Desde a sua formação em 1976, o U2 têm agressivamente evitado qualquer movimento que indique alguma nostalgia. Mas este ano eles vão finalmente olhar para trás, tendo sua obra-prima de 1987, 'The Joshua Tree', em turnê em estádios em toda a Europa e a América do Norte, em homenagem ao 30º aniversário do álbum. É uma oportunidade para a banda se re-conectar com os fãs depois da recepção um pouco decepcionante para seu disco de 2015, 'Songs Of Innocence', e lhes dar uma chance de pegar a estrada, continuando a dar os últimos retoques no seu próximo álbum, 'Songs Of Experience'. Algumas semanas antes destes shows serem oficialmente anunciados, o guitarrista do U2, The Edge, telefonou para a Rolling Stone para falar sobre a turnê, reviver músicas raras no palco, seu próximo álbum, Donald Trump e muito mais.
Pode nos dar algumas informações básicas sobre como esta turnê surgiu?
Bem, quando terminamos a última turnê, iNNOCENCE + eXPERIENCE, fomos direto para terminar de gravar o segundo álbum desse conjunto, 'Songs Of Experience', que estava praticamente finalizado, restando alguns retoques finais que aconteceriam até o final do ano. E então a eleição aconteceu e, de repente, o mundo mudou. Então nós: "espere um segundo – nós temos que nos dar um momento para pensar sobre este disco e sobre como ele se relaciona com o que está acontecendo no mundo." Isso é porque foi escrito na maior parte, digo, 80% teve início antes de 2016, mas a maior parte foi escrito no início de 2016 e agora, como acho que você vai concordar, o mundo é um lugar diferente.
Você está falando sobre Trump e Brexit?
A eleição de Trump. É como se um pêndulo de repente tivesse balançado fortemente em outra direção. Então estávamos olhando para o aniversário de 'The Joshua Tree' e outra coisa começou a brotar em nós, o que é bastante estranho, as coisas fazem um círculo completo, se você quiser. Esse disco foi escrito em meados da década de 1980, durante a era britânica Reagan-Thatcher e a política dos Estados Unidos. Foi um período quando havia muita agitação. Thatcher estava tentando acabar com a greve dos mineiros; havia todos os tipos de trapaças acontecendo na América Central. Parece que nós estamos de volta naquele período, de alguma forma. Não acho que qualquer um dos nossos trabalhos tenha fechado um círculo completo desta maneira. Eu me senti como: "Uau, essas músicas tem um novo significado e uma nova ressonância hoje que não tinham há três, quatro anos atrás." E por isso foi meio por acaso, realmente, apenas a percepção de que precisávamos colocar o álbum 'Songs Of Experience' no gelo por um minuto apenas para realmente pensarmos nisso mais uma vez antes de lançar ele, só para termos a certeza de que realmente era o que queríamos dizer.
Então nós dissemos: "Olha, vamos fazer as duas coisas. Podemos realmente comemorar este álbum, que realmente nasceu de novo neste contexto, e também realmente temos uma chance de pensar sobre essas músicas novas e nos certificarmos de que elas são realmente o que queremos lançar". Então as duas coisas coincidiram e decidimos que íamos fazer alguns shows. E nunca nos demos a oportunidade de comemorar nosso passado porque temos a tendência de sempre olharmos para a frente, mas eu acho que nós sentimos que este foi um momento especial, e este foi um disco muito especial. Então estamos felizes de aproveitar este momento para se reagrupar e pensar em um álbum que tem tantos anos, mas ainda parece relevante.
Vocês irão tocar o álbum em sequência nos shows?
Eu acredito que nós iremos, e eu disse "acredito que nós iremos" porque certamente é a suposição de trabalho agora. O show não precisa necessariamente começar com a primeira faixa do primeiro lado do disco, "Where The Streets Have No Name," porque sentimos que talvez precisemos construir aquele momento, então estamos ainda no meio de descobrir exatamente como a ordem do setlist será, então, sim. Nós estaremos tocando o álbum na sequência.
Os fãs vão ficar emocionados. Há muitas canções que vocês não tocam há décadas. Então haverá "Red Hill Mining Town" que nunca foi tocada.
Isso é verdade. Eu tive alguns dias no final de uma sessão de estúdio recente, onde eu estava ouvindo essa música e trabalhando em partes de guitarra para ela. Eu não tinha pensado mais nela por muitos anos. Essa melodia em si é como uma bofetada em alguns aspectos, com o que está acontecendo com o Reino Unido. Não é tão intenso, mas há aquela ação industrial que se estende por todo o Reino Unido pela primeira vez em gerações. Não é exatamente uma repetição do Inverno do Descontentamento, mas são perigosas todas essas questões voltando. Parece-me que a política está polarizada em muitas partes do mundo em desenvolvimento, de forma que acho que me preocupa. Tenho certeza que a maioria das pessoas também. Aqueles dias foram tempos difíceis, sombrios, e pessoalmente nós realmente odiaríamos ver isso voltar.
Por que você acha que "Red Hill Mining Town" é a única música do álbum que vocês nunca se preocuparam em tocar ao vivo? É difícil de tocar ou difícil para Bono cantar?
Acho que foi provavelmente uma daquelas canções que devido ao ritmo e arranjo, nunca encontraram um lugar dentro do set ao vivo. É engraçado, às vezes grandes canções... pense em um show ao vivo como um ecossistema. Você tem nichos para preencher. Existem up-tempo, músicas rápidas, dramáticas e aquelas que são cruciais. Então na sequência há aquelas músicas em ritmo medium-tempo e não importa como elas são grandiosas, às vezes você apenas não pode encontrar um lugar para elas. Então eu não acho que foi algo mais complicado que isso. Mas ouvindo novamente ela é como: "Uau, é isto, realmente..."
Você pode não saber disso, mas dias antes de terminarmos o álbum, "Red Hill Mining Town" foi nossa principal candidata para escolha do primeiro single. Fomos em frente e fizemos um vídeo para ela com Neil Jordan e estávamos muito confiantes nisso. Então, como o tempo passou e nós meio que voltamos à aquela nossa objetividade, nossas visões começaram a mudar e escolhemos "With Or Without You", e acho que estávamos certos.