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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

1979: A Grande História Da Inocência - Parte 03


Em maio de 1979, no fim de semana do feriado bancário, Chas De Whalley voou de volta para Dublin a tempo de pegar um dos shows da tarde do U2 para todas as idades, no estacionamento do mercado Gaiety Green. Agora faz parte do folclore da banda, mesmo que eles só tenham tocado meia dúzia de shows lá, que estes shows de baixo custo para adolescentes foram cruciais em ajudar o U2 à evitar as leis de licenciamento de Dublin.
"Fui na manhã de sábado", recorda De Whalley. "Eles fizeram um show na hora do almoço no Gaiety Green, que era o equivalente ao Camden Market, em Londres, e foi uma coisa fundamental tocar assim para um público mais jovem. E depois fomos para os estúdios Windmill Lane, acho que das seis da tarde à meia-noite e no mesmo horário no dia seguinte, para gravarmos três faixas. Eu nunca tinha produzido nada antes. Eu tinha participado de várias sessões de gravações e tentado construir coisas do zero no estúdio, mas ser um produtor? De maneira alguma."
O resultado das gravações de três faixas se tornaria o 'U2: Three', single de estreia da banda: "Out Of Control", "Stories For Boys" e "Boy/Girl". De Whalley lembra das sessões: "Tivemos um enorme problema em estabelecer uma faixa de bateria coerente para "Out Of Control" porque o tempo de Larry não era nada bom. Eles me diziam: 'ele tem aulas com o melhor baterista em Dublin, ele deve ser bom'... há uma parte da canção que ele não foi capaz de estabelecer oito compassos em tempo com o resto da pista, então a coisa toda se desfez. Assim, havia um grau de atrito no estúdio entre eu e o Larry. E não percebi isso no momento, mas Bono estava em pé no fundo à ponto de explodir por causa da minha atitude. Mas nós lutamos e finalmente chegamos em algo que funcionou parcialmente."
Edge tocando guitarra, porém, impressionou muito De Whalley. "A coisa grande, ampla, o eco, não estava lá naquele momento. Mas ele nunca tocou o acorde completo padrão que todos tocam. Desde o início ele estava fazendo acordes quebrados com cordas abertas, então essa parte de seu estilo estava lá desde o início."
Na noite de domingo, a equipe se reuniu novamente no Windmill Lane para a mixagem. "Estávamos tentando duramente, eu e o engenheiro Bill, fazê-los soar como o The Ruts, que estavam nas paradas na época fazendo registros pós-punk muito ritmicamente coerentes com um som de guitarra muito bem controlado. Isso é o que estávamos buscando. Mas o que eu não sabia era que o baixista, Adam, também opera em um sentido ligeiramente diferente do timing de praticamente qualquer outro músico. Assim, parte da confusão foi o fato de que Larry era ambicioso demais e Adam não tinha um senso de timing."
Só mais tarde, na madrugada, que Whalley viu que a confusão rítmica do U2 era realmente crucial para o seu som característico. Em uma entrevista com a banda 18 meses mais tarde na International Musician, Adam Clayton brincou com seu antigo produtor que "diferentes raças têm diferentes ritmos e a Irlanda sempre foi famosa por seu método de ritmo".
"Isso é parte do que os fez muito bem sucedidos e diferentes, porque em nenhum momento o U2 fez um registro estritamente ortodoxo", diz De Whalley. "Até os dias atuais, existem muito poucos de seus registros que soam como padrão AOR rock de estádio. Um dos motivos é este grau de incongruência entre os vários membros da banda."
As sessões do single foram decepcionantes para todos ao redor. "Eu me lembro de levar a fita master de volta para Londres, e mesmo quando eu entrei no avião eu estava pensando que a fita que eu tinha não era das melhores", lembra De Whalley. "A empresa não vai se empolgar com isso, eu sei que é ruim." A banda posteriormente remixou as três músicas para o lançamento. Elas foram tocadas no programa de rádio de Dave Fanning, que entrevistou os ouvintes a respeito de qual faixa deveria ser o Lado A. Foi algo inteligente, uma jogada populista, mas não conseguiu melhorar a estreia de vinil nitidamente abaixo do esperado.

Revista Uncut - Dezembro de 1999
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