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segunda-feira, 23 de maio de 2022

U2 em duas passagens do livro 'Renato Russo — O Filho da Revolução'


O jornalista Carlos Marcelo levou nove anos de pesquisas até chegar ao livro 'Renato Russo — O Filho da Revolução', lançado em 2009. O livro acompanha a passagem de Renato Manfredini Junior de adolescente introspectivo a líder da Legião Urbana, que se tornaria a maior banda do rock brasileiro.
A  narrativa, portanto, se passa principalmente entre os anos 1970, numa Brasília que vivia sob a ditadura militar e os 1980. Para produzi-lo, Carlos Marcelo realizou mais de 100 entrevistas e conseguiu reunir material inédito e precioso.
No começo dos anos 1980 com o Aborto Elétrico (que trazia na formação os irmãos Flávio e Fê Lemos, que mais tarde formariam o Capital Inicial), o livro conta: 

"Há o problema da substituição de André Pretorius, Renato e Fê testam alguns candidatos, mas ninguém os entusiasma.
Os dois lembram um dia, quando André estava no Brasil, em que Renato, que queria cantar e não conseguia tocar baixo ao mesmo tempo, pediu para Flávio pegar o instrumento:
— Flávio, toca aqui.
Flávio tocou. Somente duas notas - fácil e divertido. Achou o máximo. Fê lembra aquele ensaio e sugere a entrada do irmão na banda. Renato, que teria de mudar de instrumento, gosta da ideia. Fala para Flávio:
— Vai lá em casa que eu vou te passar algumas músicas.
Renato o ensina a tocar. E ainda empresta o instrumento.
— Leva meu baixo para sua casa para você ir treinando.
Flávio leva o convite a sério. Passa horas no Lago Norte ensaiando as músicas do repertório do Aborto. Instrumento na mão, sai andando pela casa. Chega a levar o contrabaixo ao banheiro para não interromper o aprendizado. A capacidade de concentração de Flávio não surpreende. Na Inglaterra, ele enfrentara o frio para grudar os olhos no telescópio e observar asteroides e estrelas. Gostava muito de astronomia, e queria cursar física na UnB.
Sempre antecedidos por um baseado, os ensaios do Aborto com o novo integrante enchem de ruído as quietas tardes do Lago Norte, acostumadas com os sons dos grilos, sapos e pássaros. Os vizinhos da casa ao lado pedem:
— Por favor, parem com esse barulho!
Pedido ignorado. Nessa época, a amizade de Fê e Renato ganha corpo. Estão sempre juntos, ensaiando, ou disputando o primeiro disco do U2 nas prateleiras da Discodil e da Discoteca 2001, ou batendo papo na Cultura Inglesa. Às vezes, não percebem o tempo passar e ficam pendurados no telefone, inclusive na hora das refeições, para contrariedade de Lúcia, mãe de Fê. A irmã mais nova, Helena, observa a diferença de comportamento do irmão:
— Primeiro foi o André Mueller. Agora ele não desgruda do Renato."

Nas gravações do primeiro disco da Legião Urbana, o livro conta:

"Para a EMI, lançar bandas de rock é um negócio incerto, mas potencilamente lucrativo: como a companhia possui estúdio e os artistas tocam os próprios instrumentos, não há gastos com a contratação de músicos.
Renovação sem custos exorbitantes. A Legião grava uma nova demo. A produção é do carioca Rick Ferreira, guitarrista que tinha trabalhado com Raul Seixas, seu amigo de infância. Não funciona. Renato se queixa com o diretor-artístico da EMI, Jorge Davidson:
-Pô, tio, a gente fala de uma sonoridade e ele não entende. Ele não conhece nem U2.
Rick Ferreira, autor do solo de canções marcantes de Raul como "Quando Acabar O Maluco Sou Eu", também reclama:
- Os caras não sabem tocar!
Tensão, frustração, impasse. A banda entende que a EMI deseja suavizar a sonoridade do grupo, com uso acentuado de violões, em modelo padronizado pela indústria fonográfica dos Estados Unidos. Na opinião de Dado, eles querem menos Talking Heads, mais Bob Seger.
Bonfá se iriita:
- Meu negócio é banda inglesa, não gosto do som americano! Esses produtores têm ideias demais e aqui não cabe nenhuma!
Decidem voltar para Brasília."
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