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sexta-feira, 11 de setembro de 2015
O tema da crise dos refugiados na Europa na turnê iNNOCENCE + eXPERIENCE
The Most Beautiful Sounds - Refections On U2's I+E Tour
Do blog de Tim Neufeld: www.timneufeld.blogs.com
Na primeira perna da turnê iNNOCENCE + eXPERIENCE, o U2 tinha diversos temas americanos em seus shows, e que certamente eles não iriam manter para a parte européia:
"Eu tenho minhas mãos para o alto. Eu me rendo. Não atire. Eu não posso respirar. "(Referências a violência racial em Ferguson, Baltimore, Charleston e Nova York.)
"Todo lugar está se tornando a América", e correndo "para os braços de América" no final de "Bullet The Blue Sky".
"A América não é apenas um país. É uma ideia ", juntamente com uma saudação a Martin Luther King durante " Pride (In The Name Of Love) ".
Estes sentimentos não pareciam se encaixar com a parte europeia, então, se imaginava que a crise do Euro, combinada com a agitação pesada devido as medidas de austeridade na Grécia, faria um tema relevante no lugar de toda a linguagem ideológica sobre os Estados Unidos.
Mas então o mundo se tornou ciente de algo que muita gente não estava prestando atenção. Centenas de milhares de pessoas tinham fugido para a Europa à partir de áreas desabitadas e devastadas pela guerra do Afeganistão, Síria e norte da África. E quando os 2000 viajantes ficaram presos em uma estação de trem de Budapeste sem nenhum lugar para ir, a mídia tomou nota e começou a documentar a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.
Durante a crise e especificamente nos últimos meses, houve inúmeras vítimas com pessoas fazendo o seu caminho para a segurança na Europa central. Mas... novamente, a viagem através do Mediterrâneo, uma rota comum e direta para a Grécia, Itália e Espanha, terminou em uma morte horrível. Um barco de pesca superlotado com 800 pessoas naufragou em abril, matando quase todos a bordo. A história é injusta e muito comum agora. Corpos continuam a aparecer afogados nas margens da Europa (como esquecer a foto do pequeno Aylan deitado sozinho às margens de uma praia turca), vítimas de um mar selvagem, traficantes sem escrúpulos e falhas do governo.
Com determinada paixão, o U2 pegou a questão, focando a atenção sobre a crise global e chamando os líderes europeus para colaborarem em um esforço de ajuda. Isto é visto mais profundamente, como a banda mais uma vez reinventa não uma, ou duas, mas três de suas conhecidas canções. Mestres de reapropriação, o U2 frequentemente pega velhas canções e lhes dá um novo significado através de uma cuidadosa reflexão sobre questões contemporâneas. "Sunday Bloody Sunday" consistentemente tem sido reinterpretada ao longo do curso de três décadas.
Com essa perna européia, a nova adaptação de "Bullet The Blue Sky", "Zooropa" e "Where The Streets Have No Name" é de tirar o fôlego.
Quando Bono termina "Bullet", ele abandona o tema sobre a América e agora fala como um refugiado. "Eu corro, corro, para seus braços, para seus braços. Eu não sou perigoso. Estou em perigo", ele se declara com a União Europeia. Então, na nova transição, Bono canta na voz de um viajante cansado, "e eu não tenho uma bússola e eu não tenho nenhum mapa e eu tenho motivos, não há razões para voltar." Ao fazer isso, a canção de 20 anos atrás, "Zooropa", torna-se um comentário alarmante e comovente sobre a crise. "O que você quer?", ele indaga retoricamente. "Um lugar chamado casa" é a resposta. A voz do refugiado continua com uma melodia mais antiga, cantando "Eu quero correr, eu quero me esconder, eu quero derrubar as paredes que me seguram lá dentro." "Streets", uma canção que é um prenúncio do mundo que virá, e que também recorda o desespero de outra crise de refugiados nos anos 80, quando Bono e sua esposa Ali presenciaram as ondas de vítimas da fome na Etiópia. De uma forma estranhamente surreal, a canção encontra novamente um lar apropriado nesta turnê.
"Where The Streets Have No Name" tinha uma certa felicidade na primeira perna. Agora é um lembrete solene de uma catástrofe humanitária que não se pode ignorar.
Em "Bullet The Blue Sky", várias coisas acontecem. Há uma imagem atribuída à Banksy, uma artista britânico, exibindo a bandeira da União Europeia. Mas não são estrelas normais. Se você olhar de perto, você verá que cada estrela é uma representação gráfica de um corpo humano sem vida flutuando no mar Mediterrâneo, uma alma pobre, genérica, que só queria emprego e liberdade para sua família.
Como Bono grita, "disparos no azul..... disparos no azul!" (originalmente a intenção foi de refletir sobre tiros na América Central), a referência é dirigida não para o céu, mas para a violência e a morte nas profundas e selvagens águas do mar Mediterrâneo.
Na ponte da canção que segue, Bono canta Beethoven, a Nona Sinfonia, "Ode To Joy" e o contraste irônico com a cena da morte, mas também um claro aceno para a Alemanha, um dos únicos países na Europa oferecendo ajuda exemplar para os refugiados. Muitos países têm virado as costas e fechado suas fronteiras, mas não a Alemanha. É também um momento auto-referencial da abertura da turnê Zoo TV, quando Bono pisava no palco, e no telão mostrava as estrelas caindo da bandeira da União Européia.
"Bullet" não é só uma canção sobre a América Central e os camponeses fugindo e correndo para se esconder. Agora é sobre o último suspiro de um refugiado exausto que merece mais do que a violência de uma pátria desesperada, e as promessas vazias de um traficante, assegurando uma passagem segura.
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