'U2 At The End Of The World', por Bill Flanagan:
"Em 1985, depois de "Pride" ter trazido o U2 a um outro nível de sucesso, tocar em salas pequenas não era mais uma opção da banda. Naquela época eu havia me mudado para Nova Iorque e o U2 estava tocando na Radio City Music Hall. Era um lugar muito pequeno. O público estava avançando para o palco, os seguranças estavam lutando com os fãs, Bono estava lutando para readquirir controle como Mick Jagger em Altamont. Bono entrou em brigas com os policiais que estavam batendo nos garotos. O show parou várias vezes enquanto os guardas tentavam restabelecer a ordem. Foi uma grande confusão que quase acabou com Bono indo preso e certamente garantiu que o U2 já não podia mais tocar em salas de tamanho médio na América.
No verão de 1986, o U2 concordou em ser cabeça de cartaz para uma turnê beneficente na América em favor da Anistia Internacional. Eles eram o topo de uma lista que ainda contava com Sting, acabado de sair do The Police, Peter Gabriel e Lou Reed, um dos seus primeiros heróis. A última noite da Anistia Tour foi apresentada no Giants Stadium e seria transmitida pela TV na MTV. Convidados especiais surgiam de todos os lados e a tensão estava alta, quando a MTV deu um passo a frente e assumiu o comando. Miles Davis tocou, Muhammad Ali falou, Pete Townshend saiu do avião em Nova Iorque e descobriu que o pai havia acabado de morrer em Londres. Ele deu a volta e foi para casa. Pediram à Joni Mitchell, que havia combinado tocar apenas algumas músicas, que fosse sem ensaiar e fizesse um show completo para preencher o buraco deixado pelo Townshend. O lugar estava uma loucura com tanta vaidade, pânico, ameaças e puxa-saquismo.
A maior guerra de egos havia acabado, quem iria fechar o show. Era uma turnê do U2, sempre fora, mas nos últimos dias a banda recém falecida de Sting, The Police, havia se reunido para uma majestosa libertação de prisioneiros e conscientizadora despedida. O The Police era um nome maior que o U2, e o fato de ser esta a última apresentação de despedida, de adeus-a-tudo-isto, não deixou dúvidas na cabeça do empresário deles, Miles Copeland, sobre quem deveria ser o responsável pelo clímax neste espetáculo de primeira categoria. O promotor da turnê, Bill Graham, discordou. Graham, Copeland e o líder da Anistia, Jack Healy, discutiram para decidir quem iria abrir para quem. Raramente houve tanta energia furiosa gasta ao serviço dos prisioneiros políticos quanto naqueles camarins no Giants Stadium naquele dia.
Finalmente um conciliação digna de Salomão foi alcançada. O U2 foi primeiro e tocou como principal. Bono, de cabelo comprido, parecia-se com Daniel Webster e teve o estádio de futebol na mão. As pessoas que viram pela TV me disseram que pareceu exagerado, uma representação, e até pode ser que sim, mas no estádio foi hipnotizante. Eu estava empolgado por eles terem conseguido. Eu encontrei a Ellen atrás do palco e disse, "Ellen! Eles foram o melhor que já tinham sido até hoje! O The Police nem tem chance!" e ela arrancou minha bunda metaforicamente e me enfiou ela goela abaixo. "Isto não é uma competição!" Ellen explodiu. "Estes músicos não tem nada a não ser respeito e afeição uns pelos outros e não ajuda em nada quando as pessoas que os cercam tentam transformar as coisas numa batalha de bandas!" "Ah!" eu expliquei, encolhendo como uma camiseta barata lavada com água quente. Ellen se acalmou e disse, desculpa, tem sido um dia duro.
O grande acordo era que o U2 sairia do palco a tempo para o The Police ter um bom bocado de horário nobre na televisão, antes da emissão da MTV acabar, e no final da (excelente) apresentação do The Police eles tocaram "Invisible Sun," a música memorável deles sobre os problemas na Irlanda do Norte.
Um a um os membros do U2 surgiram das coxias e foram pegando os instrumentos do The Police. Larry pegou o lugar de Stewart Copeland atrás da bateria, Edge pegou a guitarra de Andy Summers, Adam pegou o baixo do Sting e Bono foi para o microfone e acabou a música do The Police. Foi um gesto de classe, a Maior Banda do Mundo de saída passando publicamente o bastão para a nova.
No final do show, todos que participaram do evento cantaram juntos "I Shall Be Released", de Bob Dylan.
Analisando o final da Anistia um ano depois, Sting disse, "Na última música que tocamos nós passamos os instrumentos para o U2. Todas as bandas têm o seu momento. Em 84 nós éramos a maior banda do mundo e eu achei que o U2 seria a próxima e eu estava certo. Eles são a maior banda do mundo. Daqui a um ano será a vez deles passarem o instrumento para outros."
Agradecimento: Forum UV Brasil