Na reportagem, a revista da Editora Globo apresentou a importância que o mercado brasileiro ganhou na rota das grandes turnês musicais, e reaparecimento de grandes festivais como Rock in Rio e SWU.
O guitarrista do U2, The Edge, também comentou da melhora na infraestrutura desde que primeiro vieram ao Brasil, há 13 anos: "tudo melhorou. Os equipamentos de som, as instalações elétricas, os espaços para apresentação e até mesmo o pessoal que nos assessora."
Segundo a revista, a indústria brasileira de entretenimento movimentará cerca de R$ 1,5 bilhão em 2011, com perspectiva de R$ 2 bilhões em 2015.
A entrevista foi concedida por Bono e Edge à Luís Antonio Giron no restaurante de um hotel de Toronto. Eles revisaram suas inovações e analisaram a evolução do público brasileiro e a situação política e econômica do país. Tudo em meio a brindes de caipirinha trocados entre eles e o repórter:
ÉPOCA - Os ingressos para os três shows em São Paulo da turnê 360º, em abril, esgotaram-se em minutos. Como vocês avaliam a recepção do público?
BONO - O público brasileiro é um dos mais entusiasmados com nosso trabalho. Os shows foram os melhores da turnê. Parecia uma festa eufórica, compacta, o Morumbi parecia uma rave gigantesca, vibrando com a gente. E lá em São Paulo a festa continuou depois do show. Vocês dão cada festa... O Brasil experimenta um momento muito diferente. Perto do que o país vivia 13 anos atrás, quando tocamos, as coisas melhoraram. Os brasileiros estão vivendo um período de euforia econômica, e isso se deve muito à política de combate à extrema miséria.
ÉPOCA - Vocês acham que o crescimento econômico do Brasil teve reflexos na qualidade da infraestrutura dos espetáculos? O que mudou desde a primeira vez que o U2 se apresentou no Brasil, em 1998?
THE EDGE - Tudo melhorou. Os equipamentos de som, as instalações técnicas, os espaços para a apresentação e até mesmo o pessoal que nos assessora por lá, como técnicos de som e pessoal de segurança. Está tudo mais organizado.
BONO - Em 1998, quando tocamos em São Paulo e no Rio de Janeiro, ainda era uma aventura levar um megashow ao Brasil. Muita gente nos aconselhou a não nos aventurarmos. Mas insistimos. O Brasil não estava no mapa das turnês internacionais. E nosso pioneirismo foi importante para abrir caminho para outros shows da mesma envergadura. Agora o Brasil está no centro do mundo. O país é uma das praças fundamentais para o sucesso de uma turnê. Nossa turnê não teria tido o mesmo impacto se tivéssemos ignorado o Brasil. Foi um de nossos melhores desempenhos em 35 anos de carreira.
THE EDGE - Festivais como o Rock in Rio colocaram o país no mapa da indústria do espetáculo. Ainda sinto uma ansiedade muito grande em relação aos shows, e daí se explica que os ingressos se esgotem tão rapidamente. É uma demanda reprimida. Mas a tendência é os espetáculos internacionais consolidarem o mercado de shows no Brasil.
ÉPOCA - O público está pedindo que vocês voltem. Vocês acham possível que isso aconteça em breve?
BONO - Queremos voltar sempre, mas agora a turnê terminou. Uma vontade minha é ficar solto, conhecer o país inteiro, sem turnês ou shows.
THE EDGE - Somente agora, depois de 13 anos, conseguimos nos situar em São Paulo. É uma cidade com uma noite incrível.
ÉPOCA - O U2 empreende uma eterna cruzada contra a estagnação musical. É hora de renovar o estilo da banda, como aconteceu no início dos anos 1990, com Achtung Baby e a turnê Zoo TV?
THE EDGE - Estamos sempre pesquisando novos sons, novas maneiras de fazer shows. Com Achtung Baby, viramos as costas para a música americana e adotamos o som industrial das bandas alemãs, como Einstürzende Neubauten, e das britâncias, como Happy Mondays e My Bloody Valentine. Era o som dançante que vinha de Manchester. Hoje, as novidades estão em músicos como Jack White, que era do White Stripes.
BONO - Sim, estamos vivendo um momento de reavaliação parecido com o que experimentamos em Berlim no fim dos anos 1980. A banda precisa repensar sua estética, sua maneira de criar música. O U2 está à beira da irrelevância há 20 anos, embora a gente faça música de boa qualidade.
ÉPOCA - Como irrelevância, se vocês representam um modelo para outros artistas e para o público?
BONO - Eu disse à beira da irrelevância. O U2 ainda é uma banda importante, a mais importante. Mas pode deixar de ser a qualquer momento. Não estamos preparados para a década de 2010, que acabou de começar. Era o que sentíamos em relação aos anos 1990. Hoje, as bandas engajadas que não existem. Temos uma responsabilidade com nossa missão de ajudar as pessoas a ser ativas na política. Mas não sei ainda o que fazer. Que tal, Edge, a gente assumir a violência do Led Zeppelin?
THE EDGE - Não concordo. O Led Zeppelin tinha um som primitivo, nós somos mais sofisticados musicalmente. Talvez não seja esse o caminho.
BONO - Falo na atitude, quem sabe se a gente subir ao palco com energia de Robert Plant e Jimmy Page e dizer ao público: "Dana-se a crítica. Este é o nosso som. Engulam a gente!". E aí, quem sabe, resgatar o ativismo no palco. Temos de pensar que a revolução hoje é espiritual. Temos de salar de coisas como o egoísmo e a ambição. Elas é que estão destruindo a Europa e os Estados Unidos. Nossa esperança é o Brasil. Que tal a gente brindar os brasileiros com uma caipirinha? Garçom!
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