Há trinta anos, o sucesso selvagem de 'The Joshua Tree' transformou o U2 na maior banda do planeta. Hits nas rádios como "With Or Without You", "I Still Haven't Found What I'm Looking For" e "Where The Streets Have No Name" catapultou a banda das arenas fechadas para estádios ao ar livre e os fez conhecer Frank Sinatra, aparecer na capa da revista Time e dividir o palco com Bob Dylan, Bruce Springsteen e B.B. King. "Certamente olhando para trás na turnê naquele momento, deve ter sido uma oportunidade extraordinária, libertadora e alegre", diz o baixista Adam Clayton. "Mas foi realmente muito difícil tentar entregar aquelas canções sob a pressão de crescer de uma banda de arena, para uma banda de estádios. Eu, pessoalmente, não me lembro de gostar muito."
Provavelmente ele vai se divertir mais este verão quando o U2 retomar a 'The Joshua Tree Tour' 30 anos depois celebrando uma vitória. "Acho que esta turnê no verão é quase uma oportunidade de reviver aquilo", ele diz, "e olhar para aquelas canções e olhar para o que estava acontecendo e ver onde estamos agora." A Rolling Stone falou com Adam Clayton sobre o impulso para a turnê, como o show será estruturado, se os fãs podem esperar ouvir raridades e o que está acontecendo com o álbum 'Songs Of Experience'.
Eu sei que a turnê iNNOCENCE + eXPERIENCE foi originalmente prevista para retornar em 2016. O que aconteceu?
Bem, a ideia era realmente que queríamos ter certeza de que estávamos voltados para o álbum 'Songs Of Experience'. Quando terminamos a parte iNNOCENCE da turnê e fizemos um círculo completo para nos concentrarmos no álbum, ficou claro que não seríamos capazes de poder lançar o lado eXPERIENCE do material rapidamente para continuar com a turnê. O desafio era: "Ok, vamos ter de olhar para isto de forma diferente." Também, durante aquele ano, alguns tipo de movimentos estranhos políticos pareciam começar a acontecer. Primeiro de tudo, houve o Brexit no Reino Unido, que era apenas um sinal de que as coisas estavam mudando. Não sei como as pessoas viram isso. Então, muito rapidamente na parte de trás do mesmo, foi o aumento do Trumpismo. E foi como: "Oh, certo, há algo acontecendo aqui. Talvez há algo que perdemos e precisamos começar a ver isto". Esse tipo de coisa nos deu coragem de ficarmos longe de tentar terminar o registro muito rapidamente sem sermos capazes de considerar algumas das coisas que aquilo estava nos dizendo.
Acho que é interessante ser capaz de voltar para o disco 'The Joshua Tree', porque quando lançamos esse registro e quando estávamos trabalhando nele, era um mundo sombrio em termos de América e Reino Unido. Você tinha o governo Thatcherismo no Reino Unido que estava tentando destruir o negócio de mineração de carvão e configurar um tipo diferente de economia no Reino Unido. Nos Estados Unidos tinha o Reaganomics e o tipo de poder imperial, inserindo-se na política centro-americana e algumas ações muito ruins acontecendo com dinheiros de drogas financiando armas para a guerra. Isso foi um cenário interessante, mas... olhando para trás 30 anos, a história que mais me diz algo é o quanto eu mudei e o quanto eu preciso olhar para bons valores liberais, e como o mundo está realmente olhando para isso e o que eu posso aceitar das notícias e o que mais quero dos políticos agora de alguém que seja menos provável em estar de pé na barricada. Sou totalmente a favor de novos artistas, chegando até a ser as pessoas que fazem muito barulho, mas estou feliz por ainda ser uma parte do movimento.
Eu sei que a primeira ideia foi em fazer um show americano e um na Europa de 'The Joshua Tree'. Como que cresceu para uma turnê completa?
Bem, uma das primeiras ideias foi que talvez, porque a turnê de eXPERIENCE quando voltarmos com ela será de shows em lugares fechados que está focada na produção que foi pioneira na turnê de iNNOCENCE, iria tomar mais tempo para ser levada adiante devido à produção. Mas nós pensamos: "bem, talvez em honra ao 'The Joshua Tree', podemos voltar a fazer shows em lugares abertos que são muito mais enraizados sobre o que foi aquela experiência." Isso é porque quando fizemos a turnê original 'The Joshua Tree Tour', algumas coisas interessantes aconteceram. Ela foi uma turnê que começou em arenas e no decorrer do ano com o progresso do álbum, já que foi nos tempos muito antigos onde quando você lançava um álbum, ele vendia e havia o boca a boca e ele ficava maior e eventualmente chegava ao número 1 nas paradas e todos ficavam conhecendo ele. Quando isso aconteceu, fomos obrigados a sair dos shows de arenas, para estádios, e isso foi um enorme, enorme passo para um bando de rapazes irlandeses quem tinham 25, 26 anos e tinham acabado de ter colocada em suas costas essa coisa chamada U2 e nossa jornada tinha cinco, seis, sete anos, uma peregrinação de várias maneiras.
