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sábado, 10 de setembro de 2011

U2 e os 10 anos dos ataques de 11 de Setembro - 1° Parte

Bono: Fizemos uma pausa de um mês durante a turnê Elevation. Fui de férias para Veneza, passeei com meu filho, e um dia nos perdemos por uma daquelas vielas. Fomos até um hotel americano pedir informações. A televisão estava ligada passando notícias. Um avião tinha ido contra as torres gêmeas em New York. Tudo mudou nesse dia.

Paul: Nessa mesma semana íamos colocar os ingressos à venda para a fase final da turnê, outubro e novembro na América do Norte.

Adam: E depois aconteceu o 11 de setembro. Foi uma época muito confusa. As emoções estavam à flor da pele. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo na América. Muitas pessoas cancelaram shows.

Paul: O mundo inteiro parecia ter mudado. Nós respiramos fundo, pusemos os ingressos à venda e os shows ficaram esgotados.

Larry: Nós queríamos estar nos Estados Unidos. Era lá o nosso lugar.

Adam: Foi aí que o disco ganhou um novo sentido. A rádio começou a passá-lo de uma forma que nunca tinha sido ouvido antes. Se tornou muito importante para as pessoas.

Edge: Creio que o álbum tem um determinado tom que parecia estabelecer uma ligação com as pessoas depois do 11 de setembro. Transmite uma certa dor, coloca uma das grandes questões, lida com a perda e outros assuntos da vida real. Como conseqüência do 11 de setembro, a América entrou em crise e o álbum serviu de conforto à algumas pessoas.

Paul: De um modo estranho, a turnê do U2 se tornou uma espécie de símbolo daquilo que a América era. Os shows após o 11 de setembro tiveram um caráter completamente diferente, foram transformados pelo que tinha acontecido. Os americanos gostam muito de olhar para o próprio umbigo, se preocupam muito com si próprios. E nessa época enfrentaram um abalo pelo qual o resto do mundo irá pagar até o fim dos tempos. Aqueles shows eram como cerimônias religiosas e fabulosos espetáculos de rock’n’roll. Uma extraordinária corrente de energia e sentimento passa através da banda, através do público e do material. As pessoas vivem indiretamente por meio daquelas músicas e de quem as toca, e isso se tornou bastante explícito nos meses que sucederam o atentado às Torres Gêmeas. Foi fascinante presenciar tudo. Noite após noite, ver músicas subitamente transformadas e carregadas de novos significados.
Larry: ‘Sunday Bloody Sunday’, ‘New Year’s Day, todas as músicas pareciam ter um significado diferente, o público ria e chorava, tudo ao mesmo tempo. Foi uma experiência extraordinária, estar em um palco com todo mundo atravessando um reboliço de emoções, incluindo a banda.

Bono: Era e é um país diferente. É um país que nunca tinha sido invadido. Estava sofrendo do choque. O primeiro choque foi o ataque às torres gêmeas e ao pentágono. O segundo foi o choque conseqüente. O entender que tanta gente, por todo mundo, odiava a América, ver gente aos pulos de alegria na Indonésia e em outros lugares, celebrando o atentado às Torres Gêmeas. Estavam completamente traumatizados, e nós também. Eles são nossos amigos, esse é um país que eu adoro, e todos estavam sofrendo. E o processo que usei para me lamentar cantando essas canções, era o mesmo que eles começavam agora a usar. Tornamo-nos muito próximos do nosso público.

Larry: O U2 sempre teve uma relação especial com Nova York. Foi a primeira cidade onde fizemos show na América. Tinha a ligação com a Irlanda e a magia da cidade em si. Eu e o Adam tivemos um apartamento em Nova York por mais de 10 anos. Recentemente o Bono também comprou um lá. Sempre a consideraremos como uma segunda casa.

Edge: Quando chegamos a Nova York, os shows assumiram um caráter completamente diferente. Não eram mais shows de rock’n’roll, eram uma espécie de sessões de terapia em grupo.

Adam: Nova York era uma cidade abalada. Quando nos apresentamos no Madison Square Garden, parecia que as pessoas saiam de suas casas e se preparavam para baixar as armas durante uma hora e meia. Foram shows incríveis.

Edge: O nível de emoção no local era inacreditável. Acho que não havia ninguém que não tivesse com lágrimas nos olhos, incluindo os membros da banda. Foi incrivelmente emocionante poder fazer parte disso.

Adam: Catherine Owens sugeriu que enquanto tocava a música ‘Walk On’, fossemos lendo em voz alta o nome de todas as pessoas que ficaram desaparecidas após os atentados de 11 de setembro. Foi um momento muito intenso e catártico. As feridas ainda eram muito recentes e um público deve ter uma certa confiança em nós, para permitir que façamos determinadas coisas. E aquele público tinha confiança em nós e se mantiveram do nosso lado.

Bono: No Madison Square Garden, as luzes acenderam durante ‘Where The Streets Have No Name’ e havia cerca de 10 mil pessoas com lágrimas escorrendo pelo rosto. E eu disse que estavam todos muito bonitos, o que mais tarde veio a se tornar um verso de ‘City of Blinding Lights’ (Oh you look so beautiful tonight).

Edge: No final do show, componentes do corpo de bombeiros subiram ao palco. Deu certo de estarem ali, não foi nada planejado. Muitos deles tinham perdido familiares e amigos chegados.


Bono: O U2 sempre foi uma banda apreciada pelos bombeiros e policiais da América, pois muitos deles têm raízes irlandesas. Lembro que um deles pegou o microfone e falou: “Dedico isso ao meu irmão John. Nós tínhamos uma banda de rock. Obrigada John. Eu sempre disse que um dia íamos subir no palco do Madison Square Garden”. E depois gritou: “E Nova York, saberás onde nos encontrar se precisarem de nós! Basta ligar 911”. Foi nesse momento que percebi a ironia daquela data. Chamada de emergência – 911.

Edge: Foi um grande evento para Nova York. Nós éramos apenas a trilha sonora de uma cidade que atravessava uma fase de luto a aprendia a lidar com o sentimento de perda. E a música acabou sendo uma espécie de calmante. Estávamos felizes por estar ali e podermos ser úteis. Foram shows especiais por motivos absolutamente lamentáveis.

Complementando: Em 21 de Setembro de 2001 o U2 participou de um tributo à vítimas do fatídico 11 de Setembro. A banda tocou ao vivo às 2:15 da manhã em Londres para um programa de arrecadação de fundos através da televisão dos EUA para as vítimas dos ataques terroristas nos EUA. A banda fez um medley de "Peace on Earth" e "Walk On" na frente de milhões de pessoas que assistiam à TV e ouviam o rádio ao redor do mundo. O evento arrecadou US$ 150 milhões para as vítimas dos ataques.
Dave Stewart tocou junto com o U2 na performance. O desempenho rendeu à banda uma indicação ao Grammy.
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