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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A história das duas capas de 'Boy' do U2


Houve um tempo em que reconhecer o garoto na capa de discos do U2, identificava o nível de fanatismo pela banda.
Quem respondia "o garoto de 'War'" eram fãs nível MTV. Quem dizia "Eu não sei, o garotinho da série Family Ties" deveria ter no máximo o álbum 'The Joshua Tree' em fita cassete.
E então havia aqueles fãs do nível: "É a capa original de 'Boy'. Peguei como uma importação antes da gravadora americana da banda mudar a capa."
A capa americana era uma foto de alto contraste dos quatro membros da banda, esticados e amontoados. Nada na capa faz sentido. Não refletia a música e nem o título.
Os membros do U2 eram apenas garotos de 18 e 19 anos de idade, quando entraram em estúdio para gravarem o disco 'Boy'.
Bono no livro U2 BY U2, falou sobre como eles levaram essa juventude para o disco:

"Eu e Guggi, quando garotos, fizemos uma promessa de que nunca iríamos crescer. Não queríamos ser como os adultos, o que é algo bastante comum na infância. Mas nós estávamos falando sério e, de certa forma, conseguimos cumprir a promessa. Muitas vezes conseguimos ser muito fortes para fazer coisas que nunca imaginávamos ser capazes. Na época, eu devia pensar que podíamos perder algumas coisas das nossas qualidades e o primeiro álbum era uma forma de reivindicar o poder dessa ingenuidade."

A capa da edição normal do disco é creditada à Steve Averill, com foto por Hugo McGuiness. Mas no livro, Bono reivindica o conceito:

"Sabia exatamente como deveria ser a capa, a cara de uma criança num fundo branco, como fotografia antes de estar completamente revelada, o que é uma excelente metáfora. Achei que este era um assunto que nunca tinha sido explorado por ninguém ligado ao rock - o fim da angústia de adolescente, o caráter elusivo de se ser um homem, a sexualidade, a espiritualidade, a amizade."

Quando a turnê de 'Boy' foi para Boston, a banda acabou se destacando e sendo as estrelas da noite. Eles foram a banda de abertura, e após a apresentação, o público presente deixou o local, fazendo com que a banda principal da noite tocasse em um lugar bem esvaziado.
Quando chegaram em São Francisco, descobriram que a comunidade gay tinha abraçado o álbum, como Bono explica:

"Esse álbum teve enorme aceitação por parte do público homossexual. Na época, não me dei conta, mas agora olho para trás e vejo que está repleto de erotismo homossexual: In the shadows, boy meets man.... (na sombra o rapaz encontra o homem). Tentei apenas uma aproximação temática e uma visão do momento do nosso desenvolvimento, voltando à metáfora da fotografia. É o U2 em desenvolvimento."

Também em São Francisco, a banda fez outra descoberta. Larry Mullen diz:

"Em São Francisco, havia um jornalista ativista homossexual, que trabalhava para uma revista chamada Mother Goose, e ele era um grande fã do U2. Acho que foi ele que mencionou que muitas pessoas da comunidade homossexual acreditavam que o garoto na capa do álbum tinha uma conotação homossexual e, além disso, pensavam que o garoto era eu. Por isso, quando fomos para São Francisco, houve uma certa polêmica em torno de mim, o que me irritou profundamente. Foi complicado me sentir à vontade com aquele tipo de atenção. A minha primeira reação foi ficar puto da vida. Eu estava sendo descrito como um ícone homossexual. “Mas o que é isso?” Até que acordei e pensei: “Mas isso é fantástico. Sinto-me lisonjeado.”

Crianças e sexualidade (particularmente a homossexualidade) eram um tema quente no ciclo de notícias na época. Alguns pensavam que os homossexuais eram pedófilos, um estereótipo malicioso perpetuado pelo movimento anti-gay de 1977 "Save Our Children" de Anita Bryant. Graças a lei das conseqüências não intencionais, os esforços de Bryant para derrubar leis impedindo a discriminação contra os gays deram origem a NAMBLA, uma organização fundada em 1978 com o objetivo de acabar com "a opressão extrema de homens e rapazes em relacionamentos mutuamente consensuais."
Então em 1980, uma capa de um álbum, apresentando um garoto com o peito nu e contendo canções como "Stories For Boys" fez a gravadora do U2 nos EUA mudar a capa original.
Adam Clayton relembra a história:

"Houve uma controvérsia sobre a capa do álbum na América. Eu não sabia o que a palavra 'pedófilo' significava. Provavelmente foi a primeira vez que ouvi. E não entendia o conceito de homo-erotismo para aquilo. Foi explicado para mim que havia gente que gostava de fazer sexo com crianças, e que as imagens de Peter Rowen (irmão do Guggi) na capa poderiam ser interpretadas como algo sexual. Então, obviamente, quando pessoas colocam desta forma, parecia algo justo de se fazer. Então nós mudamos a capa para uma foto estranhamente abstrata de nós, colocada através de uma fotocopiadora e esticada."

A foto original não foi completamente abandonada para esta versão, e acabou sendo colocada no encarte do álbum.
Rowen novamente sem camisa, foi colocado em 1983 na capa de 'War', desta vez sem nenhuma polêmica ou controvérsia. E quando 'Boy' foi re-lançado em 2008 nos EUA, a capa original foi restaurada.

Agradecimento: James Stafford - www.diffuser.fm
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