O governador da Bahia, Paulo Souto, se aproxima da mesa. Entrega a Bono um orixá em bronze. "Uoww"!, diz o cantor. "Quero um chapéu igual a esse para ir ao Carnaval". E, para Flora: "Eu gostaria muito de ter uma máscara para poder andar por aí à vontade". Ela sugere que ele use uma roupa branca dos Filhos de Gandhi. "Ficam todos iguais", diz. "É, mas ninguém aqui em Salvador tem esse meu nariz!", diz Bono.
O governador pede a Gil: "Diz para ele que o trabalho dele é muito importante para o mundo". "Your work is very important for the world", traduz o ministro.
The Edge concorda: "Salvador parece ser bem mais bonita que São Paulo. Se bem que nem consegui sair do hotel [em SP]. Tinha muita gente lá na frente". Ele afirma que "o primeiro show [no Morumbi] foi ótimo. Mas o segundo... Uooow! Inacreditável. Não sei por que, mas havia algo diferente".
Bono quer café. The Edge, por duas vezes, vai à copa buscar uma xícara. Mas nem se senta à mesa. Prefere ficar nas rodinhas da festa. O baterista Larry Mullen também. Bono levou 48 pessoas ao jantar. São profissionais e amigos que vão com o vocalista a todos os lugares. Ele anda com apenas um segurança. Mas, no Carnaval de Salvador, teve doze à disposição.
Daniela Mercury andava pelas rodas de estrangeiros: "That's my trio elétrico", dizia, dando um CD de presente a alguns. Também estavam no jantar outros astros do axé como Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Durval do Asa de Águia e Carlinhos Brown.
Bono passa o tempo todo à mesa com Flora e Gil. Fala do presidente Lula: "Ele é mais importante do que eu. Lula tem o poder de mudar as coisas". Fala do escritor brasileiro Paulo Coelho: "Eu li dois livros dele. Tinha um muito bom que falava sobre sexo. Como se chama mesmo?". "Onze Minutos". "Isso mesmo. Muito bom", diz.
Bono olha para o relógio. Uma hora. "Vamos embora?", pergunta ao produtor Quincy Jones, que está no Brasil e foi com ele ao jantar. "Está na hora de deixarmos a Flora dormir", diz. O astro se levanta. Em direção à saída, posa para mais fotos. "Me and the Charlie's Angels [As Panteras]", diz, aceitando o pedido da atriz Ingrid Guimarães e amigas para um retrato. Bono sai da festa com sete CDs de Gilberto Gil, que pediu de presente ao ministro. Ele quer conhecer melhor as coisas do Brasil.
Na ocasião, o governador e o presidente da Bahiatursa deram a banda uma escultura de Oxossi, do artista plástico Tati Moreno, uma metáfora do espírito guerreiro da Orixá.
Para se hospedar, o U2 escolheu o Convento do Carmo, da rede Pousadas de Portugal. Toda a equipe de produção, formada por 23 profissionais, se hospedou no Convento. Bono, The Edge, Larry Mullen e Adam Clayton optaram por alugar uma mansão.
Dois integrantes do U2, disfarçados, aproveitaram o calor de 34ºC para tomar banho de mar.
Bono disse em entrevista à TV Bahia (afiliada da TV Globo) que a banda estava em férias e não planejava trabalhar. "Somos turistas e fãs do Carnaval". Segundo o vocalista, o U2 poderia voltar em outros anos, quando tivesse melhor compreensão da comemoração. "Eu quero ver e sentir o Carnaval".
Para ele, o Carnaval era mais complexo e interessante do que uma festa, que descreveu como um "festival religioso".