Foi um festival emocionante. O público reagiu muito bem, porque não estava habituado a este tipo de concertos. E como havia todo o tipo de música, era como que ecumênico, misturava tudo.
No dia 31 de julho de 1982, na segunda edição do festival, a música começou ao som dos Heróis do Mar, Echo & The Bunnymen e The Stranglers, enquanto que no dia seguinte o concerto ao piano juntou, entre outros, a Orquestra Sinfônica e Vitorino de Almeida.
Naquela altura, o festival de Vilar de Mouros era um acontecimento internacional, pela qualidade e diversidade, mas acabou por se transformar num festival igual aos outros e por isso morreu.
Por entre convidados tão diferentes como Jafumega, grupos folclóricos ou os Pauliteiros de Miranda, atuou, no dia 03 de agosto, uma até então, desconhecida banda irlandesa.
"Foi uma aposta minha. Pedi conselho à várias pessoas, porque procurava uma banda internacional boa e barata. Dei a indicação para serem contratados pela Câmara de Caminha e foi um sucesso total", conta Victorino de Almeida.
A banda era nada mais, nada menos que o U2, e ainda hoje é a grande referência dos festivais de Vilar de Mouros. Para assistir aos concertos daquele dia, o público pagou 400 escudos, enquanto que a "assinatura" para todos os espetáculos ficava por 1.300 escudos.
Nos bastidores, as bandas conviviam, antes do tempo das limusinas e dos pedidos extravagantes, e o Dr. Barge dizia sempre antes do concerto: "loucura controlada."
"Achei estranho chegar lá e conhecer um rapaz de botas de motoqueiro e cabelo comprido que se chamava Bono", disse Reininho. O U2 ainda dava passos de bebê, com apenas dois álbuns nas contas e segundo um mito de Vilar de Mouros, foram pagos em cerveja. Mas na verdade, a banda recebeu 5 mil euros. "Na altura era tudo muito diferente, nós acabamos de tocar e eles queriam logo saber quem nós éramos, ficamos conversando um tempão", recorda Mário Barreiros, do Jafumega, banda de abertura do U2.
"Eles ficaram em pé atrás de nós, assistindo o nosso concerto", recorda-se Álvaro Marques, outro integrante do Jafumega. "E foram muito simpáticos! Antes de entrarmos no palco, vieram nos dar um abraço e dizer: que corra tudo bem!", complementou José Nogueira.
Naquela altura, o U2 era, como conta Luís Portugal, risonho: "não eram poderosos ainda... mas já tinham peso!".
Mário Barreiros contribui para as lembranças: "O U2 até perguntou ao nosso fã José Camilo "Quem é esta banda?". Logo para ele, que não sabia falar inglês, só francês...".
Ainda muito longe do status de gigantes da música mundial, os irlandeses não deixavam de ser os cabeças das apresentações, e este status fez Paul Mcguinness se sentir: "O empresário deles foi muito chato conosco", revelou José Nogueira. "Nos disse: toquem seu tempo, e nem mais um minuto." O público estava pedindo para nós tocarmos mais, mas ele correu com a gente para fora do palco".
A energia e força da atuação do U2 no Vilar de Mouros levou que o jornalista Carlos Marinho Falcão catalogasse a música dos irlandeses com um lirismo negro próximo do Heavy-Metal, mas também como uma banda imbatível no palco sendo que na altura apenas tinham dois discos editados.
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