Durante muito tempo, Daniela Mel foi uma superprofissional do show business: trabalhou como intérprete de banda e na produção dos maiores shows que já rolaram aqui no Brasil.
Ela já levou o Ian Anderson, do Jethro Tull, para jantar num restaurante japonês. Conversou sobre gurus indianos com o Robert Plant, e ensinou Bono a falar algumas palavras em português em 1998 e 2006. Ela conta sobre um momento descontraido com Bono: “Em 98, eu tinha gravado um disco de música infantil e queria dar de presente ao Bono. Perguntei se ele tinha filhos, e a resposta foi: ‘Por que? Você quer ter filhos comigo?’. Fiquei sem graça, mas devolvi a pergunta: ‘Agora?’”, recorda Daniela. O cantor se desculpou pela brincadeira, aceitou o disco e pediu para a locutora autografar, dedicando o CD para cada um dos seus filhos: duas meninas e dois meninos. “A única coisa que eu pensava era que não tinha nenhum amigo para me ver dando autógrafo para o Bono”. Em 2006, mais uma vez Daniela esteve com ele. Na época, ela pediu para o cantor tirar os óculos e mostrar os olhos azuis. Bono respondeu que não e a locutora ficou sem graça. “Em seguida, ele foi tirando os óculos devagar e mostrando os olhos”.
Um dos roqueiros que ficaram mais amigos de Daniela foi Axl Rose, que ela conheceu em 1993, quando ele ainda tinha mania de atirar cadeiras no hall de entrada do Maksoud Plaza. Dez anos depois, os dois se reencontraram e passaram horas na piscina de um outro hotel conversando sobre a vida. Mas nem tudo foram flores. Daniela contou que os garotinhos do N’Sync, além de cantarem com playback, só queriam aprender a falar baixarias em português. Ossos do ofício à parte, ela pode se gabar hoje de ter conhecido os Ramones, Stones, Paul McCartney, Sting. Enfim, uma constelação.
Depois disso, Daniela já fez um monte de outras coisas: trabalhou no rádio, na TV, escreveu contos e poemas picantes, fez um blog (http://aindabemqueeunaodei.zip.net).
Confira esta postagem do blog dela:
“I Still Haven`t Found What I`m Looking For”. Quando eu era adolescente, essa era a minha música. De uma eterna busca.
Certa vez gravei-a num estúdio, só voz e piano, numa versão acústica, de tanto que eu gostava dela.
Quando o U2 veio ao Brasil em 98, eu estava trabalhando na produção internacional, ralando muito, uma zona, às vezes até sendo maltratada pelos italianos que estavam produzindo o evento em parceria com o Franco Brunni (produtor do show no Brasil). Um dia, quando eu menos esperava, quando eu passava apressada pelos corredores da produção, veio para mim um gringo que eu nunca tinha visto antes e perguntou se eu poderia ajudá- lo, se eu tinha uns 10 minutinhos. Sim, lógico. Para que? Ele não respondeu, apenas me levou pelo braço, pelos corredores e camarins, e de repente, inacreditavelmente, estava ali, na minha frente, Bono. Como assiiim??? Meu coração disparou ao mesmo tempo que eu precisava aparentar calma, profissionalismo e tranqüilidade. O tal gringo era assistente pessoal do Bono e precisava de alguém para ensinar algumas poucas palavras em português para ele. Eeeeeuuu??? Lógico que sim!!!. Calma, calma, calma. Não era possível. O Bono sorriu, me deu um beijo, prazer, pediu 1 minuto que já voltava e perguntou se eu podia esperá-lo. Ele tinha que terminar de ensaiar com a bateria da Salgueiro, que entraria mais tarde no palco com eles para tocar em “Desire”. Eu, esperar o Bono? Como assim??? Assisti a o ensaio da bateria da Salgueiro com o Bono, Edge e Larry e o tal assistente. Era tão surreal eu estar ali, e não ter com quem dividir, para quem ligar...
Quando acabou o ensaio, o Bono sentou do meu lado num sofá e disse que queria aprender algumas coisas em português. Fora “E aí galera? Tudo bem?”, ele queria dizer algo diferente, ligado ao futebol. Então, como a Irlanda tinha sido desclassificada nas eliminatórias da Copa do Mundo daquele ano (98), ele pediu ”Por favor, ganhem a Copa pela Irlanda!!!” A galera delirou. Pena, aquele ano a gente perdeu na final para França...
Enquanto eu ensinava ele a falar, lembrei das minhas pirações de adolescente, quando encanei que o pai dos meus filhos tinha que ter olhos azuis, e quase surtei quando descobri que o Bono preenchia esse quesito, portanto era forte candidato. Essa minha lembrança durou 2 segundos, tempo suficiente para eu virar para ele do nada e pedir ”Can you take off your glasses, just for one moment?” Tipo, pedindo para ele tirar os óculos, aquele vemelho, só um minutinho...Para consumar meus delírios juvenis. Ele disse não, é lógico. Bem-feito para mim. Quem mandou você não se colocar no seu lugar, sua louca?, pensei. Meu, passaram mais 5 segundos e ele foi abaixando devagarzinho os óculos e sorrindo, mostrando que estava brincando comigo. Então eu vi seus olhos azuis. Lindos e azuis. Foram segundos que pareceram uma eternidade.
Continuamos com os ensinamentos por mais alguns minutos, e, antes de eu ir embora e voltar à minha função de produtora, fui dar um disco meu para ele, que eu tinha acabado de gravar, que por acaso, estava na minha bolsa/pochete. O disco era infantil, gravei com crianças de uma creche, se chama “O Sonho da Sereia”. Para não ficar ridícula a situação, perguntei na maior inocência se ele tinha filhos. Na hora ele respondeu: “Why, do you want to make some?” Mal sabe ele o que aquilo significava, que eu ia levar a sério...”Now?” Perguntei, meio que afirmando. Ele então beijou minha mão, pegou o disco e me fez autografá-lo em nome dos 3 filhos dele. Soletrou nome por nome. COMO ASSIIIIMMMM????? Eu, dando autógrafo pro Bono??? Fiquei feliz pro resto da vida. Cheguei a pensar que aquilo era um sonho e eu não queria acordar.
Eu ainda teria mais uma surpresa. Duas horas depois, quando o show começou, ele falou tudo o que eu ensinei em português durante a introdução de “I Still Haven`t Found What I`m Looking For” (aquele lance de "seus país é lindo, seu povo é lindo, suas vozes são lindas), a música que sempre foi a mais especial de todas pra mim, e ficava olhando pro lado do palco onde eu estava buscando aprovação, tipo vendo se a pronúncia estava certa. Foi lindo. Chorei que nem criança. Isso tudo foi no show do Rio. Nos reencontramos em São Paulo, novamente, novo show, novas palavras.
Foi o cara mais incrível que conheci, de todos eles. Fala baixo, olha nos seus olhos, é bem humorado, pede conselhos para garganta(gengibre), pede sua opinião sobre o U2 vir fazer shows menores por aqui, luta pela paz no mundo e ainda canta que é uma beleza. E tem olhos azuis...
Em um bate papo do UOL em 2006, ela disse: "acho o Bono um cara supertranquilo. Eu fui com eles juntos para o Morumbi nos shows da Vertigo. E cada um vai num carro diferente! E o Bono driblou todo o esquema de segurança e, ao chegar, foi falar com os fãs da primeira fila! Ele é um louco! Uma curiosidade: achei o cabelo do Bono horrível. Acho que ele fez um alisamento estranho. E o Edge tem um gorro que ele não tira nunca da cabeça."
VIDEO COM DANI MEL: