2011. Uma filmagem de Aung San Suu Kyi foi encomendada pelo U2 e contrabandeada para fora da Birmânia. Martin Wroe do U2.COM teve um encontro clandestino com ela em Rangoon, onde ela tocava piano em uma antiga casa colonial.
"Durante meus anos de prisão domiciliar, muitas vezes desejei ser compositora, porque então eu poderia ter passado meu tempo compondo", disse ela. "A música é muito mais universal que as palavras".
Aung San Suu Kyi concordou em encontrar Martin Wroe e seus dois colegas contratados pelo U2 para gravar um curta-metragem para a turnê 360°.
Quando a prisão domiciliar de Aung San Suu Kyi foi suspensa, a ideia de Bono foi filmar secretamente um curta para promover a causa dos milhares de prisioneiros de consciência que permanecem nas prisões birmanesas. Como em um romance de espionagem, uma linha secreta de comunicação foi estabelecida e, após vários false starts, a equipe voou para a Tailândia para encher suas câmeras com fotos de férias para sua "matéria de capa". Garantindo vistos de turista em Bangkok, partiram para Rangoon, onde os celulares não funcionaram mais, onde os e-mails era monitorados e recomendava-se cautela no caso de "alguém estar vendo".
Como as comunicações de Aung San Suu Kyi eran censuradas e muitas vezes não chegavam, não era de surpreender que no portão de sua casa a equipe de plantão não estivesse os esperando ... e não conheciam o catálogo do U2. Felizmente, as credenciais foram rapidamente estabelecidas e um estúdio improvisado foi montado na sala de estar, incluindo um lençol verde colado na parede para criar uma "tela verde", para gráficos de pós-produção.
Daw Suu, como todos as chamam, disse: "Depois de muitos anos, posso falar com você. Você que através dessas distâncias enviou apoio à Birmânia, agradecemos. Estudantes, professores, trabalhadores, mães, pais, irmãs, irmãos, fãs de música - fãs do U2 como eu. Quando você levanta suas vozes, nós as ouvimos, elas são mais altas do que qualquer banda de rock, do que qualquer exército".
Uma hora depois, a filmagem está feita.
A NLD (National League for Democracy), liderada por Aung San Suu Kyi, ganhou 82% dos assentos nas eleições de 1990, mas os militares sempre se recusaram a transferir o poder. Depois de décadas de ditadura, o país tornou-se o mais pobre do Sudeste Asiático e também o mais paranoico – com inúmeras histórias de pessoas sendo presas por dizer a coisa errada no lugar errado.
A liberdade não demoraria muito para chegar à Birmânia, previu ela, convidando o U2 a visitar e tocar "um grande show para celebrar a democracia". Músicos e artistas são poderosos agentes de mudança social, um ponto dramaticamente sublinhado quando outro ativista da NLD, Htin Kyaw, se lembra de sua própria prisão de 14 anos. Em 2004, sua esposa contrabandeava uma cópia da revista Time para ele, que apresentava uma história sobre o U2 e "Walk On". "Fiquei muito satisfeito e derramei lágrimas", contou ele, com os olhos marejados. "Pedi à minha filha mais nova que enviasse a letra por escrito, mas não conheço as notas, então não canto ..."
Um dos ditados pelos quais Aung San Suu Kyi é mais famosa é sua exortação a "usar sua liberdade para promover a nossa".
"Você não sabe o quanto isso significa quando [as pessoas] são isoladas do resto do mundo, quando sentem que realmente ainda são lembradas, que as pessoas sabem que estão lá.
Bono é uma das pessoas que realmente iniciou esse movimento de artistas se envolvendo em questões de direitos humanos e questões políticas, o que é muito bom. Eu realmente acho que ele está à frente desse movimento, e que agora mais e mais artistas e os cantores estão se envolvendo em questões humanitárias. Música e arte em geral têm o poder de mudar as pessoas, e as pessoas têm o poder de mudar a história. Acho que é assim que as coisas acontecem".
Com várias cópias feitas das gravações para o U2 e vários esconderijos obscuros para tirá-los daquela casa e depois do país, a conversa chegou ao fim.
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