Com a palavra, The Edge: "Parece impossível contemplar uma existência fora da música, mas honestamente eu não sei se me tornaria um músico profissional se o U2 não tivesse me feito acreditar que isso seria possível. Nós estivemos juntos durante toda nossa vida adulta, o que demonstra um incrível nível de comprometimento e solidariedade entre 4 pessoas que decidiram formar uma banda em 1976. Todas as razões que justificavam a idéia, naquela época, ainda permanecem verdadeiras. Nós ainda podemos fazer ótima música juntos, fazer surgir idéias originais e fazer shows emocionantes, empolgantes, espirituais, lidando com a possibilidade que tudo pode acontecer.
Num certo nível, o U2 é uma banda muito disfuncional. Nós nos tornamos a banda que somos porque nós não éramos músicos capacitados. Não éramos capazes de tocar músicas de outros artistas, então tínhamos que criar as nossas. Essa deficiência musical ainda nos ronda. Às vezes quando nós estamos nos preparando para viajar para tocar eu ouço nossos discos antigos e coço a cabeça, imaginando "o que eu toquei aqui? Está meio estranho, como eu fiz aquilo?" De qualquer maneira, fomos guiados a transformar o nosso ponto fraco em um ponto forte. Nós podemos não ser a banda mais talentosa da história do rock & roll, mas acho que estamos entre as mais originais.
A química das personalidades é um grande fator. Bono tem um impulso irreprimível de ser grande, de cobiçar a vida. Ele quer experimentar de tudo, o que faz dele muito vulnerável. Às vezes eu me preocupo que a mídia tenha criado um mito sobre quem ele é e no que ele se apóia. Espero que esse "hype" não impeça as pessoas de perceberem que ele é apenas um homem que está tentando se encontrar. É parte da luta de todos descobrir o que eles estão fazendo e para onde eles querem ir. O U2 escreve músicas sobre a luta, mas nós mesmos somos tão confusos quanto qualquer outra pessoa.
Eu sou guiado por caminhos diferentes dos de Bono. Eu tenho uma curiosidade que me convence a querer encontrar caminhos de fazer música nova e eu tenho o foco para manter seguindo até realizar nossas metas. Eu e Bono juntos anulamos a determinação, concentração e energia um do outro.
Adam e Larry são os contrapontos de Bono e eu. Adam tem uma alma incrível, a consciência improvável da banda. No começo, quando nós 3 estávamos no fervor de nosso Cristianismo, Adam era, de fato, o mais cristão em sua tolerância e humanidade. De algum modo, por ele não precisar se preocupar muito com a música ou as letras, ele tem uma liberdade para contribuir com elementos que você nunca pensaria, liberdade para inserir alguma coisa que estava fora de discussão. Ele é, naturalmente, nosso "avant-garde". Larry é uma pessoa prática, séria e profundamente cautelosa que sempre puxa a rédea quando nós nos empolgamos demais. Ele está sempre lá para manter o barco firme quando ele está indo em direção às pedras, enquanto eu tenho meu telescópio apontado para outra direção ou quando Bono está fora da torre e Adam está perdendo tempo na cabine do comandante.
Nós crescemos juntos. Nós aprendemos a tocar músicas juntos. Em muitos aspectos a maneira como nós pensamos é quase telepática. Quando Bono está cantando, eu sinto aonde ele quer chegar através dos acordes. Mesmo quando estou compondo sozinho, ouço a voz dele conforme as idéias vão surgindo. Mas a coisa mais interessante é quando aquelas músicas passam para o próximo estágio e Adam e Larry aparecem e tocam conosco - toda uma nova evolução surge. Eu acho que, no final, é isso que fortalece a banda, quando você é capaz de tirar proveito de 4 diferentes perspectivas. É algo tão magnífico que nenhum de nós poderia alcançar sozinhos."