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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Após duas semanas, show do U2 nas Filipinas ainda causa barulho


O U2 recentemente realizou o seu primeiro e histórico show em Manila, Filipinas, pela 'The Joshua Tree Tour 2019'. E ainda há barulho por lá por causa da parte do show com conteúdo mais político e de ativismo social.
Quando Bono homenageou as mulheres do mundo todo durante o 'Herstory' em "Ultraviolet (Light My Way)", foram mostradas imagens da jornalista, CEO e editora executiva do Rappler, Maria Ressa, a revolucionária Melchora Aquino, a ex-presidente Corazon Aquino, a senadora Pia Cayetano, as cantoras Lea Salonga e Maria Carpena, a ativista Liddy Nacpil, a ambientalista Joan Carling e a ativista das mudanças climáticas Marinel Ubaldo.
Reações positivas e negativas imediatamente começaram a surgir, com apoiadores do presidente filipino Rodrigo Duterte, e também opositores.
A maior parte das críticas citava que Maria Ressa responde por cinco processos por evasão de impostos, e que Bono também têm problemas fiscais junto com a banda.
Duas semanas após a apresentação, a mídia de Manila ainda escreve sobre esta parte do show, e parte dizem que Bono foi vítima de "Fake News" para seu discurso.
Nas redes sociais, uma mensagem:

"A premissa básica de nosso governo é que o poder reside no povo. Duterte mantém o apoio e a aprovação da maioria. Nós votamos nele. Ele fala por nós. Não votamos em Ressa. Nós não ligamos para ela. Ela não fala por nós. Sinta-se livre para admirá-la, e nada do que você disser vai mudar a ideia que pessoas tem sobre isso".

O colunista Romy P. Mariñas do The Manila Times escreveu:

"Para dramatizar sua defesa dos direitos humanos em seu show na Philippine Arena em Bocaue, Bulacan, em 8 de dezembro passado, mostraram Corazon Aquino e Maria Ressa. Escolhas bastante ruins.
As imagens foram para mostrar que o U2 sempre defendeu os direitos humanos, especialmente onde eles foram ou são supostamente violados com impunidade, incluindo as Filipinas.
Ao escolher essas duas "vítimas" de abusos políticos, Bono mostrou ter pouca visão, um grande desapontamento para um ativista social de renome que por acaso é rico e famoso e que esperávamos não ficar aquém dos altos padrões para as escolhas políticas que ele faz.
Aquino "restaurou" a democracia, apenas para entregá-la aos oligarcas, enquanto Ressa "defendeu" a liberdade de imprensa, apenas para ser revelada mais tarde como alguém supostamente exercendo violações de propriedade pelo Rappler.
Duvidamos que Bono sabe que pelo menos 12 ativistas agrícolas foram mortos a tiros perto dos portões de Malacañang - residência oficial do Presidente da República das Filipinas - apenas alguns meses depois que Aquino se tornou a líder do país através de um golpe de estado, que foi comercializado como a "Revolução EDSA" de 1986.
Ou que os trabalhadores açucareiros foram abatidos na Hacienda Luisita também durante seu mandato como presidente por exigir a redistribuição da vasta propriedade açucareira de propriedade dos Aquinos e da família de Corazon Cojuangco Aquino.
Se Bono exercitasse a sabedoria ou fizesse sua lição de casa, ele também projetaria uma imagem de Suu Kyi de Mianmar (Birmânia), uma ganhadora do Prêmio Nobel da Paz que acabou se tornando um fracasso, recusando-se a defender o suposto genocídio cometido contra os rohingya em seu próprio país.
Aliás, ela tinha sido comparada à Aquino.
Apenas os politicamente ingênuos comprariam o mantra do cantor irlandês de que os direitos humanos não podem ser "comprometidos".
Com ou sem você, Bono, a luta pelos direitos humanos em meu país continuará da maneira que acharmos melhor, não através dos olhos de alguém da Irlanda do Norte que, supomos, não conheceu nenhum filipino cujos direitos humanos tenham foi violado. Aliás, ele alguma vez já conheceu Corazon Aquino ou Maria Ressa?"

O Rappler escreve:

"Embora o U2 nunca tenha sido explicitamente inclinado para a direita ou para a esquerda, a banda sempre juntou os cacos das pessoas marginalizadas. (Eles não são irrepreensíveis, é claro - parece irônico que um grupo que defenda causas ambientais se transporte ao redor do mundo em um jato particular). O U2 é e sempre será político".

Rina Jimenez-David para o Inquirer:

"Lamento dizer que nunca fui fã do U2, pelo menos da música da banda, embora eu esteja ciente do status que o vocalista Bono detém não apenas como estrela do rock, mas também como ativista global, defensor de causas tão abrangentes quanto os The Troubles na Irlanda do Norte, apartheid, pobreza e desigualdade, meio ambiente e igualdade de gênero. O U2 nunca capturou minha imaginação.
Mas agora eu sou fã. Isso ocorre principalmente porque durante o seu primeiro show aqui, o U2 dedicou uma parte da apresentação para prestar homenagem a mulheres e ativistas de direitos humanos, destacando a irmã sitiada Maria Ressa.
Mesmo com esse tributo emocionante do U2, no entanto, o status de mulheres filipinas comuns permanece em terreno instável, com liberdades fundamentais ameaçadas por homens misóginos em posições de poder".
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