenhado pelo ilustre arquiteto irlandês Francis Johnson. Aproximadamente à 40 minutos de carro de Dublin, é rodeado por campos sumptuosos e uma majestosa floresta de árvores de carvalho e faia.
Em 1984, ao entrar no castelo, de propriedade do Conde de Monte Carlos, seguindo para a sala de estar, você se deparava com seus tapetes opulentos, esculturas, pinturas. E também um gravador Effanel 24-faixas!
A biblioteca adjacente, apelidada de Chinese Room, era ainda mais ornamentada, e não repleta de antiguidades vitorianas, mas com equipamentos de rock and roll da banda e emaranhados de cabos.
Por quatro semanas e meia naquele verão, o castelo foi alugado pelo U2, e o cenário incomum foi parcialmente responsável para o álbum mais radical da sua carreira até aquele momento.
A banda estava entretida com a idéia de uma gravação ambiental.
O produtor Daniel Lanois já havia tido uma experiência semelhante antes: "eu tinha gravado com uma banda chamada Language na antiga biblioteca Hamilton. Era um belo edifício antigo com escadas de mármore e tetos de 100 pés de altura. Nós usamos um equipamento de gravação portátil e tínhamos todas aquelas salas interessantes para trabalhar. Você nunca poderia conseguir isso em um estúdio."
Brian Eno tinha estado envolvido em gravação ambiente desde 1975, no qual ele fez padrões de som hipnóticos que poderiam modificar furtivamente humor e ambiente.
O U2 não pretendia abandonar o rock, mas, nas palavras de Edge, "nós queríamos capturar um som muito vivo em vez do método usual de pegar um som morto e tentar revitalizá-lo através da tecnologia."
Depois de uma conversa de duas horas com a banda sobre teoria de gravação e seu conceito de LP, Eno concordou com o projeto. Dois dias depois, ele e Lanois chegaram na cidade natal do U2, Dublin, e foram levados para o castelo.
O equipamento de gravação foi colocado na sala de estar. O Effanel 24-faixas, disse Lanois, "é uma máquina Stevens, não é tão flexível como, digamos, um Studer, mas tão portátil que apenas uma pessoa o transporta."
As manhãs foram gastas em torno da mesa do café, no planejamento de trabalho do dia. "Nós tivemos o nosso próprio chef", disse Lanois. "Vida de luxo. Tínhamos a equipe carregando um quadro negro sobre o qual nós traçamos um gráfico de progresso. Que instrumentos seriam utilizados para a qual canção, o que estava definido, o que não estava."
A banda utilizou o Chinese Room na gravação de números poderosos, como a faixa-título do disco, e o enorme salão de baile, com seu teto de 14 metros de altura, para canções sonhadoras, atmosféricas, como "Indian Summer Sky".
Em "Elvis Presley And America", peça mais quixotesca e abstrata de 'The Unforgettable Fire', Bono improvisou o vocal de uma música de fundo que ele não se lembrava de ter ouvido antes. Mas ele tinha ouvido.
"Isso era originalmente uma música", explica Lanois. "Eu estava mixando ela na velocidade real e foi ficando um pouco saturada, então eu reduziu a sua velocidade de 30 ips para 22. Eu tinha uma parte mixada tocando, quando Bono entrou: "Ei, o que é isso?" Ele nem sequer reconheceu ela."
"Nós demos-lhe um microfone, e ele cantou ali mesmo na sala de controle, com os monitores gritando".
The Edge completa esta história: "Bono queria escrever as letras adequadas e reorganizar o vocal, mas Brian e Daniel e, finalmente, o resto de nós; decidimos que nunca seriamos capazes de recuperar a capacidade única daquele vocal, portanto, deixamos daquele jeito."