Chas De Whalley saiu da CBS logo depois que o U2 assinou com a Island, "em parte por causa do fracasso de não assinar com o U2, porque isso era sintomático e foi percebido como um mal-estar maior dentro da empresa." Quando ele ouviu do presidente da corporação americana, descrevendo seus funcionários britânicos como "os trabalhadores indígenas nas estações offshore", De Whalley percebeu que ele estava trabalhando para a empresa errada.
Tom Nolan, cuja saída da EMI espelhou De Whalley na CBS, ouviu algo semelhante sobre seus antigos empregadores. Ironicamente, Nolan começou sua carreira na Island e disse: "Eu sabia que fariam um trabalho melhor. Não acho que a EMI teria feito um bom trabalho, não havia nenhuma maneira deles terem ficado com o U2 como Chris Blackwell fez."
Os próximos passos até a escada para o U2 envolveu encontrar um simpático produtor para aprimorar o som sem polimento deles, e cortejar a indiferente imprensa musical do Reino Unido. Nick Stewart viu uma solução para estes problemas em Martin Hannett, o chefe de estúdio do sério selo indie de Manchester, Factory Records. Como devotados fãs do Joy Division, a banda abraçou esta sugestão e definiu sobre a gravação de seu primeiro single pela Island, "11'O Clock Tick Tock" com Hannett no Strawberry Studios em Manchester (na verdade, a canção foi produzida no Windmill Lane Studios en Dublin).
"Este foi um tempo quando a NME, a Sounds e a Melody Maker estavam na verdade vendendo um grande número de cópias", diz Stewart. "Isto foi antes que alguém tivesse inventado a ideia da Uncut. A Factory Records foi de certa forma uma espécie de Island embrionária, e fiz amizade com Tony Wilson e mais tarde, de Rob Gretton, que infelizmente faleceu. Eu também tinha falado de Joy Division e Vini Reilly. E claro, o link para isso foi Martin Hannett. Eu era muito amigo de Martin e pensei que ele era uma espécie de Phil Spector para o rock inglês naquela época, então quando nós assinamos com o U2, eu disse que gostaria de levá-lo para produzir "11'O Clock Tick Tock". E o single não está datado, ainda parece extraordinário. Esse single é diferente de qualquer outro single do U2, e diz algo sobre Martin Hannett."
Infelizmente, a sinergia entre U2 e Hannett nunca deu aquele estalo. O uso de drogas do lendário produtor não combinava com aquela banda iniciante, religiosamente inspirada e desconfiada dos excessos do rock and roll.
"Eles eram garotos que viviam de forma muito limpa", diz Annie Roseberry. "Quando suas namoradas vieram para ficar com eles, elas tinham quartos separados nos hotéis. E todos iam para a cama muito cedo, tirando Adam, que era quem ficava acordado e festejando. Mas Martin não era realmente inclinado para isso."
Embora mais tarde o U2 tenha amolecido sua posição de luta contra a droga, eles tentaram inicialmente apresentá-la como uma espécie de Straight Edge no manifesto punk. Foi uma subcultura e subgênero do hardcore punk que surgiu nos anos 80. Ele defende a total e perene abstinência em relação a entorpecentes (tabaco, álcool e as chamadas drogas ilícitas).
Como Bono disse à International Musician no início de 1981, "rock'n'roll tem sido sempre sobre se rebelar, não é? Elvis Presley nos anos 50 e, em seguida, bandas como The Rolling Stones nos anos 60 com seus longos cabelos e suas drogas. O problema é que as pessoas esperam tudo isso de uma banda de rock, mesmo as bandas punk ou uma banda new wave nos dias de hoje. Tudo se tornou como um estoque de imagens de rebeldia."
Rob Partridge lembra que, desde o início, tinham uma postura que eles estavam se rebelando contra os estereótipos do rock padrão. Foi um ato de rebeldia para não fazer coisas que outras bandas estavam fazendo, que é um tipo de argumento complicado. Mas conforme o tempo passava, eles desenvolviam sua própria postura coerente".
De acordo com Bill Graham em 'Another Time, Another Place', foi a morte de Ian Curtis, em maio de 1980, que finalmente acabou a relação de trabalho do U2 com um Hannett perturbado. Agora, Nick Stewart afirma que a banda se recusou ao estilo de produção excessivamente reconhecível de Hannett, mas nega qualquer tensão por drogas.
"Eu não diria que naquela fase o U2 tinha qualquer sentido de ser puritano", Stewart argumenta, "mas ao mesmo tempo, eles não pareciam estar se relacionando com drogas. Longe disso. De certa forma, eram bastante ingênuos. Acho que Hannett era para eles uma figura sofisticada. Eles aprenderam muito com ele – eles aprenderam, na verdade, que não queriam trabalhar com alguém como o Martin, que impôs um pouco seu próprio tabuleiro sônico ou ideias sobre eles. Então, quando eles foram para gravar o álbum, disseram que não queriam trabalhar com Martin – e Martin naquele estágio estava doente. Ele parecia estar sofrendo de uma pequena overdose de uma coisa ou outra. Então olhamos vários produtores e fomos para Steve Lillywhite."
Revista Uncut - Dezembro de 1999