Folha de São Paulo - 28 de Fevereiro de 1997
No dia 3 de março chega às lojas de disco do mundo inteiro 'POP', o novo álbum da banda irlandesa U2.
O grupo, que já vendeu 70 milhões de cópias ao redor do mundo, não lançava disco de carreira desde 1993. O último trabalho foi 'Zooropa'.
Em 1995, eles lançaram o disco 'Original Soundtracks Vol.1', usando o nome de Passengers e com participações especiais do tenor Luciano Pavarotti, do DJ Howie B. e de Brian Eno.
'POP' -o 11º disco de carreira do grupo- foi distribuído na quarta-feira à noite à imprensa, que participou de audições do álbum em dois clubes noturnos, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro.
O U2 é a principal banda dos anos 80 a sobreviver nos 90. Não é por acaso. Em 'POP', o grupo mantém um pé no passado e outro no futuro.
O problema é que, na maior parte do tempo, não consegue manter o equilíbrio.
'POP' reflete essa busca desesperada pela sobrevivência nas paradas de sucesso, pela aceitação da crítica e, se possível, uma tentativa de mostrar algum lado vanguardista.
Convenhamos que é muita pretensão para um disco só e uma alquimia bem difícil de ser realizada. Não é que o disco seja ruim, mas não é homogêneo.
A banda se arrisca a fazer algumas canções com influência da música eletrônica -estilo que, segundo alguns críticos, "apontaria o caminho do futuro música pop".
É o caso de "Discothèque", que abre o disco, e das faixas seguintes, "Do You Feel Loved" e "Mofo". Foi uma aposta arriscada da banda. E que cheira a vanguardismo de butique.
A questão é saber se o fã padrão do grupo aceita o flerte do grupo com a música eletrônica, que ainda é um estilo confinado a guetos em algumas partes do mundo e ignorado nas demais.
Em suma, uma música que faz muito barulho com poucos seguidores -nem de longe comparáveis aos 15 milhões de fãs que compraram 'The Joshua Tree' (1987).
Justamente para não perder seus milhões de fãs, a maior parte do novo disco mostra o U2 de sempre.
Na parte mais tradicional há bons momentos, como "The Playboy Mansion", ou na balada "If God Will Send His Angels".
Folha de São Paulo - 3 de Março de 1997
O lançamento de um novo disco do U2, uma das bandas mais mainstream do planeta, é a perfeita oportunidade para pensar nas relações entre música e indústria. 'POP' se presta especialmente, pois é todo definido por tal tensão.
A banda talvez estivesse querendo vencer fronteiras, explorar outros territórios, mas, se o fizesse com a cara e a coragem, corria o risco de ver sua popularidade se desintegrar aos olhos do mercado.
O que fez então? Um disco em cima do muro, muito menos ousado que o anterior 'Zooropa' e que nunca se decide entre os experimentos pop de vanguarda e o velho rock'n'roll de arena.
'POP' seria, segundo os discursos, o disco de contato do U2 com gêneros como o tecno e os mantras do trip-hop, gênero de gueto que tem feito a fama de nomes como Massive Attack e Tricky.
Mas, mais que trip-hop, "Pop" é um disco de "Tricky-rock" -as batidas eletrônicas e a síncope do darling inglês trocam figurinhas -com resultado amorfo- com o velho e conhecido messianismo roqueiro de Bono e sua trupe.
Assim, mesmo nos momentos inspirados, como no já hit "Discotheque", a tentativa de tematizar o humor "bubble gum" do pop -via disco music- tropeça nos vocais épicos, moldados no amor pelos Beatles, de Bono.
Na mesma linha, "Do You Feel Loved" parece Madonna no começo e vira um rockão messiânico orientado pela entonação épica da interpretação. Não combina.
"Mofo" começa parecida com "Rhythm is a Dancer", do Snap!, ataca zombeteiramente o rock e cede espaço a "If God Will Send His Angels", baladão melancólico que é menos Tricky que um Elvis em momento tristeza. A cafonice da composição é explorada sem humor, e algo fica fora de lugar.
Deixando de lado o tecno épico (exceção feita a "Miami", que assume o humor e o ridículo da situação), sobra a intervenção de Nellee Hooper, co-idealizador de baladas que até se poderiam dizer trip-hop, como "Wake Up Dead Man", laivo de ousadia que nem deve ofender os fãs ortodoxos.
E há "The Playboy Mansion", em que o U2 confessa que sempre foi velhusco e faz bonito só com rhythm'n'blues. O tema é de novo o pop, e a letra afirma que Michael Jackson é história -bonito de ouvir de um roqueiro. Aí, sim.
Folha de São Paulo - 8 de Março de 1997
A nova fase do U2, com tendências tecno, não agradou aos fãs da banda irlandesa.
Dono de seis discos do grupo, o estudante de engenharia civil André Tripoloni, 20, estava ansioso para comprar 'POP'.
Assim que ouviu trechos do álbum, em uma loja de discos do Shopping Eldorado, Tripoloni disse preferir "o estilo antigo do U2". Mesmo assim, decidiu comprar o CD: "Gosto da voz do Bono".
Segundo Luis Antônio Rodrigues, gerente da Hi-Fi do mesmo shopping, dos 400 discos que a loja esperava vender esta semana foram comprados cerca de 50 até quinta-feira.