Quando fomos tocar ao ar livre nos estádios, não tínhamos nenhum truque. Não sabíamos como fazer aquilo. Nós não tivemos o reforço do telão de vídeo, que estava acontecendo já naquele momento. Pensamos que, de certa forma, diluiria a música. Tivemos uma fervorosa crença de que a música era absolutamente adequada e grande o suficiente para encher um estádio, então realmente foi um desafio para nós. Também significava que todas as noites, Bono tinha que realmente se colocar lá fora para tentar se conectar com as pessoas. De certa forma, isso era uma tarefa ingrata. Você não pode vencer em um estádio. Não importa o quão boas sejam as canções, você é ainda apenas um pontinho no palco e você está ainda dependente do sistema de PA. Isso foi muito frustrante.
Conversei com The Edge há algumas semanas. Ele não tinha certeza se o show iria começar com "Where The Streets Have No Name" e entrar direto com o álbum. Como você vê isso acontecendo?
Nós realmente não nos sentamos e trabalhamos a dinâmica ainda, mas eu acredito que ela seria como a coroa do show. Acho que definitivamente queremos abrir com algo que talvez não seja muito diferente do que fizemos com a turnê de 'Songs Of Innocence' [onde tocávamos nossas primeiras canções da década de 1980] e fazer as pessoas gostarem desta coisa que está vindo e dar algum sentido de história, de onde veio. Então vai ser uma mudança de cena. Este é o meu palpite. Não saberemos até começarmos a tocar o material em torno disto. Vamos começar com "Where The Streets Have No Name", ou terminar com ela, eu poderia pensar, mas vai haver uma mudança de cena. Se vamos ou não tocar completamente na sequência do disco, ainda temos de trabalhar nisso. Mas acho que vai ser o começo da jornada musical tradicional que nós sempre nos referimos naquele período onde as músicas nos levava através de uma versão da América que certamente parecia verdadeira e possível naquela época. Em muitos aspectos, talvez tenha sido o fim do período do pensamento da América como saudável e benevolente. Realmente, as coisas mudaram um pouco sobre esse ponto. Vai ser difícil ver como o país retorna para onde ele gostaria de estar.
Imagino um desafio em tocar em sequência as quatro canções mais famosas que são as quatro primeiras. Então há sete outras que são menos conhecidas para um público em geral. Tocar todas elas em uma linha reta pode ser um desafio em um estádio. Você se preocupa com isso?
Hum... Acho que temos realmente que esperar e ver. Acho que qualquer um que estará indo para os shows conhece este disco muito bem. O que precisamos descobrir é se é um conjunto de canções [e] com nossos novos conhecimentos de 30 anos, se nós poderíamos dar um respiro de vida nelas de uma maneira diferente, ou se nós meio que combinamos elas juntamente com algumas outras músicas que estão tematicamente em consonância com aquelas. Mais uma vez, quem me dera eu ter mais certeza sobre isso, mas ainda estamos longe. Temos a aspiração, mas nós ainda não descobrimos como isso vai acontecer. Mas isso vai acontecer e sempre estamos ao redor brincando e experimentando até que fique legal.
Os fãs estão super empolgados para ouvirem "Exit", "Red Hill Mining Town" e "Trip Through Your Wires". Essas são músicas que não foram tocadas em 30 anos, ou em uns casos poucas vezes.
"Trip Through Your Wires". Eu acho que nós éramos muito bons tocando durante a turnê original de The Joshua Tree. Eu acho que "In God's Country" estava naquele set, mas "Red Hill Mining Town" nunca foi tocada ao vivo durante esse período. Ele caiu naquele mal estar de mid-tempo e acho que agora podemos descobrir maneiras de contornar isso.
Você podem tocar músicas de 'Songs Of Experience' durante esta turnê?
Seria um desejo muito grande meu que pudéssemos tocar algo de 'Songs Of Experience' como parte do show, talvez uma ou duas músicas. Novamente, aviso que realmente temos mesmo que ver o arco deste show e temos que descobrir se essas canções de 'Songs Of Experience' iriam funcionar bem em um estádio neste contexto, mas eu adoraria ver algo desse material na estrada e as pessoas se familiarizando com ele, antes do álbum ser lançado.