"O que foi realmente desafiador de descobrir foi como colocar esse show onde o U2 não parece ter vindo e se tornado os heróis que salvaram a cidade, porque não foi o caso"

Nenad Cicin-Sain é o diretor de 'Kiss The Future'.

Embora uma parte considerável do filme trate do U2 tentando lançar luz sobre a tragédia da época e amplificar as vozes daqueles que estavam sob pressão, o filme é ousado o suficiente para mostrar que a fama só pode mover as pessoas até certo ponto. Que o trabalho árduo para chegar a uma solução pacífica é feito através da perseverança, e só acontece depois de os opressores cometerem atos de tão grande horror que o mundo já não pode apenas observar enquanto os corpos se amontoam nas ruas.

O filme deixa seu momento mais comovente para o final. Um show do U2 em Sarajevo (o primeiro após a resolução para pôr fim ao conflito), que não é apenas edificante na apresentação daquele acontecimento extraordinário em 1997, mas torna-se algo muito mais, à medida que observamos os sobreviventes do cerco assistirem nos dias atuais, a filmagem do show. Os últimos cinco minutos deste filme quebram você ao meio.

Nenad Cicin-Sain conta: "O que foi realmente desafiador de descobrir foi como colocar esse show onde o U2 não parece ter vindo e se tornado os heróis que salvaram a cidade, porque não foi o caso. Tornou-se muito essencial focar em Mohammed Sacirbey, que foi uma grande inspiração para mim, o embaixador da Bósnia na ONU, que ajudou Bono a organizar o show. Foi ele quem disse que precisamos convidar os nossos inimigos, ou aqueles que consideramos nossos inimigos, para o show se quisessemos curar, e convidou sérvios e croatas e abriu o show para a região. Ele colocou um coral muçulmano e depois uma banda local de punk rock. É aí que o filme tem mais valor, para que a mensagem seja levada não apenas sobre como podemos chegar aqui, mas uma vez que chegamos aqui - que é com o que estamos lidando atualmente em muitos lugares do mundo - como será que emergimos disso e começamos a prosperar novamente como sociedade e não repetimos os erros que aconteceram antes".

Há dois momentos no filme muito notáveis. Um deles é Bono perdendo a voz, e quando isso acontece ele diz para a multidão "cantem para mim", o que é muito comovente. Mas o que realmente ocorreu naquele momento foi que enquanto cantavam para ajudá-lo, também cantavam para si mesmos e um para o outro.

Nenad Cicin-Sain: "Metaforicamente e praticamente, foi exatamente isso que aconteceu. Houve um acontecimento naquele show onde as pessoas puderam se sentir livres e uma das grandes expressões de liberdade é poder cantar e dançar e se expressar sem julgamento